Este artigo foi assinado pelo Dr. Evanius Wiermann, oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), para o Dia Nacional de Combate ao Fumo. O texto foi publicado originalmente no caderno Opinião, do jornal Estado de Minas, no dia 22/08.
Mesmo com a queda de fumantes nos últimos nove anos, o cigarro continua sendo a principal causa de mortes evitáveis no Brasil. Por ano, mais de 200 mil pessoas morrem precocemente – o equivalente a 23 fumantes por hora - vítimas desse vício silencioso e mortal. A inalação de mais de 4.720 substâncias tóxicas, entre elas a nicotina - estimulante perigoso - metais pesados, alcatrão e monóxido de carbono, provoca diversos males. Estima-se que o tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças, muitas incapacitantes e fatais, sendo responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão e 30% das mortes por outros tipos de câncer.
Os malefícios do cigarro para a saúde, que são inúmeros e assustadores, precisam ser reforçados no Dia Nacional de Combate ao Fumo, lembrado em 29 de agosto. Apesar das ações e campanhas de enfrentamento ao tabagismo, como a regulamentação da Lei AntiFumo, a situação ainda é delicada e merece atenção, já que 10,8% da população brasileira é fumante.
O câncer de pulmão é uma das piores doenças relacionadas à nicotina do cigarro. Os fumantes passivos também sofrem. Eles representam 10% dos casos deste tipo de cancer, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) Além de prejudicar a própria vida com a inalação das substâncias tóxicas, o fumante também contamina as pessoas com quem convive. Como 43 substâncias do cigarro são cancerígenas, o tabagismo pode provocar câncer de boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo do útero.
Lamentavelmente, o consumo do cigarro também contribui para 45% das mortes por infartos em pessoas com menos de 65 anos; 25% das mortes por anginas e por infartos do miocárdio; 85% das mortes por bronquite crônica e enfisema pulmonar. O tabagismo ainda pode causar impotência sexual no homem, complicações na gravidez, aneurismas arteriais, úlcera do aparelho digestivo e infecções respiratórias.
Diante desse cenário alarmante provocado pela dependência do fumo, que pode ser evitado, o tabagismo se torna um grande problema de saúde pública. Apesar dessa redução em 30,7% no número de fumantes – em 2006 eram 15,6% e em 2014 caiu para 10,8% -, de acordo com pesquisa inédita realizada pelo Ministério da Saúde, o governo precisa atingir uma meta desafiadora para 2020: reduzir para 9,1% o número de tabagistas no país e evitar muitas outras mortes.
Para além dos cigarros industrializados outra situação preocupa. Um estudo realizado pelo INCA demonstra que o consumo dos cigarros ilegais no país cresceu de 2,4% em 2008 para 3,7% em 2013. Esses produtos também provocam uma série de malefícios no organismo, além de possuírem outro agravante, já que a venda e consumo não é permitido. O uso desta desta droga envolve questões sociais, políticas e de saúde pública.
Essa realidade merece muita atenção na saúde, apesar da luta enfrentada pelo governo. Em março deste ano, o Mistério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram reconhecidos internacionalmente pelo controle ao tabagismo e pelas políticas públicas que estão sendo implantadas. Mesmo com esse histórico de enfrentamento ao tabagismo e resultados que estão surgindo gradualmente, ainda há muito o que fazer.