A Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira, defendeu nesta terça-feira, 18 de março, durante audiência pública da Câmara dos Deputados, a ampliação das ações de prevenção e rastreio dos tumores de mama e ginecológicos no sistema público de saúde.
A audiência ocorreu a pedido do deputado Weliton Prado, que lamentou o fato de uma mulher morrer por câncer de mama a cada 30 minutos. “Estamos falando de um câncer com muita chance de cura. Infelizmente, muitas pacientes vão a óbito por falta de acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequado no tempo correto”, comentou. “No mês que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, precisamos unir esforços para que a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) seja efetiva, garantindo diagnóstico precoce para salvar muitas vidas”, completou o parlamentar.
No Brasil, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 100 mil mulheres desenvolvem, anualmente, tumores de mama, de útero, de endométrio (ou de corpo do útero) e de ovário.
Para a Presidente da SBOC, um esforço para mitigar estas doenças teria impacto significativo no cenário nacional da oncologia e da saúde de forma geral.
“Precisamos trabalhar para garantir o básico. O Brasil tem políticas subutilizadas. Queria chamar para este debate: tentarmos otimizarmos o uso do que temos”, comentou a oncologista que participou do evento de forma virtual. “Sempre falamos de incorporação de tecnologias – que são, sim, necessárias –, mas não estamos fazendo o mínimo em termos de prevenção e rastreio”, complementou Dra. Angélica.
Panorama do câncer entre as mulheres
Atualmente, o governo define como estratégia de rastreamento do câncer de mama a mamografia em mulheres a partir de 50 anos, a cada dois anos. “Essa estratégia mínima atinge um terço das brasileiras, mesmo que tenhamos mamógrafos e exames gratuitos. Precisamos rever estratégias de educação e de alerta. Quase todo cidadão tem smartphone e internet, é necessário alertar a população do atraso em seus exames”, defendeu a Presidente da SBOC.
A oncologista clínica também ressaltou que, desde 2013, as Sociedades de especialidades recomendam que a mamografia seja feita anualmente a partir dos 40 anos. Atualmente, cerca de 30% dos casos de câncer de mama no Brasil são entre pacientes com menos de 50 anos.
Em relação ao câncer gastrointestinal, que está crescendo em incidência e mortalidade no Brasil, Dra. Angélica acredita que o programa de rastreio esteja muito aquém do necessário. Um exame bastante simples como o de sangue nas fezes pode ser indicativo de um possível tumor.
“Em países com rastreio, como os Estados Unidos, há uma redução da incidência e da mortalidade. Se encontramos um pólipo e retiramos, evitamos o desenvolvimento de um câncer”, explica. “Os tumores gastrointestinais são evitáveis e com prevenção primária ou secundária, não precisamos de tratamentos caros, reduzimos mortalidade e também a morbidade”, acrescenta.
Em relação ao câncer ginecológico, ela aponta que o Brasil já incorporou a ferramenta mais importante: a vacinação contra o HPV – responsável pela quase totalidade dos casos de câncer de colo do útero. Atualmente, a vacina quadrivalente está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e retornou ao âmbito escolar.
A meta é voltar para o índice de vacinação de 90% do público-alvo, algo já realizado em 2014, antes de a imunização ser retirada das escolas. O importante, argumenta, é monitorar a adesão à vacina, bem como à utilização do exame HPV DNA, uma tecnologia simples e eficaz de detecção do vírus recentemente incorporada pelo SUS.
Menos conhecido que os demais, o câncer de corpo do útero (ou endométrio) também foi destacado pela Presidente da SBOC. “Falta educação sobre este tumor para a população. Os pacientes nunca ouviram falar. A mensagem que o Ministério da Saúde tem que passar é: sangramento pós-menopausa precisa de avaliação imediata. Não há forma de rastreio, mas não existe um programa de conscientização sobre”, argumentou.
Entre outros temas, Dra. Angélica lembrou do Índice de Priorização de Medicamentos para Incorporação no SUS e Saúde Suplementar, documento da SBOC que pretende definir o que é prioridade para ser incorporado. “Levamos em conta benefício clínico, necessidade não atendida, carga da doença, se está ou não na lista da Organização Mundial de Saúde, parâmetros de custo-efetividade e impacto orçamentário. Com isso, a droga ou tecnologia ganha uma nota e conseguimos apoiar o governo nas suas tomadas de decisão”, explicou.