O Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica é feito por e para aqueles que se dedicam diariamente ao cuidado oncológico, tendo uma programação repleta de atualizações que estão na fronteira do que há de mais novo na especialidade médica. Mas, além das novidades científicas, um dos principais focos do primeiro dia da XXIII edição do evento foi o cuidado com o paciente e a sua possibilidade de acesso aos melhores tratamentos disponíveis.
Nesse sentido, uma das primeiras sessões foi o Programa Especial para Pacientes, organizado em parceria pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e pelo Instituto Oncoguia. Os presidentes de ambas as entidades, respectivamente Prof. Dr. Paulo M. Hoff e Luciana Holtz, comentaram sobre a importância do evento e as mudanças no cenário oncológico.
Luciana ressaltou o fato de que hoje há muitos pacientes oncológicos vivendo por muito tempo e com qualidade de vida após o diagnóstico. “A maioria da população ainda pensa que câncer significa morte. Mas vemos muitos pacientes bens e/ou curados”, comenta.
Corroborando a informação, Dr. Hoff apontou que há mais pacientes com câncer curados do que não curados no Brasil. Muito disso por conta dos novos conhecimentos, tratamentos e medicamentos que despontaram paulatinamente nos últimos anos. Disponibilizar essa tecnologia a todos os pacientes foi um dos principais temas do 1º dia de Congresso.
Trata-se de uma questão de ordem mundial, afinal. “Novas tecnologias têm custo elevado e desafiam sistemas de saúde. O câncer tem causas diferentes e para cada problema há uma solução distinta. Temos que aprender a usar o tratamento certo no caso certo. Para fazer isso no Sistema Único de Saúde (SUS), precisamos aumentar o financiamento”, comentou o presidente da SBOC.
Este assunto foi comentado também durante uma joint session com a European Society for Medical Oncology (ESMO), em que o diretor da entidade Dr. Evandro de Azambuja comentou qual pode ser o papel das entidades médicas nessa discussão.
Sobre incorporação de tecnologia e acesso à imunoterapia, o convidado internacional comentou que a ESMO tem tentado fazer guidelines diferenciadas por regiões. “Na Ásia, por exemplo, há guidelines diferenciados para acomodar o que se pode fazer por lá.”
A entidade europeia também contribui com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para tentar avaliar quais são as drogas cruciais para o tratamento de câncer que os governos deveriam financiar. Isso acontece, conforme explicação de Dr. Azambuja, por meio de uma escala de magnitude do benefício clínico.
Sua exposição foi provocada por Dr. Carlos Gil Moreira Ferreira, presidente eleito da SBOC, que assume o exercício da entidade em 2023. “No Brasil, acredito que a Sociedade irá ter papel fundamental nessa discussão. Vamos precisar ajudar com a definição de graus de priorização”, comentou.
Mais cedo, Dr. Hoff comentou que a tarefa de equacionar esses desafios passa também pelo Governo Federal e que há uma necessidade de interlocução em âmbito nacional. Por isso, outro dos grandes destaques do dia foi a palestra do Dr. Denizar Vianna Araújo, ex-secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.
Seu foco foi a precificação dos medicamentos. “O que é um preço justo? Pela lógica da OMS, é a tentativa de equilibrar o acesso ao medicamento e contemplar a necessidade de investimento em pesquisa e inovação. Não é simples. Parte da crítica da instituição é à falta de transparência da indústria, pois cobra no remédio comercializado o insucesso de outras moléculas que não deram certo”, afirmou Dr. Araújo.
No Brasil, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) tenta equalizar utilizando um modelo de preço de referência internacional. “O órgão olha para a cesta de países internacionais e não pode definir um preço superior ao menor preço daquela lista”, detalhou.
Dr. Araújo também comentou que o país é um dos que mais buscam por transparência nessas negociações, tendo sido signatário de um documento defendendo essa posição enviado à OMS, ao lado de diversas outras nações.
Falando sobre o sistema público, o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. César Eduardo Fernandes, também contribuiu ao debate. “O tratamento oncológico é cada vez mais caro e os recursos são limitados. O subfinanciamento da oncologia certamente existe para outras áreas. Por isso, temos que ter políticas para distribuir o financiamento de forma racional e isenta, para aproveitarmos os parcos recursos que temos.”
Ao longo do primeiro dia de programação, o XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica teve dezenas de sessões e centenas de palestrantes discutindo temas relevantes como economia da saúde, políticas públicas, redes sociais, cuidados paliativos, oncogenética, oncogeriatria, cardio-oncologia e muito mais!
Redes sociais
Por conta da presença cada vez maior de médicos e outros profissionais da saúde nas redes sociais, a organização do evento programou uma sessão especial sobre o tema, com palestras sobre network e desenvolvimento profissional na era digital, o papel das sociedades médicas no cenário de infodemia e os limites na hora de utilizar as ferramentas on-line.
Ao fim das aulas, com intensa participação dos congressistas, aconteceu o workshop “O bê-á-bá das redes sociais”, conduzido por Lucas Bonanno, gerente de Comunicação da SBOC, e Eduardo Ramos, CEO e fundador do Grano Studio, agência de marketing digital. Os especialistas fizeram exposições técnicas sobre as principais redes sociais e o que o futuro nos reserva em termos de tecnologia.
Além disso, foram concedidas dicas práticas sobre como os médicos podem melhorar a suas próprias performances nas redes sociais, mantendo a responsabilidade que os conteúdos científicos exigem, ainda que em meios digitais.