A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) faz um alerta sobre a saúde das mulheres no que diz respeito à importância dos hábitos de vida saudáveis como medida para prevenção do câncer. Segundo pesquisa da SBOC, três a cada cinco brasileiras já foram diagnosticadas com a doença ou conhecem alguém que foi. Entretanto, apesar do alto contato com a doença, suas atitudes de prevenção ao câncer deixam a desejar: uma parcela relevante das brasileiras se alimenta mal, não pratica exercícios e consome frequentemente bebidas alcoólicas e cigarro.
O tabagismo – maior fonte de mortes evitáveis no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – não recebe a atenção adequada das brasileiras. De acordo com o estudo, quase um terço das mulheres do país fuma (12%) ou já fumou (16%). O dado se torna ainda mais alarmante quando considerados o tempo de contato com o cigarro e a quantidade consumida: ao todo, 47% das brasileiras fumam ou fumaram pelo menos mais de 10 cigarros ao dia – sendo que parte delas chega a ultrapassar dois maços diariamente –, e 57% delas mantêm ou mantiveram contato entre 10 e mais de 30 anos.
“O cigarro tem relação com muitos tipos de câncer, como pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo do útero e leucemias. Por isso, é preocupante pensar que tantas mulheres mantêm contato prolongado com algo que faça tão mal à saúde. Outro problema é a persistência de certos mitos em relação ao tabagismo, como a existência de uma quantidade segura de consumo, que não acarretaria em prejuízos ao organismo: cerca de uma em cada cinco mulheres (22%) acredita nisso, em maior ou menor grau”, diz a Dra. Aline Lauda, diretora da SBOC. “Não há quantidade segura para o consumo de cigarro”, reforça.
Já o álcool, que está relacionado a cerca de 5,5% dos casos de câncer no mundo e aumenta o risco de câncer de orofaringe, laringe, esôfago, fígado, mama e cólon, ainda é consumido pelo menos uma vez por semana por um terço das mulheres (33%). “O que mais preocupa na relação das brasileiras com o álcool é o completo desconhecimento de quão prejudicial ele pode ser ao organismo, representando um fator de risco relacionado ao câncer e a doenças como cirrose hepática, hepatite, infarto e demência. Um pouco mais de um terço das brasileiras não veem bebidas alcoólicas como um fator relevante no desenvolvimento do câncer. Sem o conhecimento adequado, muitas mulheres não tomam qualquer medida preventiva”, comenta Lauda.
A alimentação é outro ponto sensível para uma parcela relevante das brasileiras. Segundo o levantamento, cerca de um quinto das mulheres (17%) não reconhece a relação entre o consumo de alimentos industrializados e o desenvolvimento de câncer. E pior: mais da metade delas (54%) afirmam que não evitam consumi-los como forma de prevenção. De forma similar, o consumo de mais frutas, legumes e folhas não é visto como um passo importante para diminuir o risco de desenvolver câncer por 15% das mulheres e 37% não adotaram essa medida.
“Comer bem traz vários benefícios à saúde e desempenha um papel crucial na prevenção ao câncer. Esse fato, porém, parece não ter chegado a muitas mulheres no país. Ao todo, 16% discordam, em maior ou menor grau, que suas escolhas alimentares podem interferir no desenvolvimento de um câncer. É um número muito alto e preocupante”, afirma a Dra. Aline Lauda.
Mulheres brasileiras e o sedentarismo
Outro fator de risco é o sedentarismo. De acordo com o estudo, 56% das mulheres do país não praticam quaisquer atividades físicas e um quinto sequer imagina que praticar exercícios pode diminuir o risco de desenvolver câncer. O resultado, quando aliado à alimentação ruim, é que a obesidade – segunda maior causa de câncer, perdendo apenas para o cigarro, de acordo com a OMS – vem se tornando uma questão cada vez mais premente entre as brasileiras. Dados do IBGE mostram que quase 25% das mulheres são obesas.
“A relação entre o sobrepeso e o câncer não está muito clara para grande parte das mulheres. De acordo com o levantamento da SBOC, um pouco mais de um quarto (27%) a ignoram. Quando considerada em conjunto com o consumo de bebidas alcoólicas, cigarros e alimentação ruim, percebe-se claramente que os hábitos das mulheres brasileiras possuem lacunas relevantes. Com 80% a 90% dos casos de câncer relacionados a fatores de risco externos, segundo o Inca, é crucial conscientizar a população sobre a importância de adotar atitudes mais saudáveis em seu dia a dia”, diz Lauda.