Estudo avaliado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) aponta a importância da discussão sobre propostas e melhorias na atenção oncológica do país
O câncer está entre as principais preocupações na área da saúde no mundo todo. Apenas no Brasil, são estimados 600 mil novos casos e 200 mil mortes a cada ano. Por conta da sua complexidade, abrangência e diversidade, a doença é considerada um grande desafio pelos profissionais da saúde e pelo poder público. Para quem enfrenta o câncer, o cenário também não é nada fácil, por causa do impacto negativo da notícia, o estigma que envolve a doença, a falta de conhecimento, as dificuldades de acesso ao tratamento, entre outras coisas.
Diante disso, o levantamento “Câncer no Brasil: a jornada do paciente no Sistema de Saúde e seus impactos sociais e financeiros” foi feito para investigar o panorama de tratamento oncológico no país, tanto no sistema público como na saúde suplementar (planos de saúde). O estudo, que contou com a avaliação técnica da SBOC, teve o propósito de identificar os principais desafios encontrados ao longo da jornada do paciente com câncer.
Quando considerado o investimento no combate ao câncer feito em 2017, o Brasil apresentou os piores indicadores se comparado aos seus principais pares da América Latina. Além disso, o paciente oncológico brasileiro perde quase o dobro de anos de “vida saudável” (2,4 vezes) quando comparado a alguns países da Europa e, praticamente o triplo de anos de vida em comparação a um paciente com câncer nos Estados Unidos. “O Brasil possui grandes deficiências no diagnóstico e tratamento de câncer, que afetam diretamente tanto a possibilidade de cura quanto a qualidade de vida dos pacientes”, lamenta Dra. Clarissa Mathias, Presidente da SBOC.
A pesquisa revela ainda que os maiores gargalos do tratamento no país estão na desigualdade entre os recursos terapêuticos de cada região e, ainda mais grave, nas significativas diferenças entre os atendimentos nos sistemas público e privado. O maior obstáculo do paciente que depende do SUS (cerca de 70% dos brasileiros) está na etapa anterior ao tratamento, ou seja, antes de chegar aos centros de referência especializados. “Quanto maior o atraso do diagnóstico e encaminhamento, mais avançado é o câncer e maiores são os impactos sociais e financeiros relacionados a ele. A falta de recursos e o desequilíbrio no acesso à rede assistencial também agravam o problema”, aponta Dra. Clarissa.
Além de todos os problemas sistêmicos, o estudo também analisou o impacto global da doença, em aspectos sociais e financeiros. A pesquisa listou os gastos diretos com o câncer, como medicamentos, hospitalizações e cirurgias, além dos custos indiretos, como morte prematura, absenteísmo e aposentadoria por invalidez. O custo direto foi estimado em R$ 4,5 bilhões no SUS, já na saúde suplementar, as despesas chegaram a R$ 14,5 bilhões em 2017.
No SUS, o paciente encontra problemas como falta de padronização no rastreamento para alguns tipos de câncer, dificuldade de acesso a exames preventivos e agenda de consultas, demora para obter os resultados dos exames de estadiamento, restrição de acesso a medicamentos e a exames complementares. Enquanto isso, no sistema privado os pacientes até têm agilidade no encaminhamento, mas podem se deparar com a negativa ou acesso dificultado aos testes que estão no Rol da ANS – o Rol garante o direito de cobertura assistencial dos beneficiários dos planos de saúde – além da demora para atualização de terapias e incorporação de tratamentos mais modernos.
Em relação aos custos sociais, os pacientes enfrentam incertezas e receios desde o diagnóstico e, até mesmo depois do fim do tratamento, sofrem para reorganizar a vida e se reinserir no mercado de trabalho. “Para melhorar essa realidade, é necessário um aperfeiçoamento do sistema de saúde que depende da atuação abrangente de todos os agentes envolvidos: governo, profissionais de saúde, pacientes, gestores, pesquisadores e indústria. Os esforços devem abranger pilares como agilizar o diagnóstico, oferecer acesso integral ao tratamento e disseminar informações corretas sobre prevenção para empoderar a sociedade civil”, pontua Dra. Clarissa.
A América Latina pode vivenciar um aumento de mais de 90% em novos casos de câncer até 2035, devido a fatores como o envelhecimento e o crescimento da população, segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC). Por isso, o levantamento é muito valioso, pois permite enxergar a importância da discussão sobre a atenção oncológica no Brasil, a fim de nos preparamos para os próximos anos. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica defende que melhorar a gestão dos recursos, destinar verbas para o tratamento e modernizar infraestrutura é um movimento essencial para reduzir também custos sociais, além de promover qualidade de vida digna aos pacientes com câncer.
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Na última sexta-feira, 22 de novembro, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) participou da última reunião deste ano do Conselho Deliberativo da Associação Médica Brasileira (AMB). O encontro foi realizado no Órion Business & Health Complex, em Goiânia – GO e contou com representantes das Federadas da AMB. Dra. Maria de Fátima Gauí e Dr. Roberto Ferreira Filho representaram a SBOC na reunião.
Na parte da manhã, os participantes fizeram relatos sobre a atuação das entidades e apresentaram propostas para a AMB. A SBOC sugeriu mudanças no currículo do curso de medicina para que a disciplina de Oncologia Clínica passe a ser obrigatória. Dra. Maria de Fátima pediu o apoio da AMB junto ao MEC para reavaliar o currículo médico. “Precisamos priorizar a disciplina de Oncologia dentro da universidade. A neoplasia vem crescendo cada vez mais, não só a incidência como o número de sobrevida, e não temos observado o acompanhamento do currículo médico para atender essa demanda. Atualmente, temos 345 universidades com o curso de medicina e apenas 40% delas têm a disciplina de Oncologia, sendo que em 10% dos casos ela é optativa, não é nem obrigatória”, explanou a diretora da SBOC.
O presidente da AMB, Dr. Lincoln Ferreira, ratificou a importância da sugestão feita pela SBOC. “Essa questão levantada com toda procedência e com todo conhecimento se deve, principalmente, à falta de corpo docente qualificado nas universidades médicas. Portanto, vocês têm o nosso apoio integral. Está prevista uma comissão para estabelecermos as notas curriculares e os pontos necessários para o funcionamentos de escolas médicas de qualidade no país”.
Na pauta da reunião ainda foram discutidos assuntos de muita relevância para as Sociedades de Especialidade, como os resultados e problemas do Programa REVALIDA e o Projeto de Lei PL2035/2019 que prevê a inserção da AMB na Câmara da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC).
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica defende benefícios da modernização da medicina e alerta para cuidados necessários para garantir o melhor auxílio aos pacientes
Hoje o Brasil tem um oncologista clínico a cada 170 pacientes com câncer, uma quantidade adequada, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema está na distribuição dos especialistas no território nacional. Enquanto São Paulo tem mais de mil oncologistas, Roraima, por exemplo, tem apenas cinco.
Em um cenário de déficit orçamentário, o desafio de garantir acesso e qualidade ao atendimento médico em regiões remotas é ainda maior. Quando o sistema de atenção primária é bem estruturado, profissionais generalistas são aptos a intervir em fatores de risco para o câncer e a realizar prevenção secundária, solicitando os exames de rastreamento adequados.
A falta dessa estrutura adequada atrelada à falta de oncologistas abre espaço para que novas tecnologias possam ser usadas em prol dos pacientes. É o caso da telemedicina. “Muitas vezes não há um oncologista na região do paciente para o qual o clínico geral possa encaminhar e isso gera novos problemas além do diagnóstico: esses pacientes precisam se deslocar para centros maiores, perder dias de trabalho e gastar dinheiro com transporte e hospedagem. Dificuldades que a tecnologia pode nos ajudar a evitar, ao permitir a orientação adequada para o estabelecimento do diagnóstico e mesmo para medidas gerais de cuidados a esses pacientes”, defende Dr. Rafael Kaliks, oncologista da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Hoje já é possível realizar consultas via videoconferência, análise de laudos e acompanhamento de pacientes internados em UTI à distância. Essa assistência médica à distância é chamada de telemedicina. Para o Dr. Kaliks, a sua aplicabilidade imediata é maior no setor público do que no privado, pois a carência de atendimento por especialistas é maior. “A telemedicina pode transformar a vida de pacientes ao possibilitar atendimento especializado onde antes não existia. Por isso, dizemos que ela não é um contraponto à consulta tradicional, mas um recurso adicional para aproximar oncologistas dos pacientes e do corpo clínico local”, explica.
Assim como na medicina tradicional, um tratamento de qualidade à distância exige infraestrutura adequada e profissionais qualificados. A tecnologia, por sua vez, deve agregar no atendimento. Já a regulamentação da atividade, atualmente em discussão, precisa trazer soluções para novos problemas que naturalmente irão surgir, como a validade de receitas emitidas à distância e a segurança de dados dos pacientes.
“A fiscalização deverá ser tão adequada quanto nas outras modalidades de atendimento. Essas dificuldades na regulamentação e na garantia de privacidade não nos devem impedir de encarar o desafio da telemedicina. Devemos pensar constantemente em como oferecer soluções que melhorem a jornada do paciente e ampliem o acesso a tratamentos apropriados, mesmo nas áreas remotas”, finaliza o especialista.
Neste ano, teve início o processo de atualização do rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) referente ao ciclo 2019/2020. De fevereiro a maio, toda a sociedade pôde solicitar novas incorporações por meio do FormRol, formulário específico disponibilizado pela ANS. De uma forma inédita, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) centralizou a submissão de 26 novas drogas e alguns procedimentos para tratamento de câncer e, como primeiro resultado desse trabalho, todos os medicamentos submetidos receberam parecer favorável na etapa de análise de elegibilidade.
Agora, o processo de atualização está na fase de análise técnica das propostas. Nesta segunda-feira, 11 de novembro, a SBOC participou de reunião técnica, realizada pela ANS, no Rio de Janeiro, para discutir as orientações gerais para a apresentação dos proponentes e o cronograma das reuniões da Câmara de Saúde Suplementar (CAMSS). Dr. Renan Clara, diretor executivo da SBOC, levantou a questão sobre a importância de se considerar os conflitos de interesse dos solicitantes das submissões. "Temos orgulho de apresentar nossos conflitos de interesse como proponentes. Hoje entregamos algumas sugestões para melhorar a transparência do processo. Sugerimos para que todos, inclusive membros da Câmara Técnica, declarem seus conflitos de interesse reais e possíveis", afirmou o diretor. Dr. Renan também sugeriu que os medicamentos e indicações similares sejam analisados em uma mesma reunião. Além disso, propôs que todos aqueles que realizem alguma apresentação, mesmo que sejam da CAMSS, divulguem seus materiais com antecedência. "Se a ANS está realmente comprometida com transparência, o material a ser apresentado pelos membros da CAMSS deve ser publicado com antecedência. Isso gera um processo muito mais democrático", enfatizou.
A próxima etapa das submissões realizadas pela SBOC consiste nas Reuniões de Análise Técnica e, de acordo com Dra. Clarissa Mathias, presidente da SBOC, a entidade está preparada. "Nossa estratégia está pronta e nossos especialistas participarão das reuniões para que, com o conhecimento técnico de alto nível, possam ratificar a relevância e eficácia de cada solicitação. A SBOC está focada em lutar pelo que há de melhor para nossos profissionais e pacientes", ressaltou.
De acordo com o calendário publicado pela ANS, as reuniões da Oncologia Clínica ocorrerão em janeiro e fevereiro de 2020.
Foi sancionada pela Presidência da República e publicada no Diário Oficial da última quinta-feira, 31 de outubro, a Lei nº 13.896, que determina que os exames relacionados ao diagnóstico de câncer sejam realizados no prazo de 30 dias. A nova lei entrará em vigor em seis meses. A proposta será acrescentada na Lei 12.732, de 2012, que já estipula o início do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em no máximo 60 dias a partir do diagnóstico da doença.
Recentemente, em uma auditoria realizada junto a diversas agências de saúde pública, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou que a maioria dos pacientes recebe o diagnóstico de câncer quando já se encontra em estágio avançado da doença. Em alguns casos, a demora é de até 200 dias. De acordo com a Dra. Clarissa Mathias, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a agilidade no diagnóstico é muito importante para aumentar o sucesso no tratamento do câncer. “Para uma pessoa com suspeita de câncer, o tempo é um fator primordial. Quanto mais rápido se confirmar o diagnóstico e dar início ao tratamento, maiores são as chances de curar a doença. Além disso, como o tratamento em estágios iniciais é menos custoso, o rápido diagnóstico pode reduzir tanto os gastos diretos quanto os indiretos, ressaltando a prioridade de trabalho dessa frente para a sustentabilidade do cuidado do câncer”, explica a especialista.
A nova lei determina que, nos casos em que a principal hipótese seja a de tumor maligno, os exames necessários para a confirmação da suspeita devem ser realizados em, no máximo, 30 dias. O prazo passa a contar da solicitação de um médico responsável. A lei sancionada é oriunda do Projeto de Lei 275/2015, apresentado pela deputada Carmen Zanotto, aprovado pelo Senado Federal no dia 16 de outubro.
Pedras no caminho
A lei sancionada traz um grande benefício para os pacientes oncológicos e para a oncologia do Brasil, porém, não resolve de imediato os sérios problemas de infraestrutura existentes no SUS para diagnóstico do câncer. O estudo “Câncer no Brasil – A jornada do paciente no sistema de saúde e seus impactos sociais e financeiros”, que teve a avaliação técnica da SBOC e foi lançado na abertura da II Semana Brasileira da Oncologia no fim de outubro, apresenta dados relevantes que demonstram alguns desses problemas.
Um dos dados traz o levantamento do número de mamógrafos em uso no SUS, que mostra que, teoricamente, o país possui equipamentos suficientes para atender às necessidades da população. No entanto, a localização desses aparelhos é concentrada em poucos centros, o que dificulta o acesso ao exame para as pacientes. Além disso, dentre os mamógrafos do SUS já instalados, a produtividade está aquém do esperado, estimada em 29% da capacidade total. Também existem filas de disponibilidade para acesso a exames de ressonância magnética ou tomografia. Uma análise geral da disponibilidade de aparelhos de ultrassom, ressonância magnética e tomografia computadorizada no SUS mostra que, além do déficit de equipamentos, existe uma grande variação por estado no número de aparelhos disponíveis por 100 mil habitantes, com situação mais crítica na região Norte.
O estudo também mostra que o tempo para conseguir realizar o exame de biópsia e obter os resultados dos laudos pode ultrapassar dois meses de espera. Um dos problemas associados a essa questão é a falta de anatomopatologistas, principalmente no Norte e Nordeste do país. O relatório do TCU aponta que os maiores empecilhos para o aumento do número desses médicos são a remuneração pouco atrativa, a falta de valorização da carreira, o baixo investimento no parque tecnológico dos laboratórios de anatomopatologia e as más condições de trabalho.
Entre os dados apresentados na conclusão do trabalho está o de que o diagnóstico tardio foi identificado como uma das principais barreiras enfrentadas pelos pacientes no acesso ao tratamento, seja pela dificuldade de entrada na rede de atenção básica do SUS, pela falta de centros especializados, pelas longas esperas para consultas com médicos especialistas ou pela demora na realização de exames. “Sabemos que, embora esteja em vigor desde 2013, a lei dos 60 dias para início do tratamento ainda não atende todos os pacientes diagnosticados com câncer. Esperamos que não aconteça o mesmo com essa nova lei dos 30 dias para a realização de exames diagnósticos, e que pelo menos algumas dessas questões de infraestrutura sejam tratadas pelo Ministério da Saúde nos próximos seis meses, que é o prazo para a lei entrar em vigor”, conclui Dra. Clarissa.
No início de outubro, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CMULHER) aprovou o requerimento 54/2019, que propunha a realização de audiência pública para debater a eficácia e a faixa etária da administração da vacina HPV para homens e mulheres.
A audiência pública foi realizada na última quarta-feira, 30 de outubro, na Câmara dos Deputados, em Brasília, com a participação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Dra. Angélica Nogueira Rodrigues, Diretora da SBOC, esteve presente e destacou que, embora o país tenha um histórico de alta cobertura vacinal, com sólidos programas nacionais de imunização, os programas de vacinação contra o HPV não se adequam à plataforma existente, visto que necessitam atingir crianças e adolescentes que já não frequentam o posto de saúde regularmente. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal com uma ou mais doses diminuiu de 92% na população-alvo (meninas de 11 a 13 anos) em 2014, quando foi implementada, para 69,5% (meninas de 9 a 11 anos) em 2015 - uma redução de 23% em um ano. “Essa queda foi coincidente com a mudança do local de vacinação da escola para o posto de saúde. O Brasil experimenta ainda uma grande variação na adesão à vacina, com taxas mais altas em áreas mais desenvolvidas, onde o câncer de colo do útero é menos incidente, e taxas mais baixas onde a incidência da doença é historicamente maior. Em estados da região nordeste do país, onde o câncer de colo do útero continua a ser uma das principais causas de câncer em mulheres, a cobertura de primeira dose foi de apenas 21,5% da população-alvo no segundo ano de vacinação pública”, explicou a especialista.
Foi consenso entre os debatedores presentes na audiência que o tema é de extrema relevância. Mais de 16 mil novos casos de câncer de colo do útero são previstos para 2019 no Brasil. Dra. Angélica ressaltou que quase 100% deles estão relacionados ao HPV. “Como a doença afeta predominantemente mulheres jovens, ela representa a maior causa de anos de vida perdidos como resultado do câncer em países de baixa e média rendas” apontou a oncologista. De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 54,6% de brasileiros entre 16 e 25 anos estão infectados com HPV e, em 38,4% deles, tratam-se dos subtipos de alto risco, mais associados a câncer de colo do útero, vagina, vulva, pênis, ânus, orofaringe e boca. São doenças passíveis de prevenção primária.
A vacinação anti-HPV é uma ferramenta comprovadamente eficaz na redução de doenças benignas e lesões pré-malignas, sendo esperado impacto breve em incidência e mortalidade por câncer. Segundo dados da OMS, mais de 300 milhões de doses da vacina já foram distribuídas mundialmente e a OMS mantém seu posicionamento de que a vacina é segura. “Apesar da comprovada eficácia e segurança, a adesão à vacina contra o HPV tem sido menor do que a esperada por motivos como pouco conhecimento da população sobre eficácia e segurança da vacina, barreiras culturais, baixa recomendação por profissionais de saúde e estratégias inadequadas de implementação de programas públicos de imunização”, salientou Dra. Angélica.
Atualmente, a vacina contra o HPV está disponível na rede pública de saúde para meninas de 9 a 14 anos e para meninos de 11 a 14 anos de idade. Desde a introdução da vacina em 2014, a cobertura vacinal no país está bem abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde: 51% meninas e 22% dos meninos. “O programa de vacinação contra o HPV no Brasil corre o risco de repetir a trajetória do preventivo de Papanicolau: uma ferramenta muito eficiente, mas, se subutilizada, não atingirá seu potencial”, concluiu Dra. Angelica.
Também párticiparam do debate a deputada Flávia Morais, autora do requerimento; a deputada Sílvia Cristina, presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Câncer; Dra. Ana Goretti, do Ministério da Saúde; Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia; Dr. Mauro Romero Leal Passos, da Sociedade Brasileira de DST; Dra. Rosane Ribeiro Figueiredo Alves, da UFG.
No último dia 26, durante o Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, foi realizada Assembleia Geral Ordinária da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), convocada por meio de edital divulgado em 24 de setembro.
Na Assembleia, os associados titulares presentes votaram sobre a reforma do estatuto da entidade, vigente desde 2016. As mudanças e atualizações propostas no estatuto visam garantir a perenidade da SBOC, com olhar para sua estrutura física e administrativa, sua missão e seus valores, seus processos e sua sustentabilidade financeira.
A reforma estatutária, aprovada por unanimidade, foi o último feito da gestão do Dr. Sergio Simon, que entregou a presidência da SBOC à Dra. Clarissa Mathias, eleita para a gestão 2019/2021.
Acesse aqui o novo estatuto da SBOC e o vídeo explicativo sobre as principais mudanças e seus respectivos motivos.
A posse da diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) eleita para o biênio 2019/2021 ocorreu em Assembleia Geral no último sábado (26), durante o XXI Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica. O Dr. Sergio Simon (SP) entregou a presidência à Dra. Clarissa Mathias (BA), a segunda mulher a ocupar o cargo em toda a história da SBOC. Ambos foram homenageados por funcionários, diretores e associados que estiveram na Assembleia.
Em sua despedida, Dr. Sergio Simon agradeceu o apoio de todos para as várias realizações de sua gestão, entre elas a criação da Escola Brasileira da Oncologia (EBO); a implementação do novo Programa de Residência Médica em Oncologia Clínica (PROC); as ações com foco nas melhorias das políticas públicas de oncologia e do acesso a diagnósticos e tratamentos; o crescimento no número de associados; a transferência total da sede de Belo Horizonte para São Paulo; a reforma completa da sede em São Paulo; a reforma estatutária; o novo Código de Conduta e Ética da SBOC; as parcerias internacionais; e os eventos, como o ESMO Summit, realizado pela primeira vez no Brasil. “Quero agradecer também a todos os membros da minha diretoria, que foram - sem exceção - impecáveis no desempenho de suas funções nesses dois últimos anos. Juntos, fizemos crescer a SBOC, ao mesmo tempo que pudemos vislumbrar a grande tarefa que ainda temos pela frente como Sociedade. A vocês, o meu muito obrigado pela ajuda e convívio fraterno nessa gestão”, disse em um discurso emocionado. E finalizou: “Desejo à Dra. Clarissa Mathias e sua diretoria um ótimo trabalho. Tenho certeza de que a SBOC continuará nas mãos de pessoas sérias e comprometidas com a especialidade, especialistas e pacientes deste país”.
A nova presidente da SBOC, Dra. Clarissa Mathias foi secretária geral nas duas últimas gestões (2015/2017 e 2017/2019). Ela é graduada pela Universidade Federal da Bahia, possui residência em Oncologia e Hematologia pela University Pennsylvania, é Doutora em Medicina pela Universidade Federal da Bahia e possui MBA em Gestão da Saúde pela Fundação Getúlio Vargas. Atua no NOB/Grupo Oncoclínicas, é membro do Conselho do IASLC (International Association for the Study of Lung Cancer) e presidente eleita do Conselho Internacional da ASCO (American Society of Clinical Oncology) para a gestão 2020/2021.
Ao convidá-la ao palco, Dra. Cinthya Sternberg destacou algumas de suas principais características: “Com seu marcante espírito de liderança, sua natureza agregadora e sua enorme capacidade e flexibilidade para lidar com os mais diversos públicos, adquiriu ainda mais experiência formando e gerindo diversos grupos e iniciativas, que carregam até hoje o seu DNA de excelência e competência. Essas qualidades vão contribuir muito para o crescimento da SBOC e sua permanência como referência para a oncologia brasileira. Também tenho certeza de que sua gestão será pautada por respeito, igualdade e desenvolvimento de toda a equipe, que também são marcas pessoais suas”.
Dra. Clarissa agradeceu a todos, se disse honrada em assumir a presidência da SBOC e reafirmou seu compromisso em fazer o melhor não só pela especialidade, mas também pelos especialistas e pacientes. “É inquestionável o crescimento que a SBOC obteve nos últimos anos, e a chapa CUIDAR foi criada cuidadosamente com o objetivo de manter esse crescimento, solidificando-o cada vez mais, não só entre os oncologistas, mas na sociedade brasileira como um todo. Não foi por acaso que buscamos reunir integrantes de todo o país, todos especialistas reconhecidos, absolutamente comprometidos com o Brasil e motivados a trabalhar pela SBOC”. E concluiu: “A chapa CUIDAR traz um projeto ambicioso, mas realista, de Continuidade, União, Igualdade, Desenvolvimento, Ampliação, e Reconhecimento. Vamos juntos cuidar da nossa especialidade, de nossos especialistas e de nossos pacientes”.
DIRETORIA DA SBOC PARA A GESTÃO 2019-2021
A cerimônia de abertura da II Semana Brasileira da Oncologia, do XXI Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, do XIV Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica e do XXI Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia, realizada em 23 de outubro, no Rio de Janeiro, teve início com o discurso dos presidentes das Sociedades das três especialidades, que reforçaram a importância da abordagem multidisciplinar no tratamento do câncer.
Os presidentes também levantaram questões importantes sobre o diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil. O Dr. Sergio, Simon, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em exercício até 26 de outubro, citou problemas de acesso, como os de pacientes com melanoma metastático que não recebem tratamento imunoterápico, como recomenda a cesta básica de oncologia da Organização Mundial da Saúde, sendo que com esse tipo de tratamento têm 52% de chance de estarem vivos em cinco anos, contra 0% de chance com o tratamento atualmente utilizado no Sistema Único de Saúde (SUS). Também falou sobre os atrasos no diagnóstico e as frequentes filas, longas e demoradas, para o tratamento. “Temos várias frentes de ação para trabalhar em conjunto com o governo e melhorar nossos índices de controle do câncer. Espero que este Congresso seja um marco onde se discutam todos esses problemas, e que todos saiam daqui com novas ideias para podermos vencer a batalha contra o câncer de maneira definitiva”.
O Dr. Claudio de Almeida Quadros, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, apresentou algumas estimativas, mostrando que a doença é a segunda causa de morte específica dos brasileiros e que a mortalidade por câncer no Brasil terá um aumento de 90% até 2040. “A II Semana da Oncologia é um marco no modelo de promoção da multidisciplinaridade. Juntos, oncologistas clínicos, cirurgiões oncológicos e radioterapeutas discutem os avanços e as necessidades da oncologia, bem como a prática clínica integrada no dia a dia das três especialidades, e tudo isso em benefícios do paciente”.
O Dr. Arthur Accioly Rosa, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, falou sobre o cenário brasileiro para quem depende do tratamento radioterápico. “Hoje temos 363 aceleradores lineares no país para tratar uma população de quase 210 milhões de pessoas, metade da quantidade necessária. Além disso, 40% dessas máquinas estão obsoletas, ou seja, estão fora de cobertura do fabricante”. E finalizou: “Que a gente consiga discutir e buscar soluções para todas essas questões, e enfrentar o câncer de forma multidisciplinar como ele precisa ser enfrentado”.
A II Semana Brasileira da Oncologia aconteceu entre os dias 23 e 26 de outubro, e teve atividades inovadoras, de forma paralela aos já tradicionais congressos das três entidades. Foram mais de 200 profissionais de excelência, tanto do Brasil quanto do exterior, para compor uma programação que teve o objetivo prioritário de abordar temas que impactam a prática diária da oncologia.
Fechando as lacunas do tratamento do câncer na América Latina
Um dos destaques da cerimônia de abertura II Semana Brasileira da Oncologia foi a apresentação de um estudo intitulado “Otimizando o tratamento de câncer na América Latina”, realizado pelo The Economist Intelligence Unit (EIU) em oito importantes países da região. Foi a primeira vez que essa pesquisa foi apresentada no Brasil.
De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), a América Latina pode vivenciar um aumento de mais de 90% em novos casos de câncer até 2035, devido a fatores como o envelhecimento e o crescimento da população. “Já que os recursos são finitos, e especialmente limitados na América Latina, a pesquisa avaliou os processos de tomada de decisão desses países a fim de otimizar os tratamentos oncológicos, para possibilitar a ampliação do número de pacientes atendidos, com os recursos disponíveis”, afirmou Marcio Zanetti, diretor do EIU no Brasil e responsável pela apresentação do estudo na abertura do Congresso.
O trabalho mostrou que a América Latina tem espaço significativo para aprimorar o tratamento do câncer. Devido ao acesso insuficiente a prevenção, triagem e tratamentos essenciais, como imunoterapia e radioterapia de precisão, o número de mortes é praticamente o dobro dos Estados Unidos e outros países desenvolvidos. Além disso, os gastos da América do Sul com atendimento ao câncer são 0,125% da renda nacional bruta per capita em comparação com 0,51%, 0,6% e 1,02% para Reino Unido, Japão e EUA. O estudo também mostrou que países com sistemas sólidos, que alavancam os melhores dados, evidências e diretrizes, abaixam a mortalidade por câncer; e apresentou a visão geral dos facilitadores e agravantes para a tomada de decisão baseada em evidências para atendimento ao câncer na América Latina, considerando as frentes de dados robustos, avaliação efetiva e integração com atendimento. E por fim, foram apresentadas reformas consideradas essenciais para os sistemas de saúde, como investimento em dados e protocolos clínicos; adoção de compras de medicamentos em grupo para redução dos custos; participação de especialistas e pesquisadores nas tomadas de decisões de políticas públicas; colaboração de ONGs para estimular campanhas de combate ao fumo e suportar monitoramento de programas, entre outras.
O estudo, que iniciou os debates do evento, visa ampliar a discussão sobre a assistência ao câncer, para encontrar soluções de prevenção e busca pelo diagnóstico precoce da doença. Segundo Zanetti, essa é a maneira mais saudável e financeiramente sustentável de melhorar o cuidado com os pacientes oncológicos na região.
A jornada do paciente com câncer no Brasil
O estudo inédito “Câncer no Brasil – A jornada do paciente no sistema de saúde e seus impactos sociais e financeiros” foi lançado na abertura da II Semana Brasileira da Oncologia. O trabalho, que contou com a avaliação técnica da SBOC, mostrou desafios e ações com melhor desfecho para tornar o panorama brasileiro do câncer menos desgastante ao paciente e à saúde pública do país. O estudo foi idealizado pela Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) e realizado pela IQVIA. Nele, foram avaliadas as jornadas dos pacientes de câncer no país, usando como exemplo os quatro tipos mais incidentes de neoplasias malignas no Brasil (com exceção do câncer de pele não melanoma): câncer de próstata, de mama, de pulmão e colorretal. A jornada foi dividida em etapas (rastreamento, diagnóstico e estadiamento, tratamento e monitoramento) e, em cada uma delas, foram explorados os principais desafios que o paciente com câncer encontra, bem como as diferenças existentes entre o SUS e o sistema privado.
Os dados apresentados reforçam a crescente importância do impacto do câncer para o sistema de saúde do Brasil, tanto em aspectos epidemiológicos, como econômicos e sociais. O custo total estimado da doença é de cerca de R$ 68,2 bilhões, com os gastos diretos (medicamentos, cirurgias e hospitalizações) e indiretos (morte prematura, absenteísmo, auxílio-doença etc). Essa soma já chegou a representar 1% do PIB brasileiro, em 2017.
“É de extrema importância abordar os impactos das barreiras e ineficiências na jornada do paciente com câncer, uma vez que essas geram custos adicionais que estão relacionados aos desfechos de saúde obtidos com o serviço assistencial oferecido ao paciente. O cenário real da jornada do paciente de câncer no Brasil, desde a etapa de rastreamento até o tratamento de fato, evidencia a existência de diversos desafios que ainda precisam ser superados. As inquietações existem tanto na saúde suplementar como no SUS, embora com destaque maior para a rede pública”, afirmou Sydney Clark, vice-presidente de Tecnologia e Serviços da IQVIA, que apresentou o estudo na abertura do evento.
O trabalho também trouxe uma análise da carga da doença no Brasil. A carga de uma doença pode ser mensurada por meio do conceito de anos de vida ajustados por incapacidade (tradução livre para Disabilityadjusted life years, ou DALYs), proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1991. Esse indicador integra conceitos de mortalidade e morbidade, sendo que 1 DALY representa um ano de vida perdido por incapacidade e é derivado da soma de outros dois indicadores: anos de vida limitados por incapacidade (Years Lost due to Disability, YLD) e anos de vida perdidos por mortes prematuras (Years of Life Lost, YLL). Dessa forma, o DALY expressa a carga total que a perda de saúde impõe à sociedade. Nessa análise, direcionada para a carga do câncer em 2017, o Brasil apresentou os piores indicadores quando comparado aos seus principais pares da América Latina. Além disso, o paciente com câncer no Brasil perde quase o dobro de anos de “vida saudável” (2,4 vezes) se comparado aos países do EU5 (Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido) e, praticamente, o triplo de anos de vida quando comparado a um paciente com câncer nos Estados Unidos.
Apesar de abordar o tema de forma mais abrangente, o estudo entendeu também as particularidades existentes em cada microssistema de cuidado – seja um hospital, região de saúde, esfera governamental, instituição privada etc. – e reforçou a importância de uma avaliação particular de gargalos específicos e priorização das frentes de atuação buscando aprimorar a jornada e experiência do paciente. A partir disso, entende-se a importância da discussão acerca de propostas e melhorias na atenção oncológica no Brasil.
“Acreditamos que os dados apresentados nesse estudo podem contribuir para subsidiar formadores de políticas públicas e lideranças privadas no que tange à melhoria da gestão da saúde, nas esferas pública e privada, com foco no melhor interesse do paciente e no uso mais eficiente de recursos”, concluiu Clarck.
O estudo completo está disponível no site da Interfarma. Para acessar, clique aqui.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) acaba de lançar um novo Código de Ética e Conduta, que reúne todos os princípios éticos que norteiam, desde a sua fundação, a busca pelo fortalecimento da especialidade no Brasil.
O objetivo do material é implementar boas práticas de governança e orientar o desenvolvimento de políticas e procedimentos que garantam a independência dos programas, políticas e posições de advocacy da SBOC, bem como garantir a sua imparcialidade. "Diante de todas as frentes de atuação da SBOC, que englobam desde defesa profissional e educação continuada até a contribuição para a construção de políticas públicas mais efetivas para a Oncologia, é fundamental mantermos relações transparentes com todas as partes interessadas, e o Código de Ética e Conduta nos guia nesse sentido", afirma Dr. Sergio Simon, presidente da SBOC.
No documento, são abordadas questões como o relacionamento com as empresas farmacêuticas, conflitos de interesse, confidencialidade, entre outros tópicos que trazem as prátricas esperadas pelos colaboradores, associados e parceiros comerciais da entidade, a fim de manter e perpetuar a reputação e a credibilidade da SBOC.
Acesse aqui o Código de Ética e Conduta SBOC.