Webinars SBOC e ASCO compartilham experiências e apresentam medidas para cuidar do oncologista clínico durante a pandemia
De acordo com a pesquisa Medscape National Physician Burnout and Suicide Report, 42% dos oncologistas clínicos nos Estados Unidos relataram, em 2019, sofrer de síndrome de do esgotamento profissional, o burnout, sendo que 18% estão deprimidos e 22% já tiveram ideias suicidas – uma realidade não muito diferente em outros países e que, com a pandemia de COVID-19, tende a se agravar. Para ajudar os profissionais brasileiros a passar pela crise com saúde e qualidade de vida, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) acaba de lançar seu Programa de Saúde Mental para Oncologistas – Equilíbrio na Travessia.
A iniciativa foi lançada na manhã desta terça (28/04), durante o primeiro webinar realizado pela entidade, seguido de conferência on-line da American Society of Clinical Oncology (ASCO) sobre experiências e lições durante a pandemia, também com a participação especial da SBOC. Para a presidente da entidade brasileira, Dra. Clarissa Mathias, host convidada pela ASCO para mediar o debate da conferência internacional, a dobradinha entre o anúncio da SBOC e as discussões globais sobre o tema evidenciam a urgência do cuidado com os profissionais da saúde. “É uma realidade global a preocupação em cuidar daqueles que cuidam e a SBOC, desde o início desta nossa gestão, destacou entre suas prioridades as iniciativas voltadas à qualidade de vida do oncologista clínico, sistematizadas agora neste recém-lançado programa”, conta.
No webinar de lançamento, foram apresentadas pela Dra. Luciana Landeiro as atividades iniciais do programa – entre elas:
• Parcerias institucionais para promoção de bem-estar, saúde e qualidade de vida;
• Acesso a aplicativos de atividades físicas e meditação;
• Conteúdos multimídia com orientações.
Os benefícios serão oferecidos aos associados SBOC ao longo das próximas semanas. “Todos esses recursos estão sendo reunidos para auxiliar o oncologista clínico a desenvolver uma rotina de atividades físicas, de relaxamento e de equilíbrio mental em domicílio e no seu ambiente de trabalho”, explica Dra. Luciana.
O diretor executivo da SBOC, Dr. Renan Clara, que conduziu o webinar, destacou que o programa é parte de uma série de iniciativas da entidade para auxiliar o oncologista clínico e a população no enfrentamento da pandemia. “Precisamos adotar medidas de distanciamento social para conter o avanço do vírus e poupar os sistemas de saúde de um colapso, mas estamos trabalhando para seguirmos próximos ao oncologista clínico, o mais perto que a tecnologia e a criatividade nos permitir, e para isso usaremos todas as ferramentas possíveis”, explica.
O conteúdo especial produzido pela SBOC, apresentado em coronavirus.sboc.org.br e divulgado nas redes sociais da entidade, soma-se às atualizações do site oficial da entidade, que conta com mais de 130 mil acessos. “Enfrentamos um desafio que exige foco e multidisciplinaridade, e nossos esforços alcançam agora o cuidado com a saúde mental do oncologista clínico”, diz Dra. Clarissa Mathias.
No webinar, também foram dadas orientações de oncologista para oncologista. “Monitore-se ao longo do dia para identificar qualquer sintoma de depressão ou estresse, como tristeza prolongada, dificuldade para dormir, memórias intrusivas ou desesperança. E sigamos honrando nosso trabalho, lembrando a nós mesmos e aos colegas da importância dele”, recomenda Dra. Luciana Landeiro.
O webinar contou ainda com a participação da Dra. Angélica Nogueira, da Diretoria SBOC, que apresentou informações de pesquisas internacionais, da literatura científica e de observações pessoais para traçar um panorama do impacto da pandemia na saúde mental dos profissionais da saúde. “Estamos há tempos subestimando um burnout crônico a que esses profissionais vêm sendo submetidos, e nós, oncologistas clínicos, estamos inclusos nisso, somado agora ao medo de se infectar e de levar também a doença aos nossos familiares e pacientes”, conta.
Dra. Angélica também se apresentou na conferência on-line da ASCO, logo após o webinar da SBOC, ao lado da Dra. Natalie Dickson, diretora médica da Tennessee Oncology (EUA) e com mediação da Dra. Clarissa Mathias. Em sua apresentação, ela destacou a imagem do notório centro de convenções McCormick Place Chicago, sede do encontro anual da ASCO, convertido neste ano em um hospital de campanha para atender a população local afetada pela COVID-19.
“Estamos às vésperas de maio, quando, tradicionalmente, a comunidade internacional de oncologistas clínicos anseia por se encontrar no evento. Ver o McCormick Place transformado em um necessário hospital de campanha é chocante, mas a cena também se torna um alívio por percebermos que conseguimos nos organizar tão rapidamente para ajudar as pessoas. É impressionante a velocidade do avanço da pandemia, mas também o é nossa capacidade de se adaptar aos desafios.”
Dra. Angélica lembrou, ainda, que é preciso aprender com a história para termos sucesso no enfrentamento da pandemia. “E a história nos ensina que profissionais da saúde sempre são desproporcionalmente afetados pelas epidemias – por isso, é condição para qualquer medida de enfrentamento cuidar dessas pessoas”, destaca.
Segundo dados apresentados em sua palestra, durante a epidemia de ebola, o risco de infecção de médicos e outros profissionais da saúde foi de 20 a 30 vezes maior que o da população em geral. Na Itália e na Espanha, 13% das mortes provocadas pelo novo coronavírus foram desses profissionais, e 25% dos médicos estão no grupo de risco para agravamentos da doença.
“Estamos cuidando de outros, dos nossos pacientes e familiares, enquanto também precisamos de cuidados. A iniciativa da SBOC e as discussões da ASCO em torno do problema são um suporte de extrema importância, algo com que muitos de nós não puderam contar até aqui”, comemora Dra. Angélica Nogueira.