No país em que se contabiliza pouco mais de 3,5 mil oncologistas clínicos em todo o território nacional e em que aproximadamente 300 médicos iniciam residência médica nessa especialidade a cada ano, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) apresenta o novo Programa de Residência Médica em Oncologia Clínica (PROC), elaborado pela SBOC, aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) em 2018 e publicado recentemente no Diário Oficial. A previsão é que o novo Programa seja implementado gradualmente, com início neste ano e término em 2021, por todos os serviços que têm residência médica na área, considerando a adoção sempre para os residentes do primeiro ano.
O foco do novo programa é formar e habilitar médicos na área da Oncologia Clínica com competências que os capacitem a dirimir as situações, os problemas e os dilemas na área da Oncologia, dominar a realização dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos da especialidade e desenvolver um pensamento crítico-reflexivo em relação à literatura médica, tornando-os progressivamente responsáveis e independentes.
Além de conter a matriz de competências para a formação do oncologista clínico no Brasil, o PROC é abrangente e traz avanços importantes, como: unificar a avaliação do conhecimento teórico e do comportamento do residente durante o treinamento; aumentar a carga horária de atividade ambulatorial, principalmente no primeiro ano; possibilitar a individualização da formação do residente e oferecer conteúdo didático da própria SBOC a todos os programas do país.
Para o vice-presidente da SBOC para Ensino da Oncologia, Dr. Rodrigo Munhoz, o ajuste na carga horária relativa a cuidados na enfermaria e atividades ambulatoriais representa uma inovação significativa. “É uma maneira de diminuir a dependência dos serviços do residente, mas mantê-lo como figura importante da assistência. Ainda que haja uma parte de enfermaria muito pesada, a oncologia é uma atividade eminentemente ambulatorial”, explica. O especialista ainda destaca a importância da formação individualizada do residente durante o terceiro ano, conforme seus propósitos. “Caso o médico tenha mais interesse em atuar com pesquisa, poderá ter uma carga horária maior nessa área. Se tiver interesse na área de educação ou administração, poderá receber treinamento específico, desde que o programa de residência em questão esteja capacitado. Com isso, tentamos estruturar um currículo que seja aplicável a diferentes cenários no Brasil.”
Outro ponto de destaque é que a própria SBOC assume a responsabilidade de prover conteúdo didático ainda não oferecido por boa parte dos programas no país. São áreas de conhecimento específico consideradas pela Sociedade como fundamentais para o exercício da moderna oncologia e para o próprio fortalecimento dos serviços de atendimento oncológico no Brasil, a exemplo de biologia molecular, genômica tumoral e oncogenética.
Segundo Dr. Sérgio Simon, a revisão do currículo representa um desejo antigo da Sociedade e marca uma etapa importante na estruturação da SBOC, agora assumindo a cadeira de filiada à Associação Médica Brasileira (AMB). “Mais do que uma prioridade, era uma das obrigações da atual gestão da SBOC e ficamos muito satisfeitos em conseguir construir e aprovar o PROC. A intenção é revisitá-lo, com o passar do tempo, para que consigamos sempre adequar o currículo aos avanços que vivemos na oncologia”, comenta. No próximo mês de outubro, a SBOC fará ainda uma sessão para apresentar o novo currículo para preceptores de todo o Brasil no XXI Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, no Rio de Janeiro.