O ESMO 2017 teve uma sessão especial sobre a possibilidade de encurtar de seis para três meses a quimioterapia adjuvante no câncer colorretal estágio III por conta da neurotoxicidade. O estudo IDEA, uma análise conjunta de 12.834 pacientes de seis ensaios clínicos fase 3 que investigaram os resultados das diferentes durações do tratamento com folfox ou capox, já havia sido apresentado no ASCO 2017. No congresso europeu, foram analisados os resultados em detalhes dos quatro principais estudos (Scot, Tosca, Achieve e Idea-France).
De acordo com o Dr. Álvaro Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), ficaram mais evidentes as limitações dos estudos em questão, principalmente o fato de não ter havido randomização do esquema terapêutico. Contudo, segundo o especialista, o consenso é de que capox é um esquema aceitável em três meses para pacientes de baixo (T3N1) ou alto risco (T4, N2), o que diminui os custos e a toxicidade do tratamento em relação ao padrão atual. Se a opção for folfox, sempre deve-se estender o tratamento por seis meses.
Imunoterapia para tratar adenocarcinoma gástrico e de junção gastroesofágica
O estudo fase 2 Keynote 059 (LBA28_PR) mostrou que pembrolizumabe pode se tornar uma opção de tratamento para pacientes com câncer gástrico metastático previamente tratados com quimioterapia. Houve maior benefício aparente no subgrupo com PD-L1 positivo.
Também foi apresentada a atualização do estudo Attraction 02 (617O), fase 3. Na segunda linha de tratamento, o nivolumabe isolado obteve benefício superior comparado à quimioterapia. A atividade parece ter sido independente da expressão de PD-L1. “O benefício não é para todos, mas alguns pacientes obtêm controle da doença por longo prazo”, esclarece o Dr. Álvaro Machado. “Continua essa grande discussão em torno da busca de biomarcadores, que tem se repetido em inúmeros estudos de várias áreas”, reforça o diretor da SBOC.
Flot
O ensaio FLOT 4, fase 3, apresentado no ESMO 2017 (LBA27_PR) randomizou 716 pacientes com adenocarcinoma de junção gástrica ou gastroesofágica ressecável para flot perioperatório (docetaxel perioperatório, oxaliplatina e fluorouracil / leucovorina) ou ECF (regime perioperatório de epirrubicina, cisplatina e fluorouracil infundido). Flot foi superior à ECF para todos os parâmetros de eficácia, incluindo taxas de ressecção curativa, sobrevida livre de progressão e sobrevida global. Dessa forma, tornou-se o novo padrão de tratamento.
“Interessante notar que 30% dos pacientes não completaram o tratamento pós-operatório, como já havia sido observado em estudos anteriores, em que até 50% dos pacientes não completaram o tratamento pós-operatório programado no Magic Trial. Isso levantou a discussão sobre o benefício da fase pós-operatória”, observa o Dr. Álvaro Machado. “São questionamentos que surgem nesses debates e revelam a necessidade de novos estudos clínicos para encontrar as respostas”, conclui.
Cirurgia laparoscópica para câncer de esôfago
Outro estudo que chamou a atenção em Madri foi o Miro (6150_PR). Segundo o diretor da SBOC, a esofagectomia minimamente invasiva (cirurgia videoassistida mais laparoscopia) mostrou-se, no mínimo, tão efetiva quanto a aberta. Além disso, reduz de maneira significativa a morbidade pós-operatória. Assim, deve tornar-se o novo padrão para pacientes com câncer de esôfago médio e baixo.