Um dos pôsteres de destaque do ESMO 2017 foi sobre resposta de longo prazo ao afatinibe na segunda linha em carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço recorrente ou metastático. O trabalho (1079P) tem como segundo autor Gilberto de Castro Junior, chefe do grupo de Oncologia Torácica e de Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Outros dois brasileiros assinam o estudo: os oncologistas clínicos Ulisses Ribaldo Nicolau, do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo (SP), e Luciano de Souza Viana, do Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga (MG). Na época da participação na pesquisa, este último estava no Hospital de Câncer de Barretos, interior paulista. O trabalho teve como pesquisadores também especialistas da Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Estados Unidos, França, Japão, Itália, Reino Unido e Rússia.
O Dr. Gilberto conta que, quando a cirurgia não é possível, os pacientes com carcinomas epidermoides de boca, laringe e faringe passam por quimio e radioterapia, com 30% de chance de eliminar o tumor. Os outros 70% progridem e precisam ser tratados de novo. Resultados de 2015 mostraram os benefícios do afatinibe na segunda linha para esses pacientes com recidiva ou doença metastática já tratados com cisplatina. Houve um aumento de sobrevida livre de progressão nos pacientes tratados com afatinibe.
O estudo deste ano levantou que, após este período, 11 pacientes entre os 322 do grupo afatinibe estavam vivos (3,4%) ante 3 de 160 do outro grupo (1,9%). A mediana de sobrevida global dos 11 citados foi de 1,5 ano, enquanto sem o afatinibe era de três a seis meses. Os pesquisadores, então, decidiram investigar quais eram as características desses 11 respondedores de longo prazo.
A maioria tinha respondido ao medicamento (oito tiveram alguma diminuição do tumor), 45% receberam linhas posteriores de tratamento, 77% tinham amplificação do EGRF, entre outras características biológicas comuns, como baixa expressão de HER3.
“Foi uma análise exploratória com o objetivo de entender qual o perfil desses pacientes de melhor resposta, o que poderá guiar outras investigações nesta linha”, afirma o Dr. Gilberto de Castro Junior. O resumo foi apresentado na última segunda-feira (11), em Madri.
Tumor desmoide e em reto baixo
A Dra. Juliana Ominelli, oncologista clínica do Hospital do Câncer IV, unidade do Instituto Nacional de Câncer (Inca) dedicada a cuidados paliativos, foi ao ESMO 2017 para a apresentação de dois resumos. O primeiro é sobre tumor desmoide (1495P), cujo tratamento continua sendo controverso. Os pesquisadores descreveram a experiência de tratar 23 pacientes com quimioterapia de baixa dose (vinblastina e metotrexato). Os resultados foram sobrevida livre de progressão de 29 meses, doença estável em 60,8% deles, resposta parcial em 17,3% e progressão de doença durante o tratamento em 21,7%.
Segundo a oncologista clínica, a quimioterapia de baixa dose pode ser uma estratégia para esses pacientes, sendo bem tolerada e com benefício clínico. “Geralmente, deixamos a quimioterapia para aqueles pacientes que têm lesão extensa e sintomática, que progrediram com tratamento hormonal (tamoxifeno)”, explica a Dra. Juliana. “A quimioterapia mais usada nesses tumores pode afetar o coração (doxorrubicina). Assim, esta quimioterapia de baixa dose, com poucos efeitos colaterais, pode ser uma excelente opção”, completa.
Outro resumo apresentado pela Dr. Juliana Ominelli no congresso europeu foi sobre a experiência do Inca em relação ao “watch and wait” (WW) versus cirurgia com resposta patológica completa. O tratamento não cirúrgico, segundo a médica, é especialmente interessante para pacientes com tumor em reto baixo, em que a cirurgia tende a ser mais agressiva e com maior morbidade.
O trabalho (603P) compara pacientes tratados com a abordagem mais conservadora e aqueles que, à cirurgia, não tinham evidência da doença. A recidiva local foi três vezes maior nos pacientes em WW, mas a recidiva sistêmica foi semelhante. Os pesquisadores observaram sobrevida livre de progressão pior no grupo do WW, mas sem diferença na sobrevida global. A maior parte (62,5%) dos pacientes manteve a resposta clínica completa, sem necessidade de cirurgia. Dos que apresentaram recidiva, mais de 60% foram submetidos a cirurgia de resgate.
A conclusão é que “watch and wait” tem maior risco de recidiva; contudo, pode evitar uma cirurgia agressiva e com muitas morbidades em pacientes selecionados. “Os pacientes devem ser acompanhados de forma estrita para diagnóstico precoce de recidiva”, finaliza a Dra. Juliana Ominelli.