A Dra. Aline Lauda Freitas Chaves, oncologista do Hospital São João de Deus e professora da Universidade Federal de São João del Rey, em Minas Gerais, conta que o Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2017) trouxe novidades, tratamentos promissores e respostas a dilemas antigos dos oncologistas que tratam pacientes com câncer de cabeça e pescoço.
Na sessão oral, o estudo fase III sobre o uso de cisplatina (semanal ou a cada 21 dias) concomitante a radioterapia foi, segundo ela, um dos mais comentados. A conclusão é que a dose semanal é menos eficaz do que a dose a cada 21 dias. O ensaio recebeu algumas críticas, por utilizar dose de 30 mg/m2 por semana, e não 40 mg/m2, como é preconizado, e também pelo fato de incluir pacientes em tratamento adjuvante pós-operatório associado a radioterapia e pacientes com tumores localmente avançados com cisplatina concomitante a radioterapia como tratamento definitivo.
Alguns estudos fase III negativos chamaram ainda a atenção, de acordo com a especialista. O uso de afatinibe adjuvante após quimio e radioterapia em pacientes com tumores irressecáveis não demonstrou ganho em sobrevida livre de doença comparado a placebo. Em outro estudo, a inclusão de bevacizumabe a uma associação de quimioterapia com platina para tumores recidivados ou metastáticos não demonstrou ganho na sobrevida global (end point primário do estudo), apesar de ter demonstrado ganho em sobrevida livre de progressão e taxa de resposta. Por fim, um estudo muito interessante, também fase III, analisou a inclusão ou não de quimioterapia adjuvante para pacientes com câncer de nasofaringe – em remissão completa após quimio e radioterapia concomitantes – que apresentavam DNA do vírus Epstein Bar detectável no plasma. O uso de quimioterapia adjuvante com cisplatina e gemcitabina não melhorou a sobrevida global e nem a sobrevida livre de recidiva (end point primário do estudo) comparado ao seguimento clínico exclusivo.
Sobre novas drogas, a oncologista destaca um estudo fase I/II sobre a associação de pembrolizumabe à nova droga epacadostat, um potente inibidor seletivo da IDO1 (indoleamine 2,3-dioxygenase 1), enzima que induz imunotolerância por meio da supressão de células T. A superexpressão de IPO 1 prediz pior prognóstico em tumores de cabeça e pescoço. Os resultados deste estudo, segundo ela, são preliminares, mas promissores.
Política pública contra o HPV
Um estudo transversal com impacto imediato nas políticas públicas foi a avaliação de infecção oral pelo vírus do HPV após vacinação de adultos jovens, ressaltou a especialista. Em indivíduos que reportaram tomar pelo menos uma dose da vacina contra o HPV (subtipos 16/18/6/11), a prevalência de infecção oral pelo vírus do HPV foi significativamente reduzida em comparação aos não vacinados (0,11% versus 1,61%; p=0.008), correspondendo a uma redução de 88% na prevalência da infecção. Notadamente, a prevalência de infecção pelos subtipos de HPV 16/18/6/11 em homens vacinados em comparação a não vacinados foi significativamente menor (0,0% versus 2,13%; p=0.007). Conclui-se que a vacinação reduz substancialmente a prevalência de infecção oral pelo HPV entre adultos jovens. Reforça, ainda, a necessidade de maior adesão à vacina pelos adultos jovens para que seja realmente efetiva em nível populacional.
Mais novidades da ASCO 2017
O Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2017) aconteceu de 2 a 6 de junho, em Chicago (EUA). Acompanhe as novidades aqui no site da SBOC.