Levantamento da Global Lung Cancer Coalition (GLCC) mostra que 21% dos entrevistados de 25 países afirmam ter menos simpatia por indivíduos com câncer de pulmão do que em relação a pacientes com outras neoplasias. O estigma refere-se à associação da doença ao tabagismo. No Brasil, o percentual é acima da média mundial: 29%. Desde 2010, quando havia sido realizada a última pesquisa, houve crescimento de um ponto percentual. De acordo com os pesquisadores, o preconceito tem impacto muito negativo nas pessoas que vivem com câncer de pulmão e em seus familiares, além de gerar desinformação. Para Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, parceiro do GLCC no Brasil, as pessoas que fumaram podem se sentir culpadas e demorar a falar com seu médico sobre possíveis sintomas. Ela lembra também que 15% a 20% dos pacientes com câncer de pulmão nunca fumaram.
A pesquisa aponta ainda que homens têm menos simpatia que as mulheres e que a faixa etária que mais julga negativamente esses pacientes vai de 35 a 44 anos. Foram ouvidas pelo menos mil pessoas em cada país entre julho e agosto deste ano. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, os tumores malignos de pulmão são os que causam mais mortes no Brasil. Sua incidência é de 28,2 mil novos casos anualmente. “Precisamos nos aliar aos esforços globais para combater esse estigma, que é terrível”, afirma a Dra. Clarissa Mathias, secretária geral da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e representante da América Latina na diretoria da International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC). “O fumante tem um vício provocado por uma adição no cérebro. A nicotina foi engendrada para isso. Precisamos não apontar dedos, mas dar as mãos”, ressalta.
Desinformação e diagnóstico tardio
Outro dado preocupante do levantamento da GLCC é que metade dos brasileiros sequer consegue citar um sintoma do câncer de pulmão. Globalmente, o índice é de 42%. Entre os brasileiros que conseguem nomear um sintoma, os mais citados são falta de ar (34%), tosse (30%) e dor torácica (16%). “A pesquisa mostra a importância de levar ao público informação adequada. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior é a chance de um tratamento bem-sucedido”, afirma Luciana, do Oncoguia.
Os dados foram apresentados durante um fórum temático promovido pelo Instituto em São Paulo, no dia 27. A advogada Iane Cardim, de 48 anos, fumante desde os 18, veio da Bahia especialmente para contar sua história. Ela levou seis meses desde o aparecimento do primeiro sintoma – tosse persistente – até o diagnóstico de adenocarcinoma de pulmão. Nesse período, passou por sete médicos de consultórios diferentes, entre otorrinolaringologistas, pneumologistas e alergologistas, fez uma série de exames e só via seu estado de saúde se agravar até ser internada na UTI. Somente depois de uma primeira consulta no Núcleo de Oncologia da Bahia, Iane teve o diagnóstico de câncer e iniciou a quimioterapia em 20 dias.
Hoje, quase dois anos após o início do tratamento, a advogada convive com a doença, fazendo aplicação de imunoterapia a cada 15 dias custeada pelo plano de saúde. “Quando me perguntam se sou ex-fumante, digo que deixei de fumar, mas ainda me considero uma fumante porque sonho com o cigarro. É um vício, tal qual o álcool para o alcoolista. Vivo um dia de cada vez sem ele”, explica.
Confira um resumo da pesquisa da GLCC no Brasil
Acesse os dados do levantamento em 25 países