A American Society of Clinical Oncology (ASCO) e a European Society for Medical Oncology (ESMO) publicam, em breve, uma nova versão do currículo global para o oncologista clínico, atualizando a segunda edição de 20101,2,3. O oncologista Dr. João Soares Nunes, vice-presidente para Ensino da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), foi o responsável brasileiro por revisar a recomendação, que tem o endosso da SBOC. Veja o que ele destaca do documento:
- A nova versão do currículo aperfeiçoa a valorização de aspectos psicossociais, comunicação e orientação do paciente, acompanhamento dos pacientes curados, questões éticas, legais e econômicas do tratamento. “A sugestão da ASCO e da ESMO é para uma formação bem ampla, global, que envolve desde a prevenção, a promoção da saúde e o tratamento até os cuidados paliativos. Para complementar, devido às peculiaridades da realidade brasileira, a SBOC deve fazer recomendações sobre conhecimentos a respeito das políticas públicas de saúde e do funcionamento do SUS”, explica Dr. Nunes.
– Para a formação do oncologista clínico, o currículo orienta de dois a três anos de clínica médica, mais três anos de residência em oncologia clínica, recomendação que já é feita pelo manual da residência médica da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC) e da SBOC4.
– O documento reforça os papéis do preceptor, que deve se dedicar pelo menos dez horas semanais à orientação dos residentes, e do coordenador de residência, responsável pelo planejamento da formação. “Esses papéis, de alguma forma, já são exercidos no Brasil, mas não têm o conceito tão claramente definido”, diz o Dr. Nunes.
- O novo currículo recomenda um caderno de registros (log-book)5, onde se anotam todas as atividades desempenhadas pelo residente. “Esse registro permitirá que se façam correções para compensar eventuais disparidades”, explica.
– O objetivo do currículo é formar um oncologista clínico generalista, com conhecimento e capacidade para atender pacientes com todos os tipos de tumor. Ele está organizado em grandes temas, subdivididos em áreas de competência e, para cada uma delas, traz definições sobre objetivos, consciência sobre o tema, conhecimento e habilidades. O manejo e o tratamento do câncer podem ser considerados um grande tema, que tem como áreas de competência tópicos tais como: patologia, princípio de medicina personalizada, estadiamento e imagem. “Dentro de patologia, não se exige que o residente seja capaz de ler uma lâmina e dar um diagnóstico a partir dela, mas que ele tenha conhecimento suficiente para interpretar uma informação vinda do patologista”, exemplifica Dr. Nunes.
– Em termos técnicos, o documento também reforça que o oncologista clínico deve ter algumas habilidades práticas de procedimento, como manejo rotineiro de cateter totalmente implantável, realização de biópsia de medula óssea, capacidade de avaliar a resposta de um tumor a determinado tratamento por meio dos critérios RECIST, além de domínio sobre prescrição de quimioterápicos. “O oncologista clínico não vai implantar um cateter ou fazer o trabalho do radiologista, mas ele precisa estar capacitado para colaborar com outros profissionais”, explica.
– O currículo também aprimora a atenção e treinamento em tumores hematológicos, tumores relacionados a Aids e em populações especiais, como adolescentes, adultos jovens, grávidas e idosos.
– Desde 2007 a SBOC recomenda o treinamento do residente de oncologia clínica orientado por competência, alinhado com o padrão ASCO-ESMO, porém a versão nacional também inclui competência em gestão. “O curriculum global ASCO-ESMO é complementar ao grande trabalho desenvolvido na gestão de 2007 com o Manual de Residência da SBOC”, conclui Dr. Nunes.
Referências para saber mais:
- http://www.esmo.org/Career-Development/Global-Curriculum-in-Medical-Oncology
- https://www.asco.org/sites/new-www.asco.org/files/content-files/international-programs/documents/2010-esmo-asco_revised_recommendations-portuguese.pdf
- https://www.asco.org/international-programs/global-curriculum
- http://sboc.org.br/downloads/Manual_residencia_(2).pdf
- https://www.asco.org/sites/new-www.asco.org/files/content-files/international-programs/documents/2016-ESMO-ASCO-Log-Book-interactive.pdf
- http://www.sboc.org.br/residencia-medica/