Primeiro grande evento oncológico em toda a América Latina a reunir participantes presencialmente após o avanço da vacinação contra a COVID-19, o XXII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, realizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), teve entre os destaques da sua programação de hoje, 18 de novembro, transformações pelas quais a medicina tem passado ao longo da pandemia de COVID-19.
Na manhã desta quinta-feira, presidentes de três gestões da SBOC foram os anfitriões de especialistas e gestores da saúde que discutiram dois grandes temas emergidos do enfrentamento da pandemia: o futuro da regulamentação da telemedicina no Brasil; e políticas públicas para o cuidado oncológico após os estragos deixados pelo novo coronavírus, como atrasos em diagnósticos e interrupções de tratamentos.
Para a presidente da SBOC e da Comissão Executiva do congresso, Dra. Clarissa Mathias, à frente de diversas discussões no evento, é natural que a programação aborde tais temas. “A SBOC protagonizou muitas dessas revoluções de que falamos, ao se reinventar para enfrentar a pandemia desde o seu princípio e sem esmorecer, conduzindo também uma série de iniciativas para empoderar o oncologista, demais profissionais da saúde, o paciente oncológico e a população em geral contra a ameaça dupla de infecção pelo SARS-CoV-2 e avanço do câncer”, conta.
O próximo presidente da SBOC, Dr. Paulo Hoff, que toma posse no último dia do congresso, sábado (20), falou do que espera os oncologistas no pós-pandemia e como os profissionais podem se preparar para esse cenário. “Em paralelo à crise sanitária que vivemos, temos um contexto também de epidemia de câncer: casos que, antes, chegavam a 300 mil, hoje já estão em 600 mil por ano, numa expectativa crescente”, alertou. “A pandemia nos trouxe uma realidade dolorosa, o negligenciamento de doenças extremamente relevantes, que passamos dois anos conduzindo de maneira insuficiente. Agora, precisamos trabalhar para conscientizar o paciente de que é hora de voltar, fazer o seu atendimento e restabelecer os processos de manutenção da saúde”, defendeu.
Entre os convidados esteve o secretário estadual da Saúde de São Paulo, Dr. Jeancarlo Gorinchteyn, que conduziu as medidas de combate à COVID-19 no estado e o Plano Estadual de Imunização. Médico infectologista, ele falou sobre como diferentes especialidades da medicina podem aprender com o enfrentamento da pandemia e umas com as outras.
“Temos que rever os nossos programas de saúde, deixar um legado, uma história de uma saúde de melhor qualidade e descentralizada, para que a gente possa acolher de forma mais rápida e com qualidade toda a população”, defendeu. “Nós temos que, juntos, com a liderança de cada estado, repensar a saúde de forma global – e a oncologia não é diferente.”
O presidente da SBOC na gestão que antecedeu a atual, Dr. Sergio Simon, participou das discussões e defendeu a ciência como única fonte para a tomada de decisão em políticas de saúde. “Além do vírus, enfrentamos, ao longo de todos estes dias difíceis, o negacionismo, o obscurantismo, e ainda temos uma desafiante jornada pela frente até recuperarmos tudo o que foi deixado no caminho. A SBOC seguirá nessa jornada conduzida pelo conhecimento científico e pela valorização da vida”, garantiu.
Também participaram dos debates Dr. Cesar Eduardo Fernandes, presidente da Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), à qual a SBOC é filiada; Dra. Maira Pereira Dantas, coordenadora da Câmara Técnica de Medicina Paliativa do Conselho Federal de Medicina (CFM); e Teresa de Souza Dias Gutierrez, presidente da Comissão de Direito Sanitário da Seção São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP).
Ciência por todos os lados
A defesa da ciência feita pelo ex-presidente da SBOC Dr. Sergio Simon pode ser testemunhada na prática pelas centenas de participantes do Congresso SBOC 2021.
Entre as atividades do segundo dia de programação, estiveram atualizações sobre medicina de precisão e a linha de cuidado em oncologia, da prevenção aos cuidados paliativos. Novidades no diagnóstico e tratamento de pacientes com tumores gastrointestinais e neuroendócrinos também foram apresentadas, além de temas da ginecologia e urologia, entre outros.
Também quem enfrenta o câncer esteve no centro de uma série de atividades, reunidas no Programa Especial para Pacientes, que contou com reflexões sobre qualidade de vida e bem-estar, a importância do suporte físico e mental adequado, expectativas dos pacientes e de seus familiares e a crescente relevância das tecnologias de comunicação e das redes sociais no acolhimento. Na ocasião, foi apresentada a recém-publicada Cartilha para Prevenção e Controle do Câncer no Brasil, compilação de todos os infográficos da SBOC com informações e orientações sobre diferentes tipos da doença.
Após a American Association for Cancer Research (AACR), presente na tarde de ontem, foi a vez da European Society for Medical Oncology (ESMO) juntar-se à SBOC em mais uma joint session com parceiros internacionais da entidade. Foram comentados por especialistas brasileiros e de outros países, ao longo de toda a tarde, estudos apresentados no congresso de 2021 da entidade europeia, realizado, virtualmente, no último mês de setembro.
Na condução das apresentações estava a presidente da Comissão Científica do Congresso SBOC 2021, Dra. Angélica Nogueira. “Para a SBOC, é de extrema importância seguir construindo pontes entre a oncologia brasileira e a global, para que aquilo que há de mais atual e revolucionário no cuidado oncológico chegue aos nossos oncologistas e, numa via de mão dupla, também nossos profissionais deem suas contribuições para transformar as diferentes realidades do paciente com câncer ao redor do mundo”, garante.
Ainda no segundo dia do evento, foram publicados na Brazilian Journal of Oncology, a BJO, os Anais do Congresso SBOC 2021, com os trabalhos apresentados ao longo da programação.