Na opinião das estudantes de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro Nathalia Lopez Duarte e Aline de Souza Busnardo, falta informação para a população sobre a gravidade do câncer de pele. Elas e outros alunos que integram a Liga Acadêmica de Hematologia e Oncologia (LAHO) e de Dermatologia (LAD) da UFRJ produziram um vídeo animado de menos de três minutos para explicar as principais formas de prevenção primária (evitar a exposição excessiva ao sol) e secundária (identificar precocemente lesões suspeitas). A professora da UFRJ e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) Maria de Fátima Dias Gaui conta que são frequentes atendimentos a pacientes com carcinomas de pele tão grandes, negligenciados por tanto tempo, que levam a cirurgias mutiladoras e até se tornam irrescecáveis. A iniciativa está alinhada com a campanha Dezembro Laranja.
Embora seja o tipo de neoplasia mais frequente no Brasil, o câncer de pele também é um dos que têm medidas de prevenção mais efetivas. O paradoxo pode ser explicado pela falta de conscientização das famílias, cultura do corpo bronzeado, trabalhadores expostos ao sol durante sua jornada e dificuldade de acesso ao sistema de saúde para rastreio e tratamento. A infância é um período crítico, mas a prevenção deve ocorrer durante toda a vida. Nathalia acredita que os médicos de família deveriam ser treinados para o rastreio e para orientar quanto a medidas de prevenção primária, de acordo com a realidade das pessoas atendidas. A acadêmica conta que, de certa forma, o vídeo serviu de ferramenta para isso. Aline reforça que, além de utilizar uma linguagem simples, o vídeo mostra medidas simples de prevenção como usar mangas compridas e chapéu de aba larga. “O protetor solar é caro e não está disponível pelo sistema público de saúde, infelizmente”, diz Nathalia.
Atitudes transformadoras
O vídeo explica ainda as características das pintas e manchas que podem ser consideradas suspeitas. A ideia é que as pessoas façam o autoexame e procurem o agente de saúde ou uma unidade de saúde se encontrarem uma possível lesão para encaminhamento ao dermatologista. O diagnóstico precoce é essencial para a cura. “Cada vez mais o ensino médico leva em consideração a promoção da saúde e a prevenção da doença”, frisa Aline. “Para nós, internos, é muito gratificante pois já conseguimos aplicar o conhecimento. Não precisamos esperar nossa formação como especialistas para fazer algo de relevante pelos pacientes; conseguimos isso desde já”, pontua.
Na opinião da Dra. Maria de Fátima Gaui, que orientou o trabalho, os alunos ficam muito mais interessados quando estão em contato a real necessidade da população. “O conhecimento se aplica e se consolida. Eles conseguem entender o impacto dessas medidas e ficam bastante sensibilizados”, afirma. “É difícil as pessoas adotarem medidas preventivas em seu dia a dia, mesmo diante da gravidade do câncer de pele. Estamos perdendo algo nessa comunicação. O vídeo é uma iniciativa bem-vinda de esforço para transformarmos essa realidade”, finaliza a professora.