Entre os 13 antineoplásicos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último ano, está o ramucirumabe (Cyramza®) para câncer de estômago ou gástrico avançado. De acordo com o Dr. Rui Weschenfelder, membro do Conselho Fiscal da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a chegada do medicamento ao mercado brasileiro é um avanço. “Ficamos alguns anos sem novidades no tratamento de pacientes com esta doença”, relata.
O câncer de estômago é o terceiro mais incidente sobre os homens brasileiros e o quinto entre as mulheres. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa era de 20.520 novos casos em 2016 e 14.182 mortes atribuíveis a este tumor em 2013. Cerca de 65% dos pacientes diagnosticados têm mais de 50 anos.
Entre a aprovação pela Anvisa e o início das vendas no país foram cinco meses para precificação e disponibilização em frascos de 100 mg e 500 mg, processo finalizado em julho de 2016. “Como a aprovação é recente, ainda são poucos os pacientes que receberam o ramucirumabe. A autorização pelos planos de saúde tem sido gradual”, afirma o Dr. Rui Weschenfelder.
O especialista lembra que o ramucirumabe está indicado após o uso de quimioterapias das classes fluoropirimidinas ou platinas. A medicação pode ser administrada em combinação com outro quimioterápico (paclitaxel) ou isoladamente. Seu mecanismo de ação consiste em bloquear a ativação do VEGFR tipo 2, inibindo a neovascularização e o crescimento tumoral.
Resultados dos estudos clínicos
O ramucirumabe foi objeto de dois grandes estudos clínicos randomizados, duplo-cegos, placebo-controle, fase 3: Regard e Rainbow. No primeiro, publicado em janeiro de 2014 no The Lancet, os pacientes com câncer gástrico avançado ou adenocarcinoma da junção gastroesofágica que progrediram após primeira linha de tratamento com regimes contendo platina ou fluoropirimidina foram randomizados para receber tratamento clínico de suporte associado a placebo ou a ramucirumabe. Houve um aumento da mediana da sobrevida de 5,2 meses com ramucirumabe vs 3,8 meses com placebo. O índice de hipertensão foi maior no grupo do ramucirumabe. Outros eventos adversos foram similares entre os grupos.
No Rainbow, publicado em outubro de 2014 no The Lancet Oncology, pacientes com diagnóstico de adenocarcinoma gástrico ou da junção gastroesofágica avançados que progrediram após primeira linha de tratamento de quimioterapia com platina mais fluoropirimidina associada ou não a antraciclina foram randomizados para receber paclitaxel mais ramucirumabe ou paclitaxel mais placebo. Neste estudo, também houve aumento significativo de sobrevida global favorecendo o grupo que recebeu paclitaxel mais ramucirumabe (mediana de 9,6 meses vs 7,4 meses).
A incidência de eventos adversos de grau 3 ou mais foi maior no grupo de ramucirumabe mais paclitaxel, incluindo neutropenia, leucopenia, anemia, hipertensão, dor abdominal e fadiga. A incidência de neutropenia febril maior ou igual a grau 3 foi baixa em ambos os grupos.
“Com um perfil de efeitos secundários favorável em comparação com a quimioterapia citotóxica, o ramucirumabe tornou-se uma opção útil no tratamento de segunda linha ou em associação com paclitaxel para doentes com performance e funções orgânicas preservadas. Progressos têm sido feitos na compreensão da patogênese e da biologia molecular do câncer gástrico, assim como na otimização dos recursos de tratamentos disponíveis. Entretanto, no futuro, o foco deverá ser um maior aprofundamento na taxonomia do câncer gástrico, ajustando melhor as estratégias de tratamento e desenvolvendo novas drogas para pacientes com câncer gástrico avançado.” (Lancet 2016; Gastric cancer).
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