Este artigo foi assinado pelo Dr. Evanius Wiermann, oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), para o Dia Mundial do Câncer de Cabeça e Pescoço. O texto foi publicado originalmente no caderno Opinião, do jornal Estado de Minas, no dia 20/07.
Um nódulo persistente no pescoço, uma lesão na boca e rouquidão prolongada são sintomas a se preocupar, pois podem ser indicativos de câncer de cabeça e pescoço. Considerada a quinta neoplasia mais comum no mundo, os números da doença são alarmantes. Segundo dados do INCA, em 2015, o número de novos casos deve ser superior a 19 mi e 600 mil pessoas em todo o mundo. Para conscientizar a população sobre os principais fatores de risco para a doença, a importância da prática de hábitos saudáveis e do diagnóstico precoce, o dia 27 de julho foi intitulado como Dia Mundial de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. A data foi criada durante o V Congresso Mundial de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, realizado em 2014.
A falta de informação é um dos fatores que mais agravam a ocorrência destes cânceres. No Brasil, 70% dos pacientes diagnosticados com a doença já estão em estágio avançado. Quando diagnosticado em estágio inicial, a possibilidade de cura desse tipo de câncer chega a 80%. Maus hábitos como beber e fumar multiplicam em até 20 vezes a chance de uma pessoa saudável desenvolver a doença nestes locais. Estudos epidemiológicos demonstram que a exposição ao tabaco e ao álcool são os principais fatores causais associados ao desenvolvimento do carcinoma espinocelular, que é o tumor mais frequente do trato aerodigestivo superior. O papilomavírus humano (HPV) também tem surgido como causa de muitos desses tipos de tumores. Os de maior risco são os tipos 16 e 18. A principal forma de transmissão deles é pela via oral-genital.
Estes tumores podem se desenvolver na cavidade oral, nasofaringe, orofaringe, hipofaringe, laringe, cavidade nasal e seios paranasais, glândulas salivares, que são áreas responsáveis por funções como a fala, deglutição, respiração, paladar, olfato e outros. A complexidade do tratamento e da reabilitação dos pacientes com tumores de cabeça e pescoço exige uma equipe multidisciplinar altamente especializada. Por isso, a abordagem envolve oncologista, cirurgião de cabeça e pescoço, radioterapeuta, bem como profissionais da odontologia, nutrição, psicologia, enfermagem e fonoaudiologia. Com isso, valoriza-se ao máximo a preservação do órgão e de suas funções.
Estes tipos de cânceres possuem diversos tipos de sintomas, mas muitas vezes eles não são levados a sério. Por exemplo, quando o tumor atinge as cordas vocais, pode causar rouquidão. Caso seja na parte mais alta das cordas, pode causar dificuldade de engolir. Se o câncer atingir a boca, o paciente pode desenvolver uma ferida que não cicatriza, alterações dentárias ou até mesmo dificuldade em fixar próteses dentárias. Quando surge na orofaringe pode aparecer sintomas como nódulos no pescoço, dificuldade de engolir alimentos, dor no ouvido.
A prevenção da neoplasia é essencial tanto para a cura do paciente quanto para a não ocorrência de sequelas graves. Além de adotar bons hábitos alimentares, é essencial manter uma boa higiene bucal, ter os dentes tratados e fazer uma consulta odontológica de controle a cada ano. Uma dieta saudável, rica em vegetais e frutas, é capaz de prevenir o câncer de cabeça e pescoço.
O câncer de pele na região também é freqüente. Para prevení-lo, deve-se evitar a exposição ao sol ou utilizar proteção como filtro solar e chapéu de aba longa.