O Dr. Fernando Santini, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e fellow em oncologia torácica avançada pelo Memorial Sloan Kettering Cancer Center, traz mais novidades da sessão oral em câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) avançado do Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2017). Ele comenta sobre a capacidade do osimertinibe em anular o efeito prognóstico deletério da metástase no sistema nervoso central, os resultados que levaram lorlatinibe a ser designado como terapia inovadora pelo Food and Drug Administration (FDA) para um determinado grupo de pacientes, os dados de dacometinibe versus gefitinibe em portadores de mutação ativadora do EGFR e também escolha de alectinibe em primeira linha para pacientes portadores de CPNPC avançado com rearranjo do ALK. Confira a seguir.
AURA 3
Este é um estudo de fase III que incluiu pacientes com CPNPC avançado T790M positivos portadores de mutação ativadora do EGFR pós-progressão a inibidor de tirosina cinase. Os pacientes foram randomizados entre quimioterapia a base de platina e osimertinibe 80 mg diariamente. Osimertinibe apresentou sobrevida livre de progressão no sistema nervoso central mais prolongada (11,7 meses versus 5,6 meses) e maior taxa de controle de doença do que no braço quimioterapia (93% versus 63%). Probabilidade de progressão no sistema nervoso central foi menor com osimertinibe, que também apresentou atividade contra acometimento leptomeníngeo. O grupo de pacientes com metástase no sistema nervoso central ao diagnóstico que receberam osimertinibe possuem resultados semelhantes ao grupo sem metástase no sistema nervoso central que também receberam o medicamento. Sugere-se, assim, que este potente inibidor irreversível do EGFR de terceira geração conseguiria anular o efeito prognóstico deletério da metástase no sistema nervoso central.
Lorlatinibe
Lorlatinibe foi testado em quatro coortes do estudo fase II que incluíram pacientes portadores de CPNPC avançado e do rearranjo ALK que progrediram após um a três inibidores do ALK +/- quimioterapia. O desfecho primário consistia em taxa de resposta sistêmica e intracraniana. A taxa de resposta sistêmica foi de 32%, enquanto a de controle de doença em 12 semanas ficou em 56%. Por sua vez, a taxa de resposta intracraniana foi de 48% e a de controle de doença intracraniana em 12 semanas atingiu 75%. Quatro de sete pacientes que progrediram a três inibidores do ALK previamente apresentaram resposta intracraniana. Hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia configuram os principais efeitos colaterais relacionados ao tratamento. Alterações cognitivas e de humor são, na maioria dos casos, graus 1 e 2 e reversíveis após redução de dose. Sendo assim, lorlatinibe apresentou respostas duradouras nesta população politratada e recebeu a designação de terapia inovadora (breakthrough designation) pela agência americana Food and Drug Administration (FDA) para pacientes que progrediram após um ou mais inibidores do ALK, o que significa que os estudos subsequentes são considerados prioritários.
ARCHER 1050
Neste estudo de fase 3 sobre tratamento de primeira linha, pacientes com CPNPC avançado portadores de mutação ativadora do EGFR foram randomizados entre dacometinibe e gefitinibe. Pacientes com metástase no sistema nervoso central foram excluídos. Dacometinibe representa inibidor de EGFR de segunda geração, irreversível e com potencial de inibição de HER1, 2 e 4. Vale enfatizar que aproximadamente 75% dos pacientes eram asiáticos. Pacientes no grupo dacometinibe apresentaram sobrevida livre de progressão mediana de 14,7 meses versus 9,2 meses no grupo gefitinibe. As taxas de respostas são semelhantes, aproximadamente 70%, mas as respostas são maiores e mais duradouras com dacometinibe (14,8 meses versus 8,3 meses), justificadas pela sua maior potência. Este benefício traduziu-se em maior toxicidade cutânea e gastrintestinal. Em contrapartida, apresentou menor taxa de elevação de transaminases quando comparados com gefitinibe. Taxa de suspensão do tratamento foi de 10% para dacometinibe e de 7% com gefitinibe. É importante ressaltar a taxa de redução de dose de 66% nos pacientes que receberam dacometinibe. Sendo assim, dacometinibe apresentou-se superior ao gefitinibe às custas de maior toxicidade. Principalmente para a população asiática, representa nova opção para tratamento de primeira linha.
ALEX
Alectinibe e crizotinibe foram testados em primeira linha para pacientes portadores de CPNPC avançado com rearranjo do ALK. O estudo já foi publicado no The New England Journal of Medicine*. Alectinibe demonstrou ser superior ao crizotinibe e menos tóxico, com potente ação no sistema nervoso central, e tornou-se droga de escolha em primeira linha neste grupo de pacientes. Outros inibidores de ALK também estão sendo testados em primeira linha.
*Acessível pela Biblioteca da SBOC
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O Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2017) aconteceu de 2 a 6 de junho, em Chicago (EUA). Acompanhe as novidades aqui no site da SBOC.