SBOC e SBGM publicam posicionamento conjunto orientando profissionais da saúde e pacientes diante do risco duplo de ocorrência do câncer e da COVID-19
Se ter câncer pode aumentar as chances de complicações em caso de infecção pelo novo coronavírus, ter alguma predisposição genética a tumores também exige cuidados. Por isso, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e a Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica (SBGM) publicaram posicionamento conjunto em que orientam sobre o manejo de pacientes com síndromes de predisposição hereditária ao câncer durante a pandemia.
Para isso, as entidades se valem do conhecimento científico da oncogenética, que oferece recursos para a identificação da ocorrência de tumores raros e de alterações genéticas que aumentam o risco de um câncer se desenvolver, muitas vezes em função da grande incidência da doença na família. Graças a esse conhecimento, já foram identificadas mais de 50 síndromes de predisposição hereditária ao câncer (SPHC), que conferem maior risco para diversos tumores.
Diante disso, as entidades recomendam uma série de medidas para a abordagem com pacientes de alto risco para o câncer ou sabidamente portadores de SPHC. “Esses pacientes estão diante de dois riscos que não podem ser desconsiderados: o de infecção pelo novo coronavírus, ao qual toda a população está exposta, e o de desenvolverem um câncer que, pelo aconselhamento genético, poderia ser diagnosticado precocemente”, explica Dra. Daniela Rosa, coordenadora do Comitê de Oncogenética da SBOC. “Nenhum dos dois riscos deve ser negligenciado, e as orientações da SBOC e da SBGM buscam auxiliar pacientes e profissionais a se posicionar da melhor maneira possível diante de ambos”, completa.
Pacientes com diagnóstico de câncer e que necessitam de aconselhamento e teste genético para determinar o melhor tratamento para sua doença não devem postergar sua consulta, mas ela deve ocorrer preferencialmente por telemedicina. Por outro lado, há cenários em que a avaliação oncogenética deve ser adiada. Entre as orientações está a necessidade de postergar a realização de cirurgias redutoras de risco, como a mastectomia profilática bilateral, que consiste na retirada da glândula mamária seguida de colocação de próteses de silicone. O caso mais notório é o da atriz Angelina Jolie, que se submeteu à cirurgia em 2015.
Também devem ser postergados exames de rastreamento em pacientes sem suspeita de câncer e portadores de SPHC. De acordo com Dr. Rodrigo Santa Cruz Guindalini, membro do Comitê de Oncogenética da SBOC, trata-se de escolher entre riscos de diferentes gravidades. “Esse atraso temporário deve ser considerado porque há um risco maior, o de se expor à infecção pelo novo coronavírus nos serviços de saúde”, pondera.
A medida não se aplica ao controle de lesões suspeitas previamente identificadas e que necessitam de reavaliação periódica. Também pacientes de alto risco por possuir histórico pessoal ou familiar sugestivo de SPCH devem evitar realizar consultas eletivas e presenciais neste momento. Caso exista alguma urgência, reforça Dr. Guindalini, “o atendimento deve se dar por meio da telemedicina”.
Por fim, Dra. Maria Isabel Achatz, também do Comitê, lembra que pacientes com diagnóstico de alguma SPHC apresentam o mesmo risco da população em geral para se infectar pelo novo coronavírus. “Não sabemos se o prognóstico de pacientes com SPHC e COVID-19 é diferente, porque é tudo muito novo e não há relatos suficientes na literatura científica a respeito”, comenta “Os esforços da SBOC e da SBGM são para protegermos essa população até que saibamos mais a respeito e possamos definir diretrizes específicas”, recomenda.