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A Resolução nº 2.162 do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada no Diário Oficial da União, reconhece a Oncologia Clínica como especialidade médica em nosso país. A publicação homologa a Portaria nº 1/2017 da Comissão Mista de Especialidades, formada pelo próprio CFM, pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Comissão Nacional de Residência Médica, esta última vinculada ao Ministério da Educação. “Essa é uma luta de quase 40 anos, desde que a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica foi fundada”, conta o presidente da SBOC, Dr. Gustavo Fernandes. “Fico muito feliz por termos alcançado esta grande vitória, fruto de muito empenho nos trâmites exigidos, e que significa um marco na história da nossa Sociedade”, completa.
O presidente da AMB, Dr. Florentino Cardoso, classifica como “correta e importante” a decisão da Comissão Mista de Especialidades. “Desejamos que, cada vez mais, a especialidade cresça, seus médicos sejam valorizados e que, juntos, possamos ter profissionais dedicados e capazes para oferecer o que há de melhor para a população”, afirma. “Sabemos quão fundamental é uma especialidade como a Oncologia Clínica em um país que envelhece muito rapidamente e onde muitos precisarão da competência e da dedicação dos oncologistas clínicos.”
O reconhecimento da Oncologia Clínica como especialidade médica – e não mais como uma área da Cancerologia – já havia sido aprovado pelo Conselho Científico da AMB, de forma unânime, há alguns meses. A oficialização teve de ser aguardada até agora porque é a Portaria nº 1/2017 da Comissão Mista de Especialidades que atualiza a lista de todas as especialidades e áreas de atuação médicas no Brasil. A partir dessa publicação, o país conta com 55 especialidades médicas e 59 áreas de atuação.
Também foi reconhecida como especialidade médica a Cirurgia Oncológica, enquanto a Oncologia Pediátrica ficou como área de atuação da Oncologia Clínica, da Hematologia e Hemoterapia e da Pediatria. A Cancerologia não consta mais na lista oficial da Comissão Mista de Especialidades.
Representação oficial
Em breve, a Associação Médica Brasileira abrirá um edital público para a apresentação de candidaturas à representação da especialidade Oncologia Clínica em seu Conselho Científico. “Obviamente, a SBOC tem credibilidade, musculatura e conteúdo para pleitear essa representação na AMB”, diz o Dr. Florentino. “Esta é a nossa expectativa, tendo em vista que foi a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica a responsável pelo pleito do reconhecimento da especialidade”, afirma o Dr. Gustavo Fernandes.
O Ministério da Saúde comprou, sem licitação e com base no menor preço, a L-asparaginase chinesa para o tratamento de 4 mil crianças com leucemia linfoide aguda. Médicos brasileiros têm alertado, desde março, que a substância (Leuginase®), do laboratório Beijing SL Pharmaceutical, representado pela empresa uruguaia Xetley S.A., não tem eficácia e segurança comprovadas.
Segundo reportagem do “Fantástico”, da Rede Globo, o Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP), hospital de referência no tratamento de câncer, fez um exame de espectrometria de massas para conhecer a composição da Leuginase®. O medicamento chinês foi analisado pela Laboratório Nacional de Biociências, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. O resultado do teste foi posteriormente examinado pelos pesquisadores do Centro Infantil Boldrini, que compararam a Leuginase® à medicação alemã utilizada antes. A análise encontrou uma grande quantidade de impurezas na asparaginase chinesa. Enquanto a droga alemã tem três contaminantes, no medicamento chinês foram encontradas 398 impurezas, ou seja, 130 vezes mais.
De acordo com Antonio Carlos Zanini, ex-secretário nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, ouvido pelo “Fantástico”, o resultado “foge totalmente às normas básicas de produção de um mundo moderno”. “Não se sabe se é seguro. É altamente provável que seja tóxico. Não dá nem para iniciar teste em humano. Deveriam parar imediatamente toda a aplicação porque é extremamente perigoso. Tem o risco de provocar um choque anafilático, uma reação alérgica forte, e a criança morrer, além de não saber se é efetivo”, afirmou ao programa dominical.
A Dra. Silvia Brandalise, oncologista pediátrica e presidente do Centro Infantil Boldrini, disse à reportagem da Globo que a presença das proteínas contaminantes na Leuginase® pode provocar uma produção de anticorpos que destroem a asparaginase. “É uma ação antagônica em relação ao que se pretende, que é uma potencialidade de 100% da asparaginase”, explicou. O Centro Infantil Boldrini encomendou novos testes a universidades brasileiras e a um laboratório norte-americano.
Entrevistada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a Dra. Silvia Brandalise apontou uma possível menor biodisponibilidade da droga produzida na China decorrente do excessivo número de contaminantes. “Esses peptídeos contaminantes interferem não somente na imunogenicidade da droga, como possivelmente contribuem para mais efeitos colaterais”, reforçou. “Em decorrência da menor efetividade do esquema terapêutico, sobrarão mais células leucêmicas no organismo do paciente. Com a doença residual mínima (DRM) positiva ao final das quatro primeiras semanas, são maiores as chances de recidiva da doença, com posterior morte do paciente”, alertou.
Contestações
O Conselho Federal de Medicina (CFM) apresentou, em maio, pedido ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que avalie as denúncias junto ao Ministério da Saúde. Para o Dr. Carlos Vital, presidente do CFM, a medicação anteriormente utilizada, importada dos Estados Unidos e da Alemanha, deve ser retomada em caráter emergencial. “Não se pode expor os pacientes ao risco”, ressaltou.
“Cabe ao CFM zelar pela boa prática da medicina. A recomendação do Ministério da Saúde para se usar este medicamento no combate à leucemia linfoide aguda se traduz como uma grave imperícia”, avaliou a Dra. Brandalise.
Em junho, o Ministério Público Federal recomendou ao Ministério da Saúde a suspensão da compra e distribuição na rede pública da Leuginase®, o recolhimento dos lotes já distribuídos e a aquisição, em regime de urgência, do medicamento Aginasa®, produzido pelos laboratórios Kywoa Hakko/Medac (japonês e alemão), já utilizados no país e sem ressalvas entre a comunidade médica. O CFM e a Associação Médica Brasileira manifestaram-se em apoio ao MPF.
O Ministério Público Federal em Ribeirão Preto (SP) entrou com uma ação, no início deste mês, para que a União recolha imediatamente o medicamento Leuginase®. As supostas irregularidades envolvidas na compra do remédio chinês são objeto de inquérito da Polícia Federal, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
Apesar de todos os protestos, o Ministério da Saúde se mantém irredutível. Em nota à imprensa divulgada no último dia 10, a pasta afirma que “a orientação para a compra da L-asparaginase continua a mesma” e que “entre produtos com as mesmas qualificações será adquirido o de menor preço, exatamente como foi feito na oferta da Leuginase®”.
Hoje, com protocolos modernos, as chances de cura da leucemia linfoide aguda da criança giram ao redor de 80% dos casos. Com a possível redução da ação da Leuginase®, cairão para níveis abaixo de 50%”, projetou a Dra. Silvia Brandalise. “É um crime hediondo deixar de usar um produto seguro por outro desconhecido. Mortes secundárias a recidivas serão registradas”, finalizou a oncologista pediátrica.
O programa “Fantástico”, da Rede Globo, já exibiu algumas reportagens sobre as denúncias, disponíveis nos links abaixo:
A Dra. Clarissa Mathias, da Bahia, foi eleita para o Conselho de Administração da International Association for Study of Lung Cancer (IASLC) no período 2017-2019. Ela será a primeira a ocupar a cadeira criada para representação da América Latina neste órgão. Na eleição, concorreu com um argentino e um peruano. A oncologista é secretária geral da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT).
Ela explica que o objetivo do IASLC, ao conceder mais espaço aos latino-americanos, é ajudar na criação de programas específicos para este público e aproximar os médicos da instituição. “Estamos ansiosos para nos beneficiar da visão, expertise e liderança que os eleitos trarão ao nosso grupo nos próximos anos”, diz o informativo da associação internacional.
Nos últimos três anos, a Dra. Clarissa participou do Comitê de Membros da IASLC, quando houve aumento de 40% no número de associados da América Latina. Mas, segundo a especialista, o percentual ainda é pequeno em relação ao total de membros. Os mais numerosos são os asiáticos, até pelo tamanho das populações dos seus países de origem. “Daí a importância desta cadeira para a América Latina: uma maneira de equilibrar esta representatividade”, comenta.
A Dra. Clarissa se diz honrada com a escolha do seu nome e espera trazer melhorias para o continente. “Este reconhecimento enriquece as oportunidades de eventos, programas, bolsas e acesso a periódicos, por exemplo”, descreve. “Também fortalece o papel da SBOC como representante brasileira da oncologia”, acrescenta a nova conselheira da IASLC.
O presidente eleito da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. Sergio Simon, apontou falhas no tratamento do câncer de mama em nosso país, durante palestra para os jornalistas da Folha de S. Paulo nesta terça-feira (11). “É pouco, ruim e atrasado”, afirmou o médico, segundo a matéria de cobertura do encontro. De acordo com o especialista, as pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde têm diagnóstico tardio e tratamento inferior ao que é oferecido na rede privada.
Cinco residentes do terceiro ano foram premiados pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e pela farmacêutica Roche por vencer um desafio de conhecimentos científicos ao final do evento Getting Ready. São eles:
Os prêmios foram entregues pelo secretário de Comunicação da SBOC, Dr. Claudio Ferrari. Andrea e Renata receberam inscrição, passagem e hospedagem para o próximo Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2018), em Chicago (EUA), enquanto os outros três terão os mesmos benefícios para participar do XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, de 25 a 28 de outubro deste ano, no Rio de Janeiro (RJ).
A escolha do segundo colocado surpreendeu os organizadores. Rodrigo Ferreira, de 29 anos, preferiu ganhar a participação no Congresso da SBOC em vez de ir ao ASCO. “Optei por privilegiar nosso evento nacional, do qual ainda não tive oportunidade de participar. É um congresso de excelência e renome. Já tinha visto a programação e estou bastante animado”, conta o residente do Hospital do Câncer de Cascavel. “No ASCO quero pensar quando já tiver concluído a residência”, diz.
Rodrigo também ficou empolgado com o reconhecimento ao seu esforço pessoal e ao da sua equipe em Cascavel (PR). “É uma maneira de demonstrar que, mesmo afastados dos grandes centros, conseguimos formar bons profissionais”, afirma o médico, que é nascido na cidade paranaense.
Assim como Rodrigo, Diogo de Brito Sales, do AC Camargo, em São Paulo, tem altas expectativas para o Congresso Brasileiro. “Como o evento é bianual, será minha primeira chance de participar. Durante o primeiro ano, o volume de tarefas no treinamento nos impede. Agora estou mais maduro na especialidade para aprender e trocar experiências”, avalia o residente de 30 anos, natural de Fortaleza (CE). “Fiquei feliz e surpreso com o resultado do desafio, não esperava”, revela.
Caminhos da carreira
Um dos objetivos do Getting Ready é contribuir com reflexões produtivas para os residentes a respeito do início de suas carreiras. “Temos uma formação tão longa na residência [dois anos em Clínica Médica e mais três em Oncologia Clínica] que ficamos com receio de não estarmos preparados para entrar no mercado de trabalho”, diz Diogo. “O evento foi importante para me situar nesse sentido e ter contato com outros colegas de lugares diferentes”, completa.
Ouvindo o depoimento de alguns palestrantes do Getting Ready sobre suas próprias carreiras, Rodrigo também se sentiu encorajado: “Mesmo escolhendo uma cidade do interior e um serviço novo de residência, é possível ser bem-sucedido, querer aprender, evoluir e buscar o melhor para os pacientes”, afirma. O programa de residência médica da UOPECCAN tem oito anos.
Claudio Ferrari e Ariana Sales Luz
Claudio Ferrari e Andrea Clemente Baptista Silva
Claudio Ferrari e Diogo de Brito Sales
Claudio Ferrari e Renata Maceu Salhab
Claudio Ferrari e Rodrigo Ferreira
O relato do residente João Carlos Resende Martins Medeiros Trindade sobre a consulta de uma idosa com câncer foi compartilhado mais de 75 mil vezes no Facebook, chamando atenção para a importância da relação médico-paciente. O jovem médico se diz surpreso com a repercussão, mas satisfeito. “Fico feliz por este depoimento provocar reflexão em outros médicos e em pessoas que lutam contra o câncer”, afirma. João tem 32 anos e é de Campina Grande, na Paraíba, onde fez a graduação e a residência em Clínica Médica. Hoje é residente em Oncologia Clínica no Hospital de Câncer de Barretos, no interior de São Paulo.
O médico conta que sempre gostou de escrever, mas que dividia os textos somente com sua rede de contatos. No caso deste post, uma amiga gostou muito e o convenceu a torná-lo público. O residente revela ainda que estava fragilizado naquele dia, com saudades de casa e pensando em desistir do treinamento em Barretos. “A D. Socorro fez muito mais por mim, na consulta, do que eu por ela”, afirma. Esta constatação reforça a via de mão dupla na relação médico-paciente. “Sempre se pensa no acolhimento que o médico pode oferecer ao paciente num contato mais humanizado, mas o contrário ocorre igualmente. O binômio paciente-médico precisa ser valorizado no mesmo grau”, defende.
Por ter “o coração mole”, o jovem foi desestimulado a seguir a especialidade. Ouviu que “iria sofrer muito”, mas persistiu. “Minha sensibilidade só me trouxe coisas boas até agora. A oncologia me ofereceu contato com as pessoas mais extraordinárias que conheci neste mundo”, salienta João, que desde o início da faculdade se encantou pelo contato com pacientes graves. “Fazemos a ciência, claro, mas muitas vezes o paciente precisa buscar a cura de suas feridas como seres humanos”, explica. “Recomendo que a pessoa encare o desafio da doença como oportunidade para se tornar alguém melhor, para se reconciliar com pessoas queridas, valorizar o que realmente é importante para ela”, descreve. “Acredito que muitos possam trabalhar a fragilidade diante do câncer para ressignificar a sua existência”, finaliza.
Um problema técnico no servidor dedicado da Meduniverse impediu a publicação do sétimo caso da Gincana Virtual de Oncologia da SBOC nesta segunda-feira (10). O site da competição ainda está fora do ar. As empresas responsáveis informaram que estão trabalhando intensamente em conjunto para resolver o erro inesperado. Assim que o conteúdo estiver publicado, os participantes inscritos serão comunicados.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) apoiou o 1º Simpósio de Câncer Ginecológico da Região Norte do Rio Grande do Sul, realizado pelo Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN) no dia 30 de junho, em Passo Fundo (RS). O Dr. Álvaro Machado, diretor da SBOC, foi o coordenador geral do evento. Na abertura, ressaltou que a evolução no manejo dessas neoplasias torna oportuna a discussão com especialistas na área.
Outro diretor da SBOC, o Dr. João Soares Nunes, participou do evento como palestrante. Em câncer de colo de útero, suas aulas foram sobre adjuvância e a respeito do estágio avançado da doença. Durante as apresentações, enfatizou que novos medicamentos, em especial alguns imunoterápicos, têm proporcionado maior tempo e qualidade de vida às pacientes.
O oncologista deu aulas, ainda, sobre quimioterapia pré ou pós-operatória em câncer de ovário e a doença avançada/recidivada. A última palestra do Dr. João Soares Nunes enfocou a indicação de radioterapia e quimioterapia adjuvante em câncer de endométrio.
Está aberta até 26 de julho a consulta pública nº 61 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre o que será incorporado ao rol de cobertura obrigatória pelos planos de saúde em 2018. Dentre os oito medicamentos propostos pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), quatro receberam parecer positivo. Confira:
Crizotinibe: câncer de pulmão não pequenas células avançado positivo para a cinase de linfoma anaplásico – ALK;
Dabrafenibe: pacientes adultos com melanoma irressecável ou metastático com mutação BRAF V600);
Enzalutamida: câncer de próstata metastático resistente à castração em adultos assintomáticos ou ligeiramente sintomáticos após falha de terapia de privação androgênica;
Everolimus: tumores neuroendócrinos – NET – avançados localizados no estômago e intestino, pulmão ou pâncreas.
Os medicamentos indicados pela SBOC que não receberam recomendação para serem incorporados foram: axitinibe, para pacientes adultos com carcinoma de células renais (RCC) avançado de células claras após insucesso do tratamento sistêmico prévio com sunitinibe ou citocina; everolimus, para pacientes com RCC avançado que tenha progredido durante ou após tratamento com inibidor de tirosina-cinase; cobimetinibe. indicado em combinação com vemurafenibe para pacientes com melanoma positivgo para mutações BRAF V600 irressecável ou metastático; e regorafenibe, para pacientes adultos com tumores estromais gastrintestinais – GIST – metastáticos ou não ressecáveis que tenham progredido ou experimentaram intolerância ao tratamento prévio com imatinibe e sunitinibe.
A consulta pública sinaliza também a incorporação de outros medicamentos relacionados ao câncer. Além disso, a ANS decidiu incluir a proposta de cobertura obrigatória da pesquisa da mutação ALK. O exame é indicado para detectar a proteína em indivíduos com câncer de pulmão. O resultado positivo auxilia os oncologistas na definição do melhor tratamento a ser ofertado ao paciente.
Processo de submissão
Esta foi a primeira vez que a SBOC propôs a incorporação de medicamentos ao rol de cobertura obrigatória dos planos de saúde. Até então, a solicitação era feita diretamente pela indústria farmacêutica. A atualização do rol ocorre a cada dois anos.
O presidente da SBOC, Dr. Gustavo Fernandes, explica que os medicamentos venosos são incorporados automaticamente logo após a sua aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas as drogas orais precisam passar por esse processo de submissão para análise do custo-efetividade.
Na visão dele, o cidadão já paga duas vezes para ter direito ao tratamento: a primeira no recolhimento dos impostos, que deveriam financiar o sistema público, e a segunda para uma empresa privada, que é o plano de saúde. “Respeitamos o processo, mas não podemos concordar em restringir o acesso do usuário a uma terapia comprovadamente boa”, enfatiza.
Aliviar o sofrimento de pacientes com câncer e de seus familiares é uma necessidade cada vez mais assumida pela Oncologia em todo o mundo. O brasileiro André Filipe Junqueira dos Santos ganhou este ano o Prêmio de Educação e Desenvolvimento Internacional em Cuidados Paliativos (IDEA-PC), da American Society of Clinical Oncology (ASCO), por sua atuação destacada na área em nosso país. O envolvimento com pacientes no setor de emergência de um grande hospital público e a abordagem interdisciplinar que promove em uma clínica de oncologia chamaram a atenção da instituição americana.
Criado em 2011, o IDEA-PC é um incentivo para jovens médicos de países de baixa e média renda conectarem-se a líderes de Cuidados Paliativos nos Estados Unidos e no Canadá visando melhorar o atendimento no seu país de origem. O prêmio da ASCO levou o Dr. André Junqueira ao maior congresso mundial da Oncologia, em Chicago, no início de junho, e a uma visita de três dias à Universidade de Stanford, na Califórnia, para aprofundar-se em pesquisa.
A escolha da ASCO leva em consideração o perfil do profissional, suas publicações e o impacto do seu trabalho. Junqueira coordena da área de Cuidados Paliativos da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), da Universidade de São Paulo, e também atua no Instituto de Oncologia de Ribeirão Preto, que atende pacientes de planos de saúde e particulares.
Atendimento interdisciplinar
O médico dedica 20 horas semanais a cada serviço. No hospital público, assiste os pacientes à beira do leito, conforme indicação do colega que fez o primeiro atendimento. São em torno de 100 por mês. Já na instituição particular, trabalha com consultas agendadas, num total de 30 a 40 mensais. A característica em comum é a abordagem compartilhada, no mesmo momento, com psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta ou assistente social, de acordo com o caso. Dependendo da situação, a conversa se estende também à família.
Segundo Junqueira, a expressão mais correta para este tipo de atendimento é interdisciplinar. O especialista conta que ele e os outros profissionais fazem perguntas complementares ao paciente e cada um direciona melhor a sua conduta a partir das respostas e da interpretação dos colegas. Muitas vezes, interagem após a consulta para trocar ideias e tomar decisões em conjunto.
O médico diz que esse tipo de trabalho se diferencia do chamado multidisciplinar, em que os profissionais conversam separadamente com o paciente. Conforme a experiência de Junqueira, na atuação interdisciplinar, a participação de todos numa mesma conversa otimiza o tempo, faz com que o paciente se sinta mais acolhido e evita erros de comunicação, além de estimular a colaboração mútua entre os profissionais.
“No contexto de Cuidados Paliativos, a conversa com o paciente não discute as linhas de tratamento em si, mas o que a pessoa está sentindo, suas expectativas e seus medos”, conta. Junqueira defende que os cuidados paliativos sejam oferecidos ao paciente com câncer logo após o diagnóstico, assim como determina a recente diretriz da ASCO para a área. Estudos de forte evidência científica apontam que os cuidados paliativos diminuem a depressão e aumentam a qualidade de vida, a satisfação com o atendimento e até mesmo o tempo de vida.
Lacuna de 20 anos
A partir da experiência em Stanford, o Dr. André Junqueira pretende aprofundar seus estudos sobre as diferenças entre os cuidados paliativos nos Estados Unidos e no Brasil. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, a área existe há 30 anos, enquanto aqui tem de 10 a 15 anos de história, sendo que ganhou força somente de 2010 em diante. “A oncologia brasileira já tem nível mundial. Os cuidados paliativos precisam alcançar este patamar”, defende.
Em sua visão, parte dos médicos brasileiros estigmatiza os cuidados paliativos ao encaminhar os pacientes somente quando ‘não há mais o que fazer’. Junqueira discorda frontalmente dessa conduta: “Essa frase é péssima e não deve ser dita. Pelo contrário, os profissionais devem explicar aos pacientes que pode haver muito a ser feito e com qualidade, sendo uma mudança de tratamento, não um abandono”, ressalta.
O especialista, que também atua como vice-presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), estima que apenas 1% dos pacientes que deveriam receber cuidados paliativos têm acesso a esse atendimento no Brasil. São cerca de 900 mil mortes ao ano no país por doenças crônico-degenerativas e somente 9 a 10 mil consultas anuais com essa abordagem.
Segundo o médico, estudos mostram que os latinos, de forma geral, têm mais dificuldade de lidar com a morte do que outros povos. “Um trabalho publicado pela revista Economist neste ano demonstrou que, na América Latina, a maioria opta por tratamentos prolongadores da vida, ainda que isso implique em muita dor, ao contrário de pessoas em países desenvolvidos onde os Cuidados Paliativos estão consolidados”, revela.
Sobre o potencial de crescimento dos cuidados paliativos, o Dr. André Junqueira é otimista. Em sua atuação na ANCP, já identificou interesse tanto do Ministério da Saúde quanto das operadoras de convênios médicos em aumentar a oferta do atendimento.
Aos oncologistas interessados em conhecer melhor a área, o especialista recomenda que comecem a dialogar mais com seus pacientes sobre o que eles desejam para sua vida a partir da descoberta do câncer. “Quando houver um serviço de cuidados paliativos disponível, que o médico encaminhe o indivíduo logo após o diagnóstico de câncer metastático. Se não houver, que o profissional comece a levantar essa bandeira na unidade onde atua”, finaliza Junqueira.