SBOC conduziu processo que, após anos, levou à incorporação de tratamento revolucionário aos pacientes com melanoma na rede pública
O dia 8 de julho de 2020, véspera do Dia do Oncologista, pode ter sido aquele que marcou o fim de uma das mais perversas iniquidades do cuidado oncológico na rede pública de saúde brasileira: após anos de uma luta conduzida pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), foi anunciada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) a recomendação que a imunoterapia com nivolumabe e pembrolizumabe seja incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Com isso, abre-se o caminho para que hospitais públicos em todo o país finalmente possam tratar de forma efetiva e segura pacientes que, até então, só contavam com a quimioterapia com dacarbazina para combater um dos tumores mais agressivos. De acordo com o vice-presidente para Ensino da Oncologia da SBOC, Dr. Rodrigo Ramella Munhoz, à frente da defesa da entidade pela imunoterapia no SUS, tratava-se de uma questão de justiça social. "A quimioterapia praticada no SUS não só é pouco ou nada eficaz contra o melanoma avançado como prejudica consideravelmente a qualidade de vida dos pacientes. Agora, um importante avanço da ciência oncológica, já disponível a poucos pacientes, pode chegar à população brasileira de forma mais justa", comemora.
De acordo com os estudos apresentados sucessivamente pela SBOC à Conitec, a expectativa de vida de um paciente tratado com a quimioterapia padrão do SUS, muitas vezes, não chega a um ano, enquanto que com a imunoterapia pode se igualar à de um indivíduo da mesma idade sem a doença. Os estudos mostram bons resultados inclusive entre aqueles com metástases no sistema nervoso central.
Para o diretor executivo da SBOC, Dr. Renan Clara, "a conquista da imunoterapia no SUS contra o melanoma é um marco histórico para a entidade e uma vitória que pode abrir portas a novos avanços para o SUS. Continuaremos lutando para que tratamentos dignos sejam ofertados aos brasileiros." Estimulando o sistema imunológico do próprio paciente a combater o câncer, a imunoterapia rendeu o Nobel de Medicina de 2018 aos seus precursores, James P. Allison e Tasuku Honjo, mas ainda permanece disponível a poucos pacientes ao redor do mundo devido aos seus altos custos. "Por isso o trabalho da SBOC envolveu não só evidências científicas do potencial terapêutico da imunoterapia, mas um minucioso trabalho sobre a custo-efetividade das drogas. Começa uma nova fase, a de negociação comercial entre governo e detentores dos registros. A SBOC celebra a conquista, mas já está preparada para que essa fase seja realizada de forma rápida e efetiva", destaca.
A presidente da SBOC, Dra. Clarissa Mathias, classificou a conquista como resultado da atuação institucional da entidade ao longo dos anos. "É isso que acontece quando damos continuidade a processos históricos de defesa da oncologia clínica, cuidando daquilo que foi iniciado por diretorias anteriores e que não pode ser interrompido - ao contrário, precisa avançar ainda mais, pelo bem da luta contra o câncer. Essa celebração envolve muita gente: cientistas, oncologistas clínicos, gestores, todos que participaram ativamente do processo que nos trouxe até aqui", comemora.
O parecer favorável da CONITEC é o primeiro passo para que o tratamento seja disponibilizado pelo SUS. "Esperamos que as autoridades envolvidas no processo atuem de forma vigorosa para garantir o acesso do paciente com melanoma a um tratamento que pode ser decisivo em sua vida. A SBOC seguirá atuante para que isso se torne realidade o quanto antes", garante Dr. Munhoz.