Este artigo foi assinado pelo Dr. Evanius Wiermann, oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O texto foi publicado originalmente no dia 24 de outubro no caderno "Opinião" do jornal Hoje em Dia.
Outubro é o mês da reta final das eleições 2014. Não podemos deixar que o verde e amarelo que inflama a população brasileira para um compromisso cível ofusque o brilho rosa que dita uma das mais nobres campanhas de prevenção contra o câncer de mama, o Outubro Rosa. Neste momento, pensar em quem poderá ganhar ou perder os cargos mais cobiçados da república, é da ordem do ponderável. Os futuros comandantes do legislativo e executivo encontrarão pela frente um país que agoniza em várias questões, mas principalmente na saúde pública. Na oncologia não é diferente. Milhares de pessoas morrem anualmente vitimadas pelo câncer. O câncer de mama, segundo tipo mais freqüente no mundo e o mais comum entre as mulheres, responde por 22% dos casos novos a cada ano. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados mais de 57 mil casos neste ano e cerca de 13 mil mortes.
Iniciado em 1997 na Califórnia, o movimento Outubro Rosa ganhou esta cor para conscientizar as mulheres - embora 0,8% dos casos serem também associados aos homens- sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, que aumenta consideravelmente as chances de cura da doença. O convite à campanha é mais sério do que simplesmente entrar na “onda” do movimento.
A cultura do autoexame, das visitas ao médico e da realização da mamografia a partir dos 40 anos para algumas mulheres e 35 anos para outras, precisa passar do discurso para a prática. Mesmo quem tem condições de realizar essas ações muitas vezes não as realizam. É a máxima de que a doença só acontece com o outro. Mas, sabemos muito bem que ela tem atingido milhares de mulheres.
Apesar dos dados alarmantes, o câncer de mama precisa ser desmistificado. Ele não é uma sentença de morte. É uma doença que tem grandes chances de cura, se diagnosticado em sua fase inicial, ou mesmo se tratado corretamente. O importante é que saibamos que o câncer de mama não é uma única doença e sim uma junção de várias neoplasias. Oncologistas de todo o mundo, de planos de saúde ou mesmo do SUS começam a abordar a oncologia de forma personalizada. Esse é o novo caminho.
É preciso que toda a sociedade médico-científica não trate o câncer de mama com uma abordagem única. Cada mulher vai precisar de um tratamento específico. Nem sempre a paciente reage bem à quimioterapia. A depender de seu tipo de câncer de mama, o médico pode utilizar um tratamento à base de hormônios ou mesmo os dois juntos. Incentivar esse procedimento é importantíssimo para reduzir a toxicidade e promover o bem-estar das pacientes. Prevenção e melhor tratamento são palavras de ordem. Outubro já é rosa. Essa é uma pauta que deve ganhar foco todos os meses do ano e ser debatida constantemente em nossa sociedade.