NOTA DA ORGANIZADORA
A primeira descrição médica do câncer data de 2500 a.C., confirmada pela seguinte descrição em um texto egípcio: “um tumor saliente no peito (...) como tocar uma bola de papel. Sobre o tratamento? Não existe”.
Durante séculos, o câncer foi tratado como fenômeno oculto e não como enfermidade médica. O medo, o desconhecimento, a forma assustadora do seu comportamento e o desfecho final, além da impotência diante daquele mal, fizeram com que essa doença praticamente desaparecesse da história da medicina antiga.
A renascença foi um dos períodos mais importantes da história da humanidade, não somente pelo crescimento intelectual como pelo desenvolvimento artístico na Europa. Dessa feita, os cientistas e pensadores começaram a se desvencilhar das visões tradicionais que regiam a medicina, e o foco dos tratamentos deixou de ser um equilíbrio natural de ordem divina, avançando através do método científico. As raízes da medicina científica ganharam solidez pela condução de experimentos, coleta de observações e conclusões.
Nesse período, o anatomista Andreas Vesalius, professor da Universidade de Pádua, publicou um texto ricamente ilustrado sobre anatomia e iniciou pesquisas sofre a bile negra, fluido que acreditava ser o responsável pelo câncer. Vesalius foi o fio condutor, ou, por assim dizer, o introdutor da pesquisa contra o câncer, e, da mesma maneira, ao longo dos séculos, tantos pesquisadores deixaram a sua contribuição na história dessa doença.
Dos muitos, citamos: Halsted, o pai da mastologia; Marie e Pierre Curie, descobridores do rádio, que deu origem ao tratamento da radioterapia; Sidney Farber, que isolou o análogo do ácido fólico, que matava rapidamente células que se dividiam na medula óssea; Percivall Pott, que observou que o câncer de testículo ocorria de forma desproporcional em adolescentes limpadores de chaminés e, por conseguinte, relacionou a fuligem ao câncer. Na contemporaneidade, não poderíamos esquecer de Robert Weinberg, que comparou genes distorcidos em camundongos e em células cancerosas humanas; de Judah Folkman, o pai da teoria da angiogênese; e de todos os cientistas envolvidos no sequenciamento do genoma humano.
Diante do exposto, compreende-se hoje a dificuldade que tantos ainda têm em abordar o tema e a necessidade do investimento não somente em pesquisas clínicas, como também em projetos educacionais, tendo em vista o impacto social, econômico, cultural, familiar e ambiental que cercam essa patologia.
A obra Câncer 360º, Orientações para uma Vida Melhor foi desenvolvida com base nos múltiplos questionamentos que envolvem o universo do paciente, de seu familiar e do mundo que o rodeia. A concepção desse modelo de livro foi baseada na grande quantidade de informações truncadas, fragmentadas e, em muitos casos, sem embasamento teórico, encontradas em revistas, folhetins e principalmente no mundo virtual, que cotidianamente assustam e confundem aqueles que procuram respostas para as suas dúvidas.
Essa não é meramente uma obra, mas um projeto que tem por objetivo a busca incessante por informações coerentes e baseadas em evidência traduzidas numa linguagem clara, objetiva com intuito de desmitificar o universo que envolve essa patologia. 11
De forma alguma, conseguiremos esgotar um tema tão amplo, contudo esse projeto será o embrião de muitos outros que se farão necessários, com o objetivo único de esclarecer a população e trazer alento e qualidade de vida àqueles com diagnóstico de câncer.
Cristiana de Lima Tavares de Queiroz Marques
PREFÁCIO
A mais antiga evidência histórica do câncer remonta a 8.000 a.C. quando um tumor ósseo, hoje denominado osteossarcoma, foi encontrado em fósseis egípcios. Hipócrates, o pai da medicina, que viveu entre 460 e 370 a.C., cunhou a palavra “câncer” e usou os termos “carcinos” e “carcinoma” para descrever certos tipos de tumores. Os significativos avanços da medicina florescem na Renascença e, nesse contexto, Michelangelo, retrata, em sua famosa escultura “A Noite” (La Notte), uma mulher com câncer de mama teorizado pelo aspecto disforme de seu seio, algo praticamente impossível quando se trata de um dos escultores e anatomistas mais célebres da história.
Durante décadas, a palavra câncer foi temida, portadores dessa doença eram estigmatizados, considerados verdadeiras vítimas da fúria demoníaca, sofredores de castigo mortal. Tão forte era a palavra câncer que não se podia ouvir, tampouco falar. Era dita em meias palavras: CA, ou codificada: fulano está com aquela doença... Felizmente, a luz do conhecimento emana nas áreas do diagnóstico, do tratamento e da bioengenharia, possibilitando uma mudança vertiginosa nessa visão catastrófica sobre a doença e preconceituosa sobre sua vítima.
O projeto Câncer 360º, Orientações para uma Vida Melhor é uma obra valorosa pelo sentido de integração entre o paciente, a doença e o profissional, na busca pelo saber, pelo conhecimento e, portanto, pela desmistificação dessa patologia. Os autores foram extremamente felizes na maneira clara e precisa como abordaram o tema. Essa obra foge da velha retórica dos manuais de orientações, tendo sido desenvolvida para ser lida e introjetada, o que permitirá o encontro com a fé, com o equilíbrio e com o bem-estar físico psíquico e social. Orgulha-me prefaciar uma obra dessa natureza, que tem como objetivo a cultura do bem viver e como fim o bem-estar daqueles que vivem, que viveram ou que acompanharam algum ente querido nesta árdua batalha.
Eriberto de Queiroz Marques