Acaba de ser publicado o primeiro consenso brasileiro sobre o tratamento de câncer de próstata em estágio avançado. A iniciativa inédita é da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O artigo está na versão eletrônica (ahead of print) da revista International Braz J Urol, publicação oficial da SBU indexada a bases de dados internacionais. O acesso é livre e gratuito.
Ao identificar a necessidade de orientar os médicos na tarefa cada vez mais difícil de escolher entre múltiplos tratamentos potencialmente eficazes, mas que podem ser caros e de toxicidade significativa, a SBOC e a SBU decidiram, em 2015, realizar o consenso. Convidaram, então, dez oncologistas e dez urologistas, além de dois médicos nucleares.
Cada participante apresentou duas perguntas e respostas relevantes para o manejo de pacientes com câncer de próstata em fase avançada. Em um painel com as possibilidades de atuação, todos votaram na melhor resposta segundo o seu ponto de vista. Foi considerado consenso quando pelo menos dois terços dos participantes concordaram com a mesma conduta. “Esta experiência multidisciplinar contou com pessoas altamente preparadas e empenhadas”, avalia o Dr. Volney Soares Lima, membro da diretoria da SBOC. Ele conta que a iniciativa foi inspirada na St Gallen Advanced Prostate Cancer Consensus Conference, que ocorre na Europa há três anos.
No documento brasileiro, além das justificativas científicas e do grau de evidência na literatura, cada recomendação traz o percentual de concordância entre os participantes, o que contribui para o leitor julgar a confiabilidade das informações. “Há desde práticas unânimes até questões em que não houve concordância”, relata o Dr. André Sasse, membro da SBOC que atuou como moderador no consenso.
Para o Dr. Volney Lima, é natural haver temas controversos diante da complexidade da doença. “Daí a segurança que o conteúdo deste trabalho oferece ao leitor, que poderá conhecer as certezas e incertezas sobre determinadas recomendações para embasar as suas decisões caso a caso”, diz. “Este também é um objetivo do consenso: identificar questões que ainda não podem ser respondidas com grau aceitável de evidência”, completa Sasse.
Caráter educacional
A iniciativa pioneira no Brasil tem dois propósitos, de acordo com o Dr. Volney Lima: definir conceitos científicos e estabelecer recomendações práticas de tratamento, respaldando as melhores condutas dos médicos em seu dia a dia. “Nosso esforço conjunto é para difundir essas informações entre todos os médicos que atuam no tratamento do câncer de próstata no Brasil”, ressalta o membro da diretoria.
O Dr. Sasse afirma que, na prática clínica, ocorre eventualmente sobreposição de papéis entre oncologistas e urologistas. “Por isso, até para transmitir segurança aos pacientes, é muito importante que falemos a mesma língua, principalmente nos casos de pacientes metastáticos”, defende. O consenso abrange as principais condutas relativas, por exemplo, a hormonioterapia, duração do tratamento, quimioterapia, sequenciamento de medicações diferentes, biomarcadores e novas terapias.
“O desafio foi, todos juntos, selecionarmos as melhores evidências científicas mundiais e adaptarmos as recomendações à realidade brasileira”, explica o moderador. “Procuramos apontar prioridades, considerando as diversidades regionais e de acesso, de forma a homogeneizar as condutas para atendimentos tanto no Sistema Único de Saúde quanto na rede privada”, conclui. Segundo o especialista, saber quais são essas diferenças é importante para enfatizar o que é fundamental e deve ser incorporado à saúde pública, se ainda não estiver disponível.
Em breve, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica publicará o consenso em português com o intuito de propagá-lo ainda mais. Além disso, as informações serão atualizadas a cada dois anos. Em 2017, já será iniciada a segunda versão. A SBOC e a SBU pretendem construir consenso também sobre o câncer de bexiga.