Até o surgimento da pandemia de COVID-19, o câncer era a segunda maior causa de morte por doença no Brasil. E se a doença causada pelo novo coronavírus supera a letalidade de todo o conjunto de tumores malignos em quantidade, os diagnósticos perdidos e tratamentos interrompidos pelo medo dos agravamentos da infecção pode igualar os dois males em prejuízos. Neste 4 de fevereiro, Dia Mundial do Câncer, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reafirma seu compromisso em fortalecer o oncologista clínico brasileiro para transformar essa realidade.
Apesar dos avanços da medicina nos últimos anos, a melhor forma de combater o câncer ainda é por meio do diagnóstico precoce e do início imediato do tratamento. Em estágio inicial, muitos tipos de câncer podem ser controlados e mesmo eliminados por meio de procedimentos como cirurgia para remoção da parte afetada, quimioterapia e radioterapia. Já a doença em sua forma avançada e metastática só pode ser combatida com medicamentos e outras tecnologias, cujos custos podem ser altíssimos.
“Identificar o câncer em seus estágios iniciais pode ser decisivo para o sucesso do tratamento, mas só isso não basta – também é preciso iniciar a terapia o quanto antes, quando a doença muitas vezes pode ser controlada por meio de abordagens de custo muito mais reduzido”, enfatiza o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. Paulo Hoff. “Levar isso em consideração é fundamental para cuidar do paciente e também da sustentabilidade dos sistemas de saúde”, acrescenta.
Para aumentar o rastreamento do câncer e combatê-la de antemão, ainda há muitos desafios a serem superados no Brasil. “Hoje, trabalhamos com um modelo de atendimento muito focado em especialidades e não em atenção básica de saúde. A maioria dos pacientes descobre o câncer ao ir a consultas de rotina, como durante a ida anual ao ginecologista”, comenta Dr. Paulo Hoff. “Com a intensificação e o refinamento de um modelo de atenção básica de saúde, com médicos que atuam por uma abordagem mais generalista, como o da família, por exemplo, seria possível identificar precocemente a doença. É preciso mais investimento em prevenção e diagnóstico – e atenção ao tempo de espera pelo início do tratamento”, defende o especialista.
Barreiras
Além da questão do diagnóstico precoce e tratamento imediato, no Brasil, tanto o sistema de saúde público quanto o privado enfrentam outros desafios e entraves. Um dos principais deles é em relação ao abastecimento de medicamentos no SUS. Diversos tratamentos têm passado por longos períodos de interrupção da entrega pelo Ministério da Saúde, como é o caso do anticorpo monoclonal usado em pacientes com câncer de mama HER2 positivo. Outros encontram-se na mesma situação, o que preocupa secretarias de saúde, médicos e pacientes.
Um estudo publicado em 2020 no The British Medical Journal demonstrou que, a cada quatro semanas de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte aumenta em até 13%. “Esses atrasos e interrupções nos tratamentos têm grande impacto no sucesso do controle do câncer, dificultado profundamente a vida dos pacientes.. A SBOC pede ao governo federal que se esforce em manter o cronograma de entregas de medicamentos aos brasileiros em todo o território nacional”, defende Dr. Paulo Hoff.
A incorporação de novas tecnologias também é um ponto de alerta para oncologistas e pacientes de todo o país. Isso porque, além das dificuldades enfrentadas para que os órgãos reguladores incorporem novos medicamentos contra o câncer, mesmo após incorporados muitos deles não são devidamente ofertados à população. No SUS há pelo menos sete tratamentos já incorporados que seguem indisponíveis para o paciente oncológico. Dois deles, contra tipos diferentes do câncer de pulmão, estão há sete anos sem serem adequadamente financiados. Tratamentos incorporados recentemente parecem seguir o mesmo caminho, como a imunoterapia contra melanoma avançado, prestes a completar um ano desde a publicação da portaria que obriga sua cobertura na rede pública.
“A preocupação com o tratamento do câncer é extremamente significativa, pois se trata da segunda doença que mais causa mortes no país. O tratamento do câncer não pode esperar”, avalia o presidente da SBOC.
Pontes
Por mais um ano consecutivo o Dia Mundial do Câncer marca a parceria estabelecida entre a SBOC e a ViaQuatro e a ViaMobilidade, concessionárias responsáveis, respectivamente, pela operação e manutenção das linha 4-Amarela e 5-Lilás de metrô de São Paulo. O objetivo, conta Dr. Paulo Hoff, é “estabelecer pontes entre a oncologia clínica e a população no combate ao câncer”.
Por meio da parceria, mais de 800 folders informativos estão sendo distribuídos pelos nichos de leitura de todas as estações das duas linhas. A ação começa hoje e seguirá até o final do mês. O material, produzido por especialistas associados à SBOC, traz orientações sobre prevenção, diagnóstico e tratamento dos principais cânceres, e pode ser acessado gratuitamente on-line, em sboc.org.br/prevencao.