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Estudo nacional multicêntrico avalia prevalência de HPV no Brasil

Notícias Sexta, 15 Dezembro 2017 08:21
Unidades básicas de saúde em todo o país participam da pesquisa Unidades básicas de saúde em todo o país participam da pesquisa Foto: Divulgação

Está em curso a maior pesquisa sobre prevalência da infecção pelo papilomavírus humano (HPV) e seus tipos na população brasileira e nas diferentes regiões do país. A título de prestação de contas ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), que financia o estudo, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), apresentou resultados preliminares há poucos dias. Até 30 de outubro, 35,2% (n=2.669) das amostras coletadas foram testadas para presença do HPV e analisadas genotipicamente para definição dos tipos virais. A prevalência estimada de HPV foi de 54,6%, sendo que o HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer foi encontrado em mais de um terço dos indivíduos pesquisados (38,4%). Outro dado preocupante é que 16,1% dos participantes do estudo disseram já ter tido uma infecção sexualmente transmissível antes ou apresentaram resultado positivo no teste rápido para HIV ou sífilis.

Até essa fase da pesquisa, a amostra total soma 5.812 mulheres e 1.774 homens de 16 a 25 anos com vida sexual ativa. A médica epidemiologista Eliana Wendland, coordenadora do estudo, conta que 90% das coletas já foram realizadas. Das 27 capitais brasileiras, faltam 10 concluírem as suas metas. A previsão é de que os dados consolidados referentes às amostras genitais e às variáveis sociodemográficas, comportamento sexual, saúde reprodutiva e infecções sexualmente transmissíveis sejam divulgados em abril de 2018. Também estão sendo avaliados o conhecimento e as atitudes acerca do HPV, vacinação e exame Papanicolaou, bem como doenças relacionadas ao vírus.

Embora tenham sido apresentados dados por cidade nessa fase preliminar, a Dra. Eliana explica que a quantidade de amostras processadas até outubro é representativa para o contexto nacional, mas insuficiente para comparações entre as regiões brasileiras, por exemplo.

Vacinação

Outro objetivo do estudo é obter dados para avaliação futura do impacto do Programa Nacional de Vacinação contra o HPV, implantado no Brasil em 2014 e ampliado este ano para os meninos. Os resultados servirão como um painel inicial para comparações e avaliação da efetividade da imunização. “A divulgação dessas primeiras conclusões é mais uma oportunidade para chamarmos a atenção da população quanto à importância da vacina, que é gratuita, segura, protege contra câncer de colo do útero, da vulva, da vagina e de ânus”, frisa a Dra. Andréia Melo, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

A vacina está disponível em todo o país para meninas de 9 a 15 anos incompletos; meninos de 11 a 14 anos; e pessoas de 9 a 26 anos imunodeprimidas. A cobertura tem sido tão aquém da meta de 80% que, em agosto, o Ministério da Saúde autorizou que pessoas de 16 a 25 anos também fossem vacinadas nos locais onde havia estoque próximo da data de validade. Os dados oficiais dão conta de que a cobertura vacinal acumulada para o período de 2014 a junho de 2017 para meninas é de 46,2% (segunda dose). Já a de meninos está em 20,2% (primeira dose).

De acordo com a Dra. Eliana Wendland, a ideia é repetir o estudo em 2020, com pessoas nessa mesma faixa de 16 a 25 anos, para medir o impacto da vacinação. A Dra. Andréia Melo pontua que talvez seja necessário um intervalo de tempo maior para essa aferição. “Mas, com certeza, toda essa iniciativa é muito válida e terá uma repercussão importante, inclusive internacionalmente”, afirma.

Câncer de orofaringe e HPV

Um diferencial do estudo é que foram colhidas amostras orais, além das genitais, para ajudar os cientistas de todo o mundo a entender melhor a relação entre o HPV e as neoplasias da cavidade oral. O Dr. Daniel Sperb, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Moinhos de Vento, explica que o câncer de orofaringe é historicamente relacionado ao consumo de tabaco e álcool, mas que tem aumentado o número geral de casos pelo forte aparecimento do HPV como fator de risco. “Será fantástico sabermos qual a prevalência e o tipo de HPV mais frequente nessa amostra de população sadia para compararmos com os pacientes que têm o tumor”, afirma. Na visão do especialista, o estudo e seus desdobramentos poderão ajudar a entender cofatores associados ao desenvolvimento desses tumores atualmente relacionados ao HPV.

Segundo a Dra. Eliana Wendland, epidemiologista que coordena a pesquisa, os dados referentes às amostras orais devem ser divulgados até o fim de 2018. “Será muito importante conhecermos melhor essa doença e seus fatores de risco”, comenta a Dra. Fernanda Casarotto, médica do Núcleo de Cabeça e Pescoço do Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento. “Do ponto de vista epidemiológico, as estratégias de prevenção que podem vir a ser traçadas a partir dessas informações poderão ter um enorme impacto clínico, social e econômico”, pontua.

A oncologista acrescenta que, em relação ao tratamento, as conclusões da pesquisa também podem servir de base para novos estudos clínicos de drogas mais efetivas e menos tóxicas. “Já tivemos recentemente novidades no estadiamento, com a nova seção para casos HPV-positivos na classificação TNM. É possível que, em breve, avancemos ainda mais”, diz a Dra. Fernanda.

Atenção primária

O estudo chama a atenção também pela capacidade de articulação de seus organizadores. Para investigar quase 8 mil pessoas nas 27 capitais brasileiras foram envolvidas 119 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e um Centro de Testagem e Aconselhamento, com a colaboração de mais de 250 profissionais de saúde. Cada participante passou por entrevista a respeito de diversos aspectos sociodemográficos e outros relacionados às infecções sexualmente transmissíveis e tem amostras orais e genitais colhidas. “É uma prova de que, quando o tema é de interesse, o sistema de saúde e a comunidade científica conseguem se organizar para um trabalho de fôlego”, comenta a Dra. Andréia Melo. “É uma iniciativa importantíssima do ponto de vista de saúde pública, considerando que o número de casos de câncer relacionados ao HPV é grande e crescente”, destaca.

“Quando tivermos 100% das amostras coletadas e processadas, as informações serão devolvidas às UBSs participantes, aos gestores municipais e às coordenadorias do Ministério da Saúde para a elaboração de estratégias mais eficientes para a prevenção desses diversos tipos de câncer causados pelo HPV”, conclui a Dra. Eliana Wendland, coordenadora da pesquisa.

Última modificação em Sexta, 15 Dezembro 2017 19:25

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