Novos cursos de medicina como os da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos e da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein optaram por distribuir os conceitos de oncologia durante os seis anos de graduação. A iniciativa busca uma forma mais interdisciplinar de ensinar aos futuros médicos a epidemiologia do câncer e como diagnosticar uma neoplasia ou mesmo realizar diagnóstico diferencial.
A preocupação com o ensino da oncologia na graduação é grande diante dos números. Levantamento recente do Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP), mostra que a disciplina é ofertada em apenas 25,7% dos 159 cursos com grade curricular disponível. E mesmo nesses casos, a carga horária é baixa: de 30 a 40 horas de um total de pelo menos 5 mil horas teóricas da graduação. “Boa parte dos currículos médicos não se adaptou às mudanças da medicina”, avalia a Dra. Silvia Brandalise, presidente do Boldrini. “Isso é muito grave porque a suspeita do câncer é do clínico, do pediatra, do ortopedista”, ressalta.
O Dr. Sergio Vicente Serrano, diretor geral da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos, conta que lá a oncologia não é uma disciplina separada. Os conceitos da área permeiam toda a formação dos acadêmicos. Eles aprendem, por exemplo, biologia molecular, prevenção, rastreamento, abordagem de más notícias, reabilitação e cuidados paliativos. “Os alunos acessam frequentemente o Hospital de Câncer de Barretos, onde têm contato com profissionais experientes atuando em todas essas áreas”, descreve o diretor. “A integração é uma importante característica da nossa metodologia”, aponta. A primeira turma do curso se forma em 2017.
Outro curso recém-criado aposta no ensino da Oncologia do primeiro ao sexto ano. Na Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, que abriu as portas no ano passado e terá os primeiros formandos em 2021, a oncologia tampouco existe como disciplina isolada. “O conteúdo é distribuído nas grandes áreas de acordo com o momento do aprendizado”, diz o Dr. Julio Cesar Martins Monte, coordenador da graduação. “Saímos muito das especialidades no nosso curso, pois o foco é propiciar uma formação sólida geral”, explica.
Novidades também na FMUSP
Na tradicional Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), de 104 anos, também estão ocorrendo mudanças. Segundo o Dr. Daniel Fernandes Saragiotto, vice-coordenador do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), até 2014, a carga horária total da oncologia era de somente 24 horas. Agora, após uma revisão profunda do currículo, passou a existir uma integração com outras disciplinas de forma a priorizar o diagnóstico precoce e os tratamentos curativos, além dos principais conceitos de acompanhamento do paciente com câncer. A disciplina de oncologia foi mantida; terá maior carga horária e será ministrada no quarto ano, mas com inserções nos outros anos também. O especialista conta que o Icesp pertence ao complexo Hospital das Clínicas-FMUSP e, assim, tem participado do processo de atualização do currículo médico. “Ano a ano estamos trabalhando para adequar a grade à medicina atual e já percebemos os benefícios dessa abordagem integrada”, destaca o oncologista.