A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) está participando, ao lado da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), do Instituto Oncoguia, do Vencer o Câncer, do Todos Juntos Contra o Câncer, do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, do Grupo de Amparo ao Doente de Aids (GADA) e da Bayer, de um movimento de conscientização sobre o carcinoma hepatocelular (CHC), conhecido como câncer de fígado. O Dr. Roberto Gil, vice-presidente de Assistência Médica e Defesa Profissional da SBOC, esteve na apresentação da pesquisa “Carcinoma Hepatocelular: Barreiras de Acesso, Diagnóstico e Tratamento no Cenário Brasileiro Atual”, feita a partir de dados do Datasus. “É chocante constatar que 80% dos pacientes chegam aos hospitais sem diagnóstico de CHC e 95% sem diagnóstico de hepatopatia prévia”, destaca o oncologista.
Outro dado preocupante é que 62% dos pacientes são diagnosticados com doença avançada, quando o tratamento curativo e paliativo mais eficaz já não é mais possível, restando ao médico tratar os sintomas. Entre os demais, 10% são diagnosticados com carcinoma hepatocelular em estágio inicial e outros 12% na fase intermediária.
De acordo com o Dr. Roberto Gil, não existe hoje no sistema público de saúde nem no sistema suplementar uma linha de cuidados ao paciente com CHC. “Precisamos criar esse atendimento integrado, desde programas de rastreamento, medidas de diagnóstico precoce, encaminhamento e realização de transplante, cirurgia, quimioterapia; o tratamento deve ser sistêmico”, defende.
A divulgação desse levantamento, segundo Gil, é o início de um movimento para conscientizar a população quanto a medidas preventivas e de diagnóstico precoce e também os gestores a respeito da necessidade de estabelecer uma política de saúde para o atendimento de pacientes com carcinoma hepatocelular integrando a atenção primária à média e alta complexidade. “Temos totais condições de qualificar os gastos no atendimento dos pacientes hepatopatas”, ressalta o representante da SBOC.
Outro ponto ressaltado pelo Dr. Roberto Gil foi a utilização dos dados do Datasus. “O banco de dados do SUS muitas vezes é visto somente como mais uma burocracia, mas essa pesquisa é um exemplo de que as informações ali contidas podem receber um olhar científico e estratégico, que embase ações transformadoras para o atendimento mais qualificado dos pacientes”, acredita.
Estigma
O principal fator de risco para o desenvolvimento de CHC é a agressão crônica às células hepáticas, acontecendo na maioria dos casos associados à cirrose, que pode ser causada por infecções pelos vírus das hepatites B e C, álcool e NAFLD (doença hepática gordurosa não alcoólica, em tradução livre). Além desses fatores, há a exposição a aflatoxinas, que são toxinas produzidas por fungos presentes em grãos e cereais mal armazenados, além de condições genéticas como hepatites autoimunes e hemocromatose hereditária.
De acordo com a pesquisa, uma grande barreira para o diagnóstico precoce de CHC é o estigma ao redor das doenças de base, como as hepatites virais e a cirrose alcoólica. O desconhecimento e preconceito da população sobre os temas geram uma associação das hepatites com um estilo de vida promíscuo e o uso de drogas injetáveis, quando na realidade a maioria dos pacientes as adquiriu por transfusões sanguíneas antes de 1993, quando não havia o controle sorológico das bolsas de sangue ou pela transmissão de mãe para filho, durante o parto.
Já os pacientes portadores de cirrose alcóolica se sentem intimidados uma vez que a doença é fortemente associada ao consumo excessivo de álcool. Em ambos os casos, o paciente se sente culpado e tem sua autoestima prejudicada, optando pelo isolamento social e a não adesão ao tratamento, o que aumenta a chances de desenvolver o câncer de fígado.