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Entrevista: o mais jovem presidente da SBOC e seu legado

Notícias Terça, 24 Outubro 2017 15:20

O Dr. Gustavo Fernandes está finalizando o mandato de dois anos como presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). A diretoria 2017/2019, presidida pelo Dr. Sergio Simon, tomará posse na sexta-feira, dia 27, durante o XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica.

Natural da Paraíba, o Dr. Gustavo fo, o mais novo presidente da SBOC. Tinha 36 anos quando assumiu o cargo e o desafio de conciliar a responsabilidade com seu trabalho como diretor técnico do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês (HSL) – Unidade Brasília.

Está prestes a ficar um ano no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York (EUA). “É um breve intervalo, somente para afiar o machado”, comenta. Lá estudará pesquisa clínica e também atenderá pacientes. “Não conseguiria ficar só na bancada”, admite.

Nesta entrevista, ele avalia o período em que esteve à frente da instituição. Perguntado sobre as principais realizações, aponta o reconhecimento da especialidade, a entrada na AMB e a incorporação do trastuzumabe ao SUS. Confira:

O que o levou a priorizar a reorganização administrativa da SBOC?

Avaliamos que a entidade tinha muitos diretores eleitos, mas poucos funcionários para ajudá-los. Contratamos uma diretora executiva, a Dra. Cinthya Sternberg, e começamos a reestruturar o staff. Investimos para ter produtividade, uma vez que a capacidade das pessoas de doar tempo de forma gratuita é limitada.

Valorizar o relacionamento de quem trabalha em conjunto e tem ideais em comum foi a tônica da gestão?

O Claudio Ferrari [amigo e companheiro de diretoria] diz que eu gosto de fazer amigos. É verdade. Onde pudermos ter portas abertas, é bom. Dá trabalho porque é necessário manter as nossas portas também. Mas encontramos grandes parceiros. Os diretores do Conselho Federal de Medicina e da Associação Médica Brasileira, por exemplo, estão muito alinhados com o que achamos ser correto. São grupos sólidos e gente muito séria. Isso é muito bom para a medicina nacional.

Qual o principal legado do seu mandato?

O reconhecimento da especialidade e a incorporação do trastuzumabe ao SUS simbolizam o trabalho de articulação política. O primeiro coloca a oncologia na primeira página da medicina. Os assuntos da medicina no Brasil são todos discutidos na Associação Médica Brasileira. Se não temos um assento lá, estamos sempre à margem do processo. A outra conquista é o que impacta de fato. A oncologia existe para tratar os pacientes com câncer. Em última análise, saímos de casa todos os dias para isso. Ter atendido um pleito que permitirá tratar as pacientes de maneira mais efetiva é muito especial.

Como a SBOC atuou quanto à incorporação de novas tecnologias?

Faltam em torno de 40 indicações de terapia antineoplásica no atendimento público. Existe uma disparidade flagrante em relação ao privado. Mas dizer que é preciso incorporar tudo é o mesmo que não incorporar nada. Não há recursos para fazer todas as incorporações necessárias de uma forma ampla. Diante disso, precisamos elencar medicamentos que têm impacto maior e são possíveis do ponto de vista de custo-efetividade. Governar é fazer escolhas. O principal papel da sociedade médica, então, é oferecer subsídio técnico para o Ministério da Saúde fazer as suas escolhas. Na saúde suplementar, seguimos o novo fluxo implantado pela ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar]. Antes o órgão validava as indicações. Agora, está questionando cada uma delas. Isso ainda vai dar muito pano para manga do ponto de vista da legalidade. Naturalmente, sempre estarei do lado do meu paciente. Quanto mais acesso ele puder ter, terá. Reconheço que custo-efetividade é importante e que os preços de medicamentos são muito elevados. Poderia haver preços muito mais razoáveis no mercado. Mas isso não tira do paciente o direito de ter o seu tratamento.

Como avalia a gestão?

Dependíamos de decisões que estavam além do nosso alcance, mas foi dando certo e conseguimos entregar tudo o que propusemos. É lógico que há problemas, questões que ainda não estão de uma forma ideal. Mas estou muito orgulhoso da minha diretoria. São grandes nomes da oncologia, gente extremamente ocupada, mas que doou seu tempo para ajudar a SBOC. Também estou feliz com o staff permanente. Todo mundo se empenhou muito em fazer as coisas acontecerem. Foi muito bacana porque o grupo foi bem. Deixamos uma grande intensidade de trabalho, muito volume de jogo para as próximas empreitadas.

Dois anos é um tempo adequado de mandato? É saudável não haver reeleição?

É um tempo muito apropriado. Não é tão curto que você não consiga realizar nada e nem tão longo que seja fatigante. Pessoalmente, gostaria que não houvesse reeleição nunca. Hoje não pode ter somente reeleição consecutiva. É importante que haja espaço para a participação, que as pessoas possam entregar a sua energia para a Sociedade no sentido de fazer coisas novas.

Como imagina o futuro da oncologia no país?

Precisa ser mais fácil fazer pesquisa clínica no Brasil. Há iniciativas tramitando nesse sentido, como o projeto de lei 7082/2017. Isso vai melhorar a oncologia brasileira. Outra necessidade é a de capilarização. A especialidade exige uma série de recursos e, por isso, é difícil chegar a lugares menores. Vejo uma tendência de melhoria, de aumento do número de serviços, de médicos oncologistas. Ainda é incrível a demanda pela residência em Oncologia Clínica. Existe uma perspectiva de crescimento imensa até pela natureza da doença diante do envelhecimento da população.

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