A data 31 de março é conhecida mundialmente como o Dia Internacional da Visibilidade Transgênero – campanha criada em 2009 pela ativista norte-americana Rachel Crandall com o objetivo de conscientizar a população sobre a discriminação enfrentada por essa população, além de comemorar as suas contribuições para a sociedade. Na área da oncologia, os desafios envolvem desde acesso a serviços básicos de saúde até falta de conhecimento adequado por parte de profissionais que atendem esses pacientes.
De acordo com os membros do Comitê de Diversidade da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) – iniciativa criada no começo deste ano com o objetivo de refletir os cuidados oncológicos de forma múltipla e diversa – as pessoas trans enfrentam muitas barreiras em relação à prevenção e ao tratamento do câncer. Existem evidências científicas, porém, que mostram que essa população pode se beneficiar dos mesmos métodos que são recomendados para a sociedade como um todo.
Além das recomendações de prevenção mais comuns contra o câncer, como manter um estilo de vida saudável, dieta equilibrada, atividade física regular, abstinência do tabaco e limitação do consumo de álcool, as pessoas trans e os profissionais de saúde que atendem essa população precisam ter atenção especial com o uso de hormônios, potencial fator de risco para o surgimento de tumores, e com maior vulnerabilidade para infecção do HPV.
Em relação ao tratamento das pessoas trans, o Comitê ressalta a necessidade de os profissionais de saúde estarem cientes das diferenças anatômicas e fisiológicas entre os corpos cisgênero e transgênero. Homens trans, por exemplo, podem precisar de exames de mama e ginecológicos, enquanto mulheres trans podem necessitar de exames de próstata.
O Comitê de Diversidade da SBOC aproveita a ocasião da data para também chamar a atenção sobre a importância das pessoas trans terem acesso a serviços de saúde que respeitem sua identidade de gênero e ofereçam assistência integral necessária para prevenir e tratar o câncer. Segundo o grupo, ao reconhecer as necessidades específicas de saúde da população trans, é possível ajudar a melhorar as condições médicas de atendimento e garantir que todos tenham acesso a cuidados de saúde equitativos e de qualidade.
Acesso da população LGBTQIA+ à saúde
Recém-publicado, o estudo brasileiro “Transforming the invisible into the visible: disparities in the acess to health in LGBT+ older people”, conduzido por especialistas da Universidade de São Paulo, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Caetano do Sul e da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, jogou luz sobre o assunto.
O trabalho mediu variáveis de acesso à saúde de pessoas de 50 anos ou mais e comparou os dados dos indivíduos LGBTQIA+ com os dos heterossexuais cisgênero, reunindo mais de 6.500 participantes.
No geral, os dados indicaram um limitado acesso à saúde para 41% da população LGBTQIA+ negra pesquisada e 29% para os brancos. Por outro lado, apenas 17% dos cisgêneros heterossexuais brancos têm acesso limitado. Entre os negros cis e héteros, o número salta para 28%. Os autores chamam atenção para o pequeno número de transgêneros pesquisados, restringindo considerações específicas sobre essa população.
Agora, o artigo será um dos temas de debate em live organizada pelo A. C. Camargo Cancer Center para discutir a saúde das mulheres trans. Membro do Comitê de Diversidade da SBOC, o enfermeiro oncológico Ricardo Sant’Ana será um dos debatedores, ao lado da oncologista clínica Dra. Maria Nirvana da Cruz Formiga, do enfermeiro David Siqueira Gonçalves, e de Ariel Matos Brito, mulher trans graduanda em serviço social e assessora parlamentar da deputada Linda Brasil.
A transmissão ocorrerá em 12 de abril, a partir das 18h30.