Segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) este ano, um em cada quatro brasileiros admite que poderia se proteger do sol, mas não o faz. O índice aumenta para um a cada três entre os mais jovens (18 a 29 anos). Além disso, 6% da população demonstra forte resistência à prevenção, afirmando que não adotaria o hábito. O câncer de pele é um dos mais conhecidos, sendo citado por 89% dos entrevistados. A sua causa direta também é identificada pela maioria: 83% dos brasileiros relacionam a exposição ao sol com o câncer. O grande problema é converter esse conhecimento em atitude. O Dr. Sérgio Jobim de Azevedo, vice-presidente de Organização, Planejamento e Administração da SBOC, explica a seguir qual o papel do oncologista neste desafio.
Qual a importância do Dia Nacional de Combate ao Câncer de Pele?
Nesta data (2/12) e durante todo o mês, o chamado Dezembro Laranja, é reforçada a divulgação de medidas preventivas para a população. A prevenção primária é evitar o sol das 10h às 16h e expor-se à radiação solar nos outros horários com proteção. A prevenção secundária envolve acesso frequente a dermatologistas para avaliação e detecção precoce de lesões malignas.
As recomendações de evitar a exposição ao sol têm sido cada vez mais específicas em relação às crianças, por exemplo?
O conceito permanece o mesmo. Reduzir ou limitar a exposição solar é a forma de prevenção mais adequada. Os anos críticos são na infância e as queimaduras pelo sol aumentam muito as chances de desenvolvimento de câncer de pele, mas os cuidados valem para todos. O sol é importante para a saúde, mas somente na medida certa.
O brasileiro tem se prevenido adequadamente?
Acredito que não. A incidência de câncer de pele é alta no país. Procuramos sempre trabalhar em parceria com os colegas dermatologistas em campanhas educativas. A prevenção secundária é mais complexa, porque depende da conscientização da população sobre a importância de procurar o médico regularmente e também do acesso a esses especialistas. Se não tem dermatologista, a prevenção secundária não acontece.
E quanto ao melanoma?
Além da exposição solar inadequada, são fatores de risco para melanoma o fenótipo (pele clara e olhos azuis) e o histórico familiar de pessoas com a doença. Pessoas com esse perfil devem estar atentas e consultar o dermatologista para avaliações periódicas.
O melanoma é uma doença agressiva?
Sim, mas quando identificado no início, se for de baixa profundidade, tem potencial de cura. Infelizmente, os atendimentos mais frequentes pelos oncologistas são de doença avançada. Quando um caso desse chega ao oncologista, já não é mais detecção precoce. O sistema já falhou.
Qual é o papel do oncologista na prevenção do câncer de pele?
Sair à comunidade e participar da rede de profissionais que se dedicam a divulgar as medidas de prevenção e a importância da detecção precoce, como fazemos no GBM [Grupo Brasileiro de Melanoma] por exemplo. Os malefícios do sol em horários inadequados e sem proteção deveriam ser ensinados na escola, como se faz com o tabagismo.
Durante o atendimento de um paciente com melanoma, o oncologista pode alertar sobre a importância de seus familiares serem avaliados?
Sim, fazemos isso e é claro que a orientação é benéfica para aquela família. Mas, em termos de sociedade, o impacto é limitado. É uma gota no oceano.
Os familiares de pacientes com melanoma devem passar por algum teste genético?
Ainda não existe essa indicação por não haver uma ação correspondente, isto é, uma medida a ser tomada ou uma medicação a ser prescrita, caso seja detectada uma mutação relacionada ao melanoma. O que vale é o acompanhamento periódico mesmo. Não existe nenhuma forma de rastreamento genético relacionada ao melanoma hoje. O rastreamento, ou seja, a prevenção secundária, é feita pelo exame repetitivo de toda a pele.