O ESMO 2017 teve número recorde de trabalhos científicos (abstracts): crescimento de 13% em relação ao ano passado. Foram apresentados 1.736 trabalhos, incluindo 55 que mudam a prática clínica. Além disso, 482 ensaios clínicos ocuparam 192 sessões de debate, sendo 161 estudos de fase 3. De acordo com especialistas ouvidos pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), melanoma e câncer de pulmão foram as estrelas desta edição do congresso europeu.
A sessão plenária do último dia do ESMO 2017 trouxe novidades ao tratamento adjuvante de pacientes com melanoma com a apresentação de três trabalhos, dois deles com impacto muito significativo. Esta é a avaliação do Dr. Rodrigo Munhoz, vice-presidente eleito da SBOC para Ensino da Oncologia (gestão 2017/2019). A combinação de dabrafenibe e trametinibe (LBA6_PR) em pacientes com doença em estágio 3 e presença da mutação de BRAF V600E e V600K, tendo como braço comparador o placebo, mostrou um impacto favorável em sobrevida livre de recorrência e também tendência a benefício em sobrevida global nessa análise interina. “É um potencial novo padrão de tratamento para esses pacientes em uma duração de tratamento por até um ano nesse contexto adjuvante”, ressalta o oncologista clínico.
Outro estudo de impacto (NCT02388906) avaliou o nivolumabe por até um ano de duração em comparação ao ipilimumabe. Ainda não há dados de sobrevida global, mas o nivolumabe se associou a um ganho estatisticamente significativo em sobrevida livre de recorrência, sendo melhor tolerado. “Em intervalo muito curto, tivemos uma grande mudança no cenário de tratamento adjuvante, em que só havia o interferon e, mais recentemente, o ipilimumabe, que nunca foi incorporado à prática clínica no Brasil”, avalia o Dr. Munhoz.
O especialista ressalva que as casuísticas dos estudos são diferentes, o que limita a capacidade de comparação. “Mas são notícias muito bem-vindas e que prometem mudar de forma impactante o tratamento de pacientes com melanoma passíveis de cura cirúrgica, ampliando os benefícios tanto da terapia-alvo quanto da imunoterapia”, comenta.
O terceiro estudo, muito aguardado, foi o BRIM 8 (LBA7_PR) que randomizou pacientes com melanoma e presença de mutação do BRAF para o tratamento por um ano com o vemurafenibe versus placebo. Houve benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão para os grupos 2C, 3A e 3B, mas não para pacientes com doença estágio 3C. Segundo o Dr. Rodrigo Munhoz, o impacto desse estudo se reduz na prática em função dos dois anteriormente citados.
Câncer de pulmão
Na tentativa de identificar novos alvos moleculares para avaliação de resposta, estudo fase 2 (LBA51) apresentado no ESMO 2017 mostrou que três quartos dos pacientes com câncer de pulmão não pequenas células metastático e presença da mutação BRAF V600E, recebendo combinação do inibidor de BRAF dabrafenibe e do inibidor de MEK trametinibe em primeira linha, obtiveram resposta completa ou parcial ou doença estável.
Os investigadores concluíram que o dabrafenibe e o trametinibe combinados representam uma nova terapia-alvo com atividade antitumoral clinicamente significativa e um perfil de segurança gerenciável nesse subgrupo específico de pacientes, o que apoia as recentes aprovações das agências regulatórias europeia e americana. “Os dados são significativos para análise dessa mutação em estudos fase 3”, diz o Dr. Fábio Franke, vice-presidente eleito para Pesquisa Clínica e Estudos Corporativos da SBOC (gestão 2017/2019).
Um outro ensaio clínico apresentado no ESMO 2017 que muda a prática clínica é o Pacific, já publicado no New England Journal of Medicine. De acordo com o Dr. Fábio Franke, é o primeiro estudo que comprova a eficácia de uma imunoterapia de manutenção em pacientes com doença inicial não passíveis de cirurgia (câncer de pulmão não pequenas células estágio III não ressecável localmente avançado). Os pesquisadores investigaram o impacto do inibidor de PD-L1 durvalumabe em pacientes que não haviam progredido após a quimioterapia à base de platina concomitante à radioterapia. O estudo fase 3 mostrou mediana da sobrevida livre de progressão de 16,8 meses no braço de durvalumabe em comparação a 5,6 meses com placebo (HR 0,52). A incidência de toxicidades graves foi semelhante entre os grupos.