A Agência Nacional de Segurança de Medicamentos da França (ANSM) pode proibir, dentro de alguns dias, o implante de próteses mamárias no país. Um estudo realizado pelo Instituto Francês do Câncer (Inca), divulgado na semana passada, relaciona o uso de alguns tipos de silicone ao desenvolvimento de um tipo raro de câncer, o linfoma anaplásico de células grandes.
De acordo com a pesquisa, apenas portadores próteses mamárias desenvolveram a doença. No entanto, o número de pacientes nos quais o linfoma foi detectado ainda é muito baixo para que as conclusões sejam definitivas.
Por isso, a ministra francesa da Saúde, Marisol Touraine, pediu calma aos portadores de silicone e descartou a necessidade que os pacientes os retirem imediatamente. "Esta é uma patologia nova, sobre a qual ainda temos pouco conhecimento", explica a diretora do departamento de recomendações do Inca, Chantal Belorgey.
Atualmente, cerca de 400 mil pessoas têm implantes mamários na França. Para 83% desses pacientes, as próteses são estéticas. Outros 17% as utilizam após uma cirurgia de reconstrução, especialmente após um câncer de mama.
Berlorgey explica que o Inca adotou um dispositivo para identificar os pacientes, para monitorá-los. "Os 18 casos que analisamos ainda não nos permitem tirar conclusões definitivas. O que é certo é que precisaremos revisar os resultados dessa pesquisa no futuro", reitera.
Resultados inéditos
No total, o estudo do Inca detectou o linfoma anaplásico de células grande em 18 mulheres na França desde 2011. Destas, 14 utilizavam próteses da marca Allergan. O único caso fatal foi de uma paciente que usava uma prótese da marca PIP, empresa que protagonizou um escândalo mundial por produzir silicone defeituoso, colocado em mais de 300 mil pessoas entre 2001 e 2010.
"É essencial ter a consciência de que a patologia detectada não é um câncer de mama ou uma metástase de outro câncer. O linfoma anaplásico de células grandes foi encontrado em torno das próteses mamárias e é uma doença relacionada às células do sangue e não dos seios", explica Berlorgey.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Evanius Wiermann, o principal resultado da pesquisa é o papel de uma reação imunológica da prótese. "Um dado interessante é que boa parte dos pacientes foi tratada só com a retirada do implante. E, claro, depois continuava-se o tratamento com quimio e radioterapia", explica.
Patologia raríssima
Dr. Evanius Wiermann ressalta que o linfoma anaplásico de células grandes é raríssimo e, até que sejam comprovados, os riscos que as próteses resultem no desenvolvimento dessa patologia ainda são mínimos. "Mas também é importante que haja a conscientização dos profissionais para que alertem seus pacientes sobre essa possibilidade", aconselha.
Para evitar o pânico, ele aponta a importância de os portadores de próteses mamárias se manterem informadas sobre a situação. "Talvez os pacientes que utilizam implantes da marca Allergan devam procurar seus médicos para que elas sejam eventualmente trocadas. Mas, ainda assim, é importante que todos saibam que esta patologia, independente da marca da prótese, é muito rara", considera.
Fonte: RFI