No último dia 26 de marco, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) voltou a se reunir com a coordenadora da Frente Parlamentar de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer, a deputada federal Carla Zanotto (CIDADANIA-SC), para discutir a inclusão dos pacientes oncológicos no grupo prioritário para a vacinação contra a COVID-19.
Da reunião, em que foram apresentadas as evidências científicas que embasam a defesa da SBOC pela vacinação, ficou acertada a elaboração de uma carta endereçada ao deputado federal Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ), coordenador da Comissão Externa de Enfrentamento à COVID-19. A carta, já enviada pela SBOC, propõe como pauta para a próxima reunião da comissão uma análise crítica sobre a estratificação do grupo de comorbidades prioritárias do Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra o COVID-19, incluindo a pertinência de se reinserir os brasileiros diagnosticados com câncer, independente do estágio da doença e da fase do tratamento.
“Esse entendimento de que o paciente oncológico está exposto a diversos e preocupantes riscos de complicações ocasionadas pela combinação entre o câncer e a infecção pelo novo coronavírus é consubstanciado pela literatura científica, que a SBOC apresenta como primeiro e grande balizador de sua defesa pela vacinação urgente desses brasileiros”, explica a presidente da entidade, Dra. Clarissa Mathias.
O diretor executivo da SBOC, Dr. Renan Clara, ressalta que as mesmas evidências servem de base para todas as iniciativas de enfrentamento da pandemia protagonizadas pela entidade. “Desde quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em março do ano passado, que o mundo passava por uma pandemia, a SBOC passou a adotar medidas para proteger o oncologista clínico brasileiro, os profissionais que representa em todo o território nacional, o paciente oncológico e toda a população”, comenta. “Tudo fruto de intensas discussões a respeito do que já era de conhecimento da ciência e do que foi sendo compreendido com o próprio enfrentamento da COVID-19”, acrescenta. Entre os resultados mais recentes do protagonismo da SBOC na proteção do meio oncológico contra os impactos da pandemia está a produção de um guia com orientações para a imunização de pacientes oncológicos. O documento, publicado originalmente no dia 20 de janeiro, passa por atualizações periódicas, na medida em que o conhecimento sobre a COVID-19 e as vacinas avança. Ao longo da pandemia, a entidade tem atuado também no desenvolvimento e na promoção de condutas técnicas a serem adotadas pela comunidade oncológica e toda a população, concentradas no site coronavirus.sboc.org.br e difundidas por todos os seus canais de comunicação.
Evidências para vacinar
Entre os dados mais recentes apresentados pela SBOC na reunião com a deputada Carmen Zanotto e na carta ao deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr., estão os de um estudo brasileiro publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO) que identificou e acompanhou 198 pacientes com câncer que desenvolveram COVID-19 entre março e julho de 2020. Destes, 33 morreram - uma taxa de mortalidade de 16,7%, seis vezes mais que o índice global, de 2,4%.
De acordo com outra pesquisa, realizada por uma colaboração internacional financiada pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido, o novo coronavírus interfere dramaticamente no sucesso de cirurgias de câncer. Publicado na revista científica Anaesthesia, o estudo revela que cirurgias para retirada de tumores realizadas em menos de sete semanas após o diagnóstico de COVID-19 tiveram risco de mortalidade aumentado em ao menos 140%.
“O paciente oncológico está diante de um risco real e grave, que pode afetar diretamente o sucesso de seu tratamento, sua saúde e sua vida. Esses brasileiros não podem esperar, o câncer não os deixa esperar”, enfatiza Dra. Clarissa Mathias.
O Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a COVID-19 chegou a citar, nas suas duas primeiras edições, pacientes com comorbidades “como pressão alta, problemas cardíacos e do pulmão, diabetes ou câncer” entre aqueles com maior risco de ficarem gravemente doentes pela infecção por Sars-CoV-2. Apesar disso, as edições seguintes, publicadas nos dias 22 e 29 de janeiro de 2021, excluem o câncer do grupo de comorbidades prioritárias, restringindo-se a incluir na descrição do grupo de imunossuprimidos os pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos seis meses e aqueles com neoplasias hematológicas.
“A SBOC seguirá atuante e em diálogo com o Congresso Nacional, o Ministério da Saúde e todas as instâncias competentes do poder público para fazer valer o que diz a ciência e amparar o oncologista clínico brasileiro no cuidado com seus pacientes, tão vulneráveis à pandemia que enfrentamos”, garante Dr. Renan Clara.
Além de Carla Zanotto e Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr., a SBOC também já obteve apoio dos deputados federais Tereza Nelma (PSDB-AL) e André Janones (Avante-MG) para a inclusão das pessoas vivendo com câncer no grupo de prioritários a receberem a imunização.