Após passar por uma grande reformulação, a edição de 2022 do novo Programa de Pesquisa Clínica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) selecionou 12 oncologistas clínicos e os enviou para um processo de imersão e visitas guiadas em quatro dos principais centros de pesquisa clínica do Brasil.
Coordenado pela vice-presidente da SBOC, Dra. Andréia Melo, e o conselheiro fiscal da entidade, Dr. Fábio Franke, o projeto é realizado em parceria com as seguintes instituições: a Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Rio de Janeiro (RJ); o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), em São Paulo (SP); o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), em São Paulo (SP); e o Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia de Ijuí (Oncosite – RS).
“A nova edição do Programa de Pesquisa Clínica foi um sucesso. Com mais participantes e novos centros, foi possível expandir a iniciativa, dando a oportunidade para mais médicos conhecerem os meandros dessas instituições. Assim, pretendemos estimular que esses oncologistas de diferentes regiões se sintam preparados para estruturarem novos serviços de pesquisa oncológica em suas localidades”, diz Dra. Andréia Melo.
Apoiar iniciativas nessa área, inclusive, é uma das missões da SBOC, segundo a vice-presidente da entidade. “Outra ação de sucesso é a nossa Plataforma de Cadastros de Pesquisa Clínica, que visa construir pontes entre oncologistas e pesquisadores de todo o Brasil”, completa.
Além disso, avalia Dr. Fábio Franke, há um ineditismo na edição de 2022 do programa. “O contato direto com todos os profissionais da equipe, entendendo cada setor e o papel que cada um exerce para que um protocolo de pesquisa possa ser aplicado dentro das normas internacionais é uma experiência única. Até então, o que tínhamos eram experiências apenas teóricas. Agora, com esse projeto, o oncologista pôde reconhecer a realidade desses centros”, comenta.
As 12 vagas foram distribuídas entre associados adimplentes da SBOC, que concorreram mediante apresentação de carta de motivação, carta de recomendação, currículo e compromisso de esforços para montar uma estrutura de pesquisa clínica na sua instituição. As visitas ocorreram entre 19 e 22 de outubro.
Visitas aos centros
Quando se fala em estruturar centros de pesquisa relevantes em cidades pequenas, o próprio Oncosite é um exemplo disso. Funcionando dentro do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do Hospital de Caridade local – estruturado por Dr. Fábio Franke – o serviço é um dos principais centros de pesquisa clínica do país, apesar de estar em uma cidade de pouco mais de 80 mil habitantes, próxima à fronteira com a Argentina.
Inspirar-se e reproduzir parte do que ali é feito é um dos desejos de Dr. Pedro Alexandre Silva, oncologista clínico do Rio de Janeiro que esteve no centro gaúcho. Sua intenção é aproveitar o apoio do Centro de Terapia Oncológica de Petrópolis, onde atua, para isso. “Iniciamos um ótimo diálogo com o Comitê de Ética em Pesquisa local e estamos em contato com a indústria farmacêutica. Vemos em nosso cotidiano como os pacientes estão otimistas em relação à ampliação do acesso às possibilidades terapêuticas”, afirma.
Segundo Dr. Silva, as portas do Oncosite foram abertas por Dr. Fábio Franke, com direito a visita por todas as áreas do centro. “Conversamos com os colaboradores e cada um mostrou como executa suas funções de forma direcionada. Assim, o paciente desde o momento em que é recebido no serviço, passando pelo tratamento oncológico, até o retorno para casa, tem toda a sua jornada assistida com as informações necessárias para o protocolo sendo registradas, com uma experiência muito acolhedora.”
Lidar com uma estrutura de alto nível como essa foi uma experiência única para Dra. Gabriela Monte Taveira, de Maceió (AL), que conheceu o Icesp. Ela ressaltou o contato com profissionais que são líderes em suas respectivas áreas. “A experiência que a SBOC proporcionou é de muita credibilidade, pois lidamos com profissionais com gabarito, dentro de um centro de pesquisa que é dos maiores da América Latina”, celebra.
Segundo seu relato, foi importante não somente conhecer o lado do atendimento, mas aprender sobre pontos burocráticos da estruturação de centros de pesquisa, desde questões sobre como montar uma farmácia de manipulação até às necessidades logísticas de envio e recebimento de medicamentos.
“Esses projetos de incentivo que a SBOC tem feito são de suma importância, pois vamos a campo e estreitamos laços de networking, vendo como funciona para que a gente tente replicar em nossos estados, organizando equipes, serviços e estrutura, além de contar com apoio dos gestores. Com pesquisa clínica, todos ganham: do hospital aos pacientes”, argumenta Dra. Gabriela.
Outro contemplado que veio a São Paulo foi Dr. Gustavo Couto Rosa Lopes, de Passos (MG). Em sua visita ao Idor, ele notou como o setor de pesquisa evoluiu ao longo dos anos. “Foi uma experiência enriquecedora. Tive contato com centros de pesquisa clínica há vários anos, durante minha formação, quando se fazia tudo manuscrito. Evoluções ocorreram desde então, embora o ritual permaneça em sua essência”, descreve.
Agora, o objetivo é replicar algo do que aprendeu no centro de pesquisa clínica do Hospital Regional do Câncer de Passos. Segundo Dr. Lopes, a instituição já está buscando apoio externo e o programa da SBOC foi não somente necessário, como fundamental. “Além disso, é necessário se ter uma boa base prévia e perseverar na busca de soluções para todos os detalhes. Superar dificuldades sempre foi desafiador, principalmente para nós que levamos a oncologia para o interior do país. Mas estamos dispostos!”, antecipa o oncologista.
Reproduzir o conhecimento aprendido nesses poucos dias foi mesmo o mote principal dos participantes. Dr. Carlos Diego Holanda Lopes, de Fortaleza (CE), acredita que a partir da experiência que teve na Divisão de Pesquisa Clínica do INCA, poderá contribuir com o desenvolvimento da pesquisa clínica no Ceará, possibilitando a implementação de novos ensaios clínicos e a formação de recursos humanos.
“Foi uma oportunidade única conhecer esse tradicional e importante centro de pesquisa clínica. Pude acompanhar todas as etapas de funcionamento de um grande serviço, vivenciando em tempo real todos os processos de desenvolvimento de um ensaio clínico. Toda essa troca de ideias com os pesquisadores envolvidos foi enriquecedora para minha formação”, finaliza Dr. Lopes.