O medicamento olaparibe (Lynparza®) foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 16 de janeiro, como tratamento de manutenção do câncer de ovário seroso de alto grau recidivado para pacientes com mutação no gene BRCA1 ou BRCA2 e com doença sensível à platina. Devem, portanto, ter recebido quimioterapia baseada em platina e ter apresentado resposta completa ou parcial, com intervalo livre de platina de, no mínimo, seis meses. A indicação inclui carcinoma da trompa de Falópio e carcinoma peritoneal primário. O medicamento está em fase de precificação pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e deve estar disponível para compra nos próximos meses.
De acordo com a presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, Dra. Angélica Nogueira, 15% a 20% das pacientes com câncer de ovário têm o perfil adequado para esta indicação do olaparibe. “A disponibilização deste medicamento no mercado brasileiro representa aumento significativo das chances de controle da doença”, avalia a oncologista, que é membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Estudo randomizado, duplo-cego, fase 2, publicado no The Lancet Oncology, em 2014, mostrou que a terapia com olaparibe prolongou de forma significativa a sobrevida livre de progressão mediana, em comparação ao placebo, nas pacientes com câncer de ovário e mutação do gene BRCA: 11,2 meses vs 4,3 meses (HR 0,18). Os efeitos adversos grau 3 mais comuns foram fadiga (7% para o grupo olaparibe vs 3% para o grupo placebo) e anemia (5% para o grupo olaparibe vs <1% para o grupo placebo. A tolerabilidade do tratamento foi similar entre as pacientes com a mutação do BRCA e a população geral do estudo.
Em uma terceira análise deste estudo, publicada em setembro de 2016, foi observada uma vantagem na sobrevida global em todos os grupos que receberam olaparibe, mas sem atingir significância estatística. A SG mediana foi de 29,8 meses para o grupo olaparibe vs 27,8 meses para o grupo placebo e, nas pacientes com BRCA mutado, 34,9 meses para o grupo olaparibe vs 30,2 meses para o grupo placebo. Dentre as 74 pacientes com mutação de BRCA do grupo olaparibe, 11 (15%) receberam o tratamento de manutenção por cinco anos ou mais. Os resultados finais ainda são aguardados.
Com comportamento agressivo e inespecífico, o câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de maior mortalidade. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 75% dos casos são diagnosticados em fase avançada. Em 2016, a estimativa era de 6.150 novos casos no Brasil. No ano de 2013, a doença causou 3.283 mortes no país.
Segundo a Dra. Angélica Nogueira, como a maioria das pacientes apresenta-se com doença avançada ao diagnóstico, a taxa de recidiva é alta: 80% das pacientes com câncer epitelial de ovário que passam por cirurgia e quimioterapia tradicional têm recidiva da doença e poderiam ser submetidas ao teste genético para avaliar a possibilidade de receberem inibidor de PARP.
Atraso em relação a outros países
O olaparibe foi aprovado em 2014 pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para esta mesma indicação de segunda linha, isto é, quando há recidiva. O órgão regulador americano Food and Drug Administration (FDA) também liberou esta droga para uso isolado em pacientes politratadas. No próximo mês, serão apresentados no congresso da Society of Gynecologic Oncology (SGO) os resultados de um estudo randomizado que avaliou olaparibe para tratamento de tumores ovarianos em estágio inicial.
“Esta nova era de terapias alvo-direcionadas para tratamento do câncer está proporcionando avanços fantásticos e gera uma expectativa muito positiva na comunidade médica, mas não ter as medicações liberadas no Brasil com agilidade limita a atuação médica e as possibilidades para os pacientes”, avalia a Dra. Angélica Nogueira. “Esperamos que as aprovações pela Anvisa sejam aceleradas, inclusive porque essas medicações permitem tratamentos específicos, o que é vantajoso inclusive do ponto de vista do custo-efetividade”, defende a especialista.
A Dra. Angélica conta, ainda, que há outros estudos em curso de drogas inibidoras da enzima PARP, como é o caso do olaparibe, com resultados iniciais positivos e que podem vir a reforçar o arsenal de medicamentos para o câncer ovariano.