Uma atualização ampla da norma que regula a pesquisa clínica no Brasil foi aprovada na última quarta-feira, 27 de novembro. As novas regras foram aceitas pela Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pretendem permitir maior atratividade do Brasil para investimentos em pesquisa clínica.
As mudanças ocorrem após a importante sanção da Lei 14.874/24, em maio último, que regulamentou a pesquisa clínica com seres humanos no país, estabelecendo diversos parâmetros e responsabilidades para pesquisadores e patrocinadores e criando um arcabouço jurídico para o setor.
A atualização da Anvisa foi proposta pela área técnica da Agência e contou com 240 contribuições durante a fase de consulta pública. A Diretoria da entidade entende que a modernização das estratégias regulatórias será essencial para consolidar um ecossistema de inovação robusto no Brasil, atendendo às necessidades da saúde pública e impulsionando o desenvolvimento tecnológico.
As novas regras têm foco em reduzir entraves burocráticos e facilitar o desenvolvimento clínico de medicamentos, sem reduzir os parâmetros técnicos necessários para comprovação de sua segurança e eficácia. A atualização será publicada na forma de uma Resolução da Diretoria Colegiada com as diretrizes e procedimentos e de uma Instrução Normativa (IN) que define a lista de autoridades estrangeiras equivalentes que poderão ser utilizadas para otimizar as análises.
Para o coordenador do Comitê de Pesquisa Clínica, Dr. Fábio Franke, atualizações que tornem o Brasil um país seguro e atrativo para pesquisa clínica são bem-vindas. “Agora, é importante que a regulamentação da Lei 14.878 seja publicada com celeridade e outros órgãos importantes que regulem o tema também se manifestem.”
Algumas das principais novidades das normas da Anvisa são:
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) promove, até 11 de dezembro, a Consulta Pública (CP) Nº 84.
A tecnologia avaliada é:
Inibidores da tirosina quinase
Indicação: para câncer de pulmão não pequenas células com translocação em ALK em estágio localmente avançado ou metastático como 1ª linha de tratamento
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) promove, até 11 de dezembro, a Consulta Pública (CP) Nº 78.
A tecnologia avaliada é:
Inibidores da tirosina quinase
Indicação: para câncer de pulmão não pequenas células com translocação em ALK em estágio localmente avançado ou metastático como 2ª linha de tratamento
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) promove, até 11 de dezembro, a Consulta Pública (CP) Nº 76.
A tecnologia avaliada é:
Vacina Influenza trivalente de alta dose
Indicação: para prevenção da gripe em idosos com idade maior ou igual a 80 anos
A coordenadora, Dra. Andrea Pereira, e os membros do Comitê Multiprofissional da SBOC Islania Barbosa e Olivia Podestá falam sobre esta nova iniciativa da Sociedade e da importância da equipe multiprofissional no cuidado oncológico.
O Hospital Mario Gatti Campinas, em Campinas (SP), busca um oncologista clínico para cobertura nos dias 21/11, 22/11, 03/12, 05/12 (das 7h às 19h) e 06/12 (das 7h às 13h). O pagamento será de R$ 2.000 à vista. Interessados devem enviar o currículo para Bruna em (19) 99217-5747.
Por Ludmilla Muglia Pereira, Mariana Gavioli de Oliveira e Sabrina Tonini
No contexto mundial, o câncer é um dos maiores causadores de morte por doenças crônicas não transmissíveis. Assim, se estabelece como um problema de saúde pública e, atualmente, é a segunda principal causa de óbito nos países desenvolvidos. Portanto, a identificação previa do câncer e o tratamento adequado é recomendado com o objetivo de ampliar o tempo e a qualidade de vida dos doentes (1,2,3). Visto que o câncer pode ocasionar uma série de modificações metabólicas graves, como o hipercatabolismo proteico com uma diminuição da massa muscular nos pacientes e uma perda de peso importante. Várias são as razões para que isso ocorra, como gasto energético aumentado, inapetência, inflamação sistêmica, alterações desequilibradas do metabolismo do ambiente tumoral e o próprio tratamento oncológico (cirurgia/radio e quimioterapia) (4,5).
A sarcopenia definida como a perda progressiva de massa e função muscular é uma indicação prognóstica de desfechos desfavoráveis a estes pacientes, incluindo: menor tolerância à quimioterapia, deterioração significativa no status de desempenho, da qualidade de vida, piores resultados pós-operatórios e sobrevida global reduzida (6).
Uma outra condição que pode confundir o profissional de saúde é a obesidade sarcopênica, uma condição cada vez mais comum, onde indivíduos obesos apresentam baixa musculatura e força, com risco ainda maior de resultados adversos durante o tratamento oncológico. Infelizmente, não sendo diagnosticada frequentemente nesses pacientes, escondida sob um índice de massa corporal mais alto. Identificar estas subpopulações com sarcopenia e obesidade sarcopênica permitiria planos de tratamento mais eficazes através de uma intervenção nutricional precoce e adequada (7).
Uma outra questão importante além da quantidade muscular é sua qualidade, que está sendo vez mais estudada e identificada como um importante preditor no impacto metabólico destes pacientes. Conhecida como miosteatose, infiltração gordurosa na massa muscular está associada a uma resistência à insulina, fator que pode complicar o tratamento de pacientes com câncer, principalmente aqueles com diabetes tipo 2 (8). Além disso, o acúmulo de gordura intramuscular está associado a um estado inflamatório crônico que aumenta os sintomas de impacto nutricional durante o tratamento. Esta inflamação é particularmente preocupante nestes pacientes, uma vez que está associada a uma menor resposta ao tratamento e a progressão da doença (9,10).
Sendo assim, fatores nutricionais, exercício físico e estilo de vida irão interferir na mudança desta composição corporal, assim se faz necessário uma abordagem integrativa e multiprofissional aos pacientes, em especial uma terapia nutricional individualizada, que deve ser instituída em qualquer tipo de tratamento oncológico deste o diagnóstico até o pós-tratamento (11).
As necessidades energéticas são sempre individualizadas e diferem quanto a localização, o tipo do tumor, o estadiamento da doença e o tratamento proposto. Através de um cálculo conhecido como “regra de bolso”, é possível estimar e calcular a oferta energética dos pacientes com câncer que pode variar de 20 a 25 kcal/kg/dia em pacientes obesos, até 30 a 35 kcal/kg/dia em pacientes com caquexia, sarcopênicos ou desnutridos (12).
As necessidades proteicas no paciente oncológico também devem ser cuidadosamente calculadas e avaliada, uma vez que é a principal fonte para construção e manutenção da massa muscular esquelética. A oferta de proteína busca compensar as perdas associadas a condições inflamatórias e catabólicas dos pacientes oncológicos. A ingestão proteica recomendada pode variar entre 1g/kg/dia a 2,0g/kg/dia (12).
Nestes pacientes, certos aminoácidos presentes em fontes alimentares são particularmente importantes devido ao seu papel no anabolismo muscular e na modulação da resposta inflamatória. Os aminoácidos que apresentam maior atuação nesse processo são:
1- Leucina: A leucina é um aminoácido essencial que tem um papel fundamental na síntese proteica muscular. Estudos indicam que a leucina pode ajudar a superar a resistência anabólica observada em pacientes com câncer, promovendo a síntese de proteínas musculares. Alimentos ricos em leucina incluem carnes, peixes, ovos, laticínios, soja e leguminosas (13,14)
2- Arginina: A arginina é um aminoácido condicionalmente essencial que pode melhorar a resposta imunológica e reduzir a inflamação, fatores importantes em pacientes oncológicos. Fontes alimentares de arginina incluem carnes, nozes, sementes, leguminosas e produtos lácteos (13, 14, 15).
3- Aminoácidos de Cadeia Ramificada (BCAAs): Além da leucina, os outros BCAAs (isoleucina e valina) também são importantes para a síntese proteica e a manutenção da massa muscular. Fontes alimentares incluem carnes, laticínios, ovos, soja e leguminosas (13)
É importante considerar que a resposta anabólica pode ser melhorada com a ingestão de proteínas de alta qualidade e a inclusão de aminoácidos específicos na dieta para pacientes oncológicos (16).
A literatura sugere que dieta equilibrada em aminoácidos essenciais pode ser benéfica para prevenir a perda muscular em pacientes com câncer, independentemente do estado nutricional ou da resposta inflamatória sistêmica. É importante considerar a ingestão de proteínas de alta qualidade, ou seja, as de origem animal, que fornecem um perfil completo de aminoácidos essenciais, para otimizar o suporte nutricional nestes pacientes (13, 17).
Estudos mostram que além de aminoácidos e proteínas, os ácidos graxos ômega-3, especialmente o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA) tem desempenhado um papel significativo como agentes anti-inflamatórios e na preservação da massa muscular em pacientes oncológicos. A inflamação crônica é um fator chave na progressão do câncer e da caquexia, uma síndrome caracterizada por perda de peso involuntária e de massa muscular (18)
Os ômega-3 são precursores de mediadores que ajudam a reduzir a inflamação e, consequentemente, a degradação muscular. Estudos indicam que a suplementação com EPA e DHA, pelo menos 2 g ao dia, pode aumentar a síntese proteica muscular e diminuir a perda proteica, ajudando a manter a massa muscular destes pacientes (19,20) Além disso, os ômega-3 podem melhorar a regeneração muscular ao modular positivamente a resposta inflamatória local e sistêmica, o que é crucial em condições de inflamação aguda e crônica (21, 22).
A intervenção nutricional tem como um dos principais objetivos melhorar a composição corporal, preservando ou aumentando a massa muscular, regulando a gordura corporal para níveis adequados, em busca de uma melhor resposta aos tratamentos, dos prognósticos e principalmente, na melhora da qualidade de vida (23).
Referências
1. Fruchtenicht AV, Poziomyck AK, Kabke GB, Loss SH, Antoniazzi JL, Steemburgo T, Moreira LF. Nutritional risk assessment in critically ill cancer patients: systematic review. Rev Bras Ter Intensiva. 2015 Jul-Sep;27(3):274-83. doi: 10.5935/0103-507X.20150032. Epub 2015 Aug 11. PMID: 26270855; PMCID: PMC4592123.
2. Sung H, Ferlay J, Siegel RL, Laversanne M, Soerjomataram I, Jemal A, Bray F. Global Cancer Statistics 2020: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA Cancer J Clin. 2021 May;71(3):209-249. doi: 10.3322/caac.21660. Epub 2021 Feb 4. PMID: 33538338.
3. Al-Azri MH. Delay in Cancer Diagnosis: Causes and Possible Solutions. Oman Med J. 2016 Sep;31(5):325-6. doi: 10.5001/omj.2016.65. PMID: 27602184; PMCID: PMC4996960.
4. Maurina, A. L. Z., Dell’Osbel, R. S., & Zanotti, J. (2020). Avaliação Nutricional e Funcional em Oncologia e Desfecho Clínico em Pacientes da Cidade de Caxias do Sul/RS. Revista Brasileira De Cancerologia, 66(2), e–10996. https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2020v66n2.996
5. Vega MC, Laviano A, Pimentel GD. Sarcopenia and chemotherapy-mediated toxicity. Einstein (Sao Paulo). 2016 Oct-Dec;14(4):580-584. doi: 10.1590/S1679-45082016MD3740. PMID: 28076611; PMCID: PMC5221390.
6. Ryan AM, Sullivan ES. Impact of musculoskeletal degradation on cancer outcomes and strategies for management in clinical practice. Proc Nutr Soc. 2021 Feb;80(1):73-91. doi: 10.1017/S0029665120007855. Epub 2020 Nov 3. PMID: 32981540.
7. Mei KL, Batsis JA, Mills JB, Holubar SD. Sarcopenia and sarcopenic obesity: do they predict inferior oncologic outcomes after gastrointestinal cancer surgery? Perioper Med (Lond). 2016 Oct 26;5:30. doi: 10.1186/s13741-016-0052-1. PMID: 27800156; PMCID: PMC5080704.
8. Kim TN, Choi KM. Sarcopenia: definition, epidemiology, and pathophysiology. J Bone Metab. 2013 May;20(1):1-10. doi: 10.11005/jbm.2013.20.1.1. Epub 2013 May 13. PMID: 24524049; PMCID: PMC3780834.
9. Li CW, Yu K, Shyh-Chang N, Jiang Z, Liu T, Ma S, Luo L, Guang L, Liang K, Ma W, Miao H, Cao W, Liu R, Jiang LJ, Yu SL, Li C, Liu HJ, Xu LY, Liu RJ, Zhang XY, Liu GS. Pathogenesis of sarcopenia and the relationship with fat mass: descriptive review. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2022 Apr;13(2):781-794. doi: 10.1002/jcsm.12901. Epub 2022 Feb 2. PMID: 35106971; PMCID: PMC8977978.
10. Correa-de-Araujo R, Addison O, Miljkovic I, Goodpaster BH, Bergman BC, Clark RV, Elena JW, Esser KA, Ferrucci L, Harris-Love MO, Kritchevsky SB, Lorbergs A, Shepherd JA, Shulman GI, Rosen CJ. Myosteatosis in the Context of Skeletal Muscle Function Deficit: An Interdisciplinary Workshop at the National Institute on Aging. Front Physiol. 2020 Aug 7;11:963. doi: 10.3389/fphys.2020.00963. PMID: 32903666; PMCID: PMC7438777.
11. Coronha AL, Camilo ME, Ravasco P. A importância da composição corporal no doente oncológico: qual a evidência? [The relevance of body composition in cancer patients: what is the evidence?]. Acta Med Port. 2011 Dec;24 Suppl 4:769-78. Portuguese. Epub 2011 Dec 31. PMID: 22863483.
12. HORIE, Lilian Mika et al. Diretriz BRASPEN de terapia nutricional no paciente com câncer. BRASPEN J, v. 34, supl 1, p. 2-32, 2019.
13. Jonker R, Engelen MP, Deutz NE. Role of specific dietary amino acids in clinical conditions. Br J Nutr. 2012 Aug;108 Suppl 2(0 2):S139-48. doi: 10.1017/S0007114512002358. PMID: 23107525; PMCID: PMC4734127.
14. Soares JDP, Howell SL, Teixeira FJ, Pimentel GD. Dietary Amino Acids and Immunonutrition Supplementation in Cancer-Induced Skeletal Muscle Mass Depletion: A Mini-Review. Curr Pharm Des. 2020;26(9):970-978. doi: 10.2174/1381612826666200218100420. PMID: 32067606.
15. Sindhu R, Supreeth M, Prasad SK, Thanmaya M. Shuttle between arginine and lysine: influence on cancer immunonutrition. Amino Acids. 2023 Nov;55(11):1461-1473. doi: 10.1007/s00726-023-03327-9. Epub 2023 Sep 20. PMID: 37728630.
16. Siqueira JM, Vega MCMD, Pimentel GD. Amino acids and cancer: potential for therapies? Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2024 Jan 1;27(1):47-54. doi: 10.1097/MCO.0000000000000998. Epub 2023 Nov 25. PMID: 37997812.
17. Engelen MPKJ, Safar AM, Bartter T, Koeman F, Deutz NEP. High anabolic potential of essential amino acid mixtures in advanced nonsmall cell lung cancer. Ann Oncol. 2015 Sep;26(9):1960-1966. doi: 10.1093/annonc/mdv271. Epub 2015 Jun 25. PMID: 26113648; PMCID: PMC4551158.
18. Murphy RA, Mourtzakis M, Mazurak VC. n-3 polyunsaturated fatty acids: the potential role for supplementation in cancer. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2012 May;15(3):246-51. doi: 10.1097/MCO.0b013e328351c32f. PMID: 22366922.
19. Ewaschuk JB, Almasud A, Mazurak VC. Role of n-3 fatty acids in muscle loss and myosteatosis. Appl Physiol Nutr Metab. 2014 Jun;39(6):654-62. doi: 10.1139/apnm-2013-0423. Epub 2014 Jan 24. PMID: 24869970.
20. Jannas-Vela S, Espinosa A, Candia AA, Flores-Opazo M, Peñailillo L, Valenzuela R. The Role of Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids and Their Lipid Mediators on Skeletal Muscle Regeneration: A Narrative Review. Nutrients. 2023 Feb 8;15(4):871. doi: 10.3390/nu15040871. PMID: 36839229; PMCID: PMC9965797.
21. Blaauw R, Calder PC, Martindale RG, Berger MM. Combining proteins with n-3 PUFAs (EPA + DHA) and their inflammation pro-resolution mediators for preservation of skeletal muscle mass. Crit Care. 2024 Feb 1;28(1):38. doi: 10.1186/s13054-024-04803-8. PMID: 38302945; PMCID: PMC10835849.
22. Laviano A, Rianda S, Molfino A, Rossi Fanelli F. Omega-3 fatty acids in cancer. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2013 Mar;16(2):156-61. doi: 10.1097/MCO.0b013e32835d2d99. PMID: 23299701.
23. Mcmillan DC, Watson WS, Preston T, Mcardle CS. Lean body mass changes in cancer patients with weight loss. Clin Nutr. 2000 Dec;19(6):403-6. doi: 10.1054/clnu.2000.0136. PMID: 11104590.
Por Tatiane Correia Rios
Uma pergunta frequente durante a consulta nutricional após conclusão do tratamento oncológico é: “Quais são os cuidados com a alimentação para evitar a recidiva?”.
Pacientes na fase de diagnóstico e tratamento do câncer ficam estressados devido a problemas físicos, mentais, profissionais e sociais. Os sobreviventes do câncer, por outro lado, estão mais provavelmente preocupados com o risco de recorrência e mortalidade do câncer1.
Segundo a Sociedade Americana de Câncer (ACS), 2022, nos últimos 30 anos, o número de sobrevivência do câncer cresceu nos Estados Unidos4. Em janeiro de 2019 aumentou em 16,9 milhões de sobreviventes de câncer no país e este número continua a aumentar devido a vários fatores4.
Diversos autores descrevem algumas características comuns como excesso de peso, inadequação da dieta, tanto em qualidade como em quantidade, e inatividade física especialmente em sobreviventes de câncer de mama, próstata, colo de útero e cólon2,3. Esses dados reforçam a importância da orientação contínua sobre os cuidados não só durante o tratamento do câncer, mas também nos pós com objetivo de promoção à saúde.
As condutas nutricionais podem ser individualizadas levando em consideração os sintomas pós-tratamento, o estado nutricional e as particularidades socioculturais de cada paciente, visto que o papel da nutrição busca não só a prevenção da recidiva, mas também a reabilitação e uma melhor qualidade de vida dos sobreviventes do câncer5,6.
Em 2022 a ACS publicou um guideline baseado em revisões sistemáticas de alta qualidade e de meta-análises de pesquisadores reconhecidos reforçando e unificando as seguintes recomendações4:
A ACS em seu relatório de 2022 reforçou também as recomendações publicadas para sobreviventes pela Rede Nacional Abrangente do Câncer (NCCN) e a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) que são4:
Há evidências de que a prática regular de atividade física, consumir alimentos que reflitam um padrão alimentar saudável (rico em alimentos vegetais, frutas inteiras, grãos integrais e feijões, mas limitados ou não incluindo álcool, carne processada, bebidas açucaradas, alimentos altamente processados e produtos de grãos refinados) e evitar a obesidade após a conclusão do tratamento do câncer melhora sobrevivência a longo prazo4,5,6.
Uma grande preocupação é a fonte de informação dos pacientes sobre nutrição, estudo italiano com sobreviventes de câncer de mama (n= 684) verificou que pesquisa na internet era a fonte mais comum de informações usadas pelas pacientes para buscar orientações sobre as escolhas alimentares após o diagnóstico7. Segundo estudo de Ford et al.9 (2022), o conhecimento e a informação nutricional são os principais determinantes das escolhas alimentares e ingestão geral de nutrientes.
Por isso, é importante que o profissional de saúde conheça as melhores evidências, mas também que ele saiba identificar as barreiras às mudanças alimentares. Na prática, existem estratégias nutricionais diferentes para se trabalhar com sobreviventes de câncer, podendo ser através da intervenção personalizada para as necessidades individuais de cada paciente ou através de programas educativos em grupo8,9.
Em conclusão, existem recomendações nutricionais relevantes sobre o papel da nutrição para sobreviventes de câncer e os profissionais de saúde apresentam grandes desafios: promover mais pesquisas com recomendações nutricionais baseadas em evidências, intensificar as formas de divulgação destas informações para a população e estimular os pacientes seguirem estas estratégias nutricionais.
Referências
1- Pudkasam S, Polman R, Pitcher M, Fisher M, Chinlumprasert N, Stojanovska L, Apostolopoulos V. Physical activity and breast cancer survivors: Importance of adherence, motivational interviewing and psychological health. Maturitas. 2018; 116:66-72.
2- Mazzutti FS, Custódio IDD, Lima MTM, Carvalho KPd, Pereira TSS, Molina MdCB, Canto PPL, Paiva CE, Maia YCdP. Breast Cancer Survivors Undergoing Endocrine Therapy Have a Worrying Risk Factor Profile for Cardiovascular Diseases. Nutrients. 2021; 13:1114.
3- DO Mann S, DO Sidhu M, DO Gowin K. Understanding the Mechanisms of Diet and Outcomes in Colon, Prostate, and Breast Cancer; Malignant Gliomas; and Cancer Patients on Immunotherapy. Nutrients. 2020; 12: 2226.
4- Rock CL, Thomson CA, Sullivan KR, Howe CL, Kushi LH, Caan BJ, Neuhouser ML, Bandera EV, Wang Y, Robien K, Basen-Engquist KM, Brown JC, Courneya KS, Crane TE, Garcia DO, Grant BL, Hamilton KK, Hartman SJ, Kenfield SA, Martinez ME, Meyerhardt JA, Nekhlyudov L, Overholser L, Patel AV, Pinto BM, Platek ME, Rees-Punia E, Spees CK, Gapstur SM, McCullough ML. American Cancer Society nutrition and physical activity guideline for cancer survivors. CA Cancer J Clin. 2022; 72(3):230-262.
5- Klekowski J, Chabowski M. Nutritional Strategy for Cancer—From Prevention to Aftercare. Nutrients. 2024; 16:1437.
6- Benetou V. Nutrition for Cancer Survivors. Nutrients. 2022; 14: 4093.
7- Caprara G, Tieri M, Fabi A, Guarneri V, Falci C, Dieci MV, et al. Results of the ECHO (Eating habits CHanges in Oncologic patients) survey: an Italian crosssectional multicentric study to explore dietary changes and dietary supplement use, in breast cancer survivors. Front Oncol. 2021; 11:705927.
8- Keaver L, Huggins MD, Chonaill DN, O'Callaghan N. Online nutrition information for cancer survivors. J Hum Nutr Diet. 2023; 36: 415–433.
9- Ford KL, Orsso CE, Kiss N, Johnson SB, Purcell SA, Gagnon A, Laviano A, Prado CM. Dietary choices after a cancer diagnosis: A narrative review. Nutrition. 2022;103-104:111838.
Por Cristiane DÁlmeida, Olivia Galvão De Podestá e Thais Manfrinato Miola
O acompanhamento nutricional durante o tratamento do câncer é fundamental para contribuir com a melhor tolerância ao tratamento, redução das interrupções e melhor qualidade de vida do paciente. Um dos motivos que faz o paciente com câncer perder peso durante o tratamento são os sintomas de impacto nutricional, que reduzem a ingestão alimentar. O cuidado nutricional pode auxiliar a melhorar o consumo de alimentos mesmo na presença destes sintomas, através das estratégias alimentares e receitas diferentes e enriquecidas dentro dos hábitos e padrões alimentares do paciente, que podem ser incorporadas durante este período1-5.
Estratégias alimentares para os sintomas de impacto nutricional apresentados durante o tratamento oncológico1,2,4:
Inapetência e anorexia: aumente o fracionamento das refeições, comendo pequenas porções ao longo do dia; enriqueça as preparações, colocando azeite e queijo ralado em sopas, mel nas frutas e iogurtes, por exemplo.
Náuseas: aumente o fracionamento das refeições, comendo pequenas porções ao longo do dia; evite ficar muito tempo em jejum; evite alimentos gordurosos e açucarados; prefira alimentos frescos e frios; o limão e gengibre ajudam nas náuseas, podendo consumir como picolé de limão e chá gengibre.
Xerostomia: se não apresentar as feridas na boca, utilize alimentos ácidos para estimular a salivação; prefira preparações com caldos e molhos; aumente a hidratação; chupar gelo feito de água, água de coco, sucos e chás ajudam a umidificar a boca.
Mucosite: prefira alimentos macios, como bisnaga e purês, em temperatura ambiente ou morna; evite alimentos secos e duros, extremos de temperatura, condimentos fortes e alimentos ácidos.
Alteração do paladar: acentue o sabor dos alimentos com ervas e especiarias; se não apresentar as feridas na boca, utilize alimentos ácidos para estimular a salivação; enxague a boca antes das refeições; se sentir gosto metálico acentuado, evite talhares de metal.
Obstipação: aumente a hidratação; faça atividade física, se possível e liberado pelo seu médico; aumente o consumo de fibras que ajudam no funcionamento do intestino, como fibras presentes nas verduras (folhas) e nas cascas de frutas e legumes; acrescente cereais e grãos integrais, como aveia, linhaça e chia.
Diarreia: aumente a hidratação; evite grãos e cereais integrais; prefira fibras que ajudam a “prender” o intestino, como mandioca, batata, pera, melão.
Disfagia: alterar a consistência da dieta conforme o grau da disfagia e aumentara oferta calórica e proteica das refeições com técnicas dietéticas e suplementação oral. Acompanhamento juntamente da fonoaudióloga. Evitar alimentos secos e duros, preferir alimentos umedecidos e macios. Durante a alimentação manter a cabeceira elevada durante a alimentação. Discutir a possibilidade de uma via alternativa de alimentação se, disfagia grave, como uma sonda nasoentérica.
Odinofagia: alterar a consistência da dieta, de acordo com a aceitação do paciente, aumentando a oferta calórica e proteica das refeições através da técnica dietética e indicar suplementação oral. Evitar alimentos secos, duros, cítricos, picantes e condimentados, e os extremos de temperatura.
Referências Bibliográficas
O risco de câncer e a maior prevalência de determinados tumores em grupos específicos podem estar relacionados não apenas a características físicas e biológicas, mas também a comportamentos e condições sociais, algo frequentemente observado na população LGBTQIAPN+.
Em entrevista ao UOL, Dr. Ricardo Sant´Ana fala sobre a ausência de políticas públicas direcionadas a essa população, além de discutir métodos preventivos e o acesso aos serviços de saúde.