Segundo a Dra. Hyrlana Leal Barbosa Passos e o Dr. Marcos Dumont Bonfim Santos, residentes selecionados para o Programa de Capacitação em Pesquisa Clínica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a experiência em Ijuí (RS) foi transformadora. Eles passaram uma semana, de 2 a 6 de julho, acompanhando todas as etapas do desenvolvimento de um estudo clínico no Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia do Hospital de Caridade de Ijuí – Oncosite.
A residente do terceiro ano do Hospital Português, na Bahia, conta que voltou para Feira de Santana com uma perspectiva totalmente diferente. “Você sai de uma posição de espera de que algo aconteça para outra em que passa a buscar alternativas de como contribuir para que essa realidade mude”, diz a Dra. Hyrlana, referindo-se à questão do acesso ao tratamento oncológico. Os pacientes que integram protocolos de pesquisa são tratados com medicamentos inovadores, os mesmos muitas vezes oferecidos em países desenvolvidos, e recebem atenção especializada durante toda a pesquisa.
Como residente do primeiro ano da Unifesp, na capital paulista, o Dr. Marcos afirma que a experiência de imersão em Ijuí porporcionada pela SBOC servirá para que ele aproveite de outra forma a sua residência, com a mentalidade muito mais aberta à pesquisa clínica. “Pelo que observei até participar do programa, os profissionais acabam se fechando muito para essa área, por conta da burocracia e das dificuldades em nosso país”, relata. “Mas, conhecendo in loco como a equipe de Ijuí vem superando tudo isso, estou convencido de que precisamos construir um novo olhar e uma nova atitude”, diz o futuro oncologista.
Objetivo cumprido, na avaliação do Dr. Fábio Franke, vice-presidente da SBOC para Pesquisa Clínica e Estudos Corporativos, coordenador do Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia do Hospital de Caridade de Ijuí – Oncosite e do Programa de Capacitação em Pesquisa Clínica. “Acredito que conseguimos despertar nos residentes a motivação pela qual o programa da SBOC foi criado, que é disseminar a pesquisa clínica Brasil afora”, afirma.
Cadeia em movimento
“É fantástico como a equipe de Ijuí consegue conduzir os estudos mesmo com tantos entraves burocráricos e de logística”, relata a Dra. Hyrlana. “É uma prova de que, mesmo num cenário desfavorável, é possível fazer pesquisa clínica. Realmente encorajador”, define. A residente ficou impressionada com o engajamento dos profissionais da equipe e da rede de apoio. “Eles são muito responsáveis, comprometidos, minuciosos; trabalham em interação constante para conhecer e melhorar a rotina de cada um”, narra a médica.
O Dr. Marcos também afirmou que a imersão foi inspiradora. “Conhecer como um centro de pesquisa é construído e atinge um nível de excelência, superando as adversidades brasileiras, nos faz acreditar que é possível ser feito; o Brasil tem, sim, condições de participar de pesquisas clínicas importantes”, analisa.
De acordo com o Dr. Fábio Franke, os dois residentes puderam conhecer a rotina de um centro de pesquisa de perto, o dia a dia dos investigadores, da equipe de coordenadoras que trabalha diretamente na parte regulatória e na parte burocrática do estudo, o funcionamento de uma farmácia de pesquisa, o recrutamento dos pacientes, inclusão em um protocolo de pesquisa, discussão de todas as questões regulatórias e éticas da aprovação sanitária. “São detalhes que, por vezes, só a teoria não nos traz, mas sim o convívio, por meio da prática e da experiência”, salienta.
Um passo à frente
A Dra. Hyrlana conta que, além de passar por todas essas etapas, eles puderam conhecer a história do Centro de Pesquisa e entender como tudo foi sendo construído ao longo de alguns anos, com muita determinação e foco. “Não são resultados imediatos. Tudo teve um ponto de partida, os primeiros desafios foram sendo superados, a equipe foi crescendo”, explica.
Ela teve oportunidade de compartilhar essa narrativa com os colegas logo no primeiro dia de volta a Salvador. Era uma reunião multidisciplinar e um dos profissionais lamentava os recursos limitados e a impossibilidade de oferecer outros tratamentos aos pacientes. Ela, então, mencionou o Programa e a pesquisa clínica como uma importante e plausível alternativa de acesso. “Enquanto nós costumamos ficar dentro do que a nossa realidade nos permite e aguardar novos estudos clínicos e novas incorporações, quem faz pesquisa clínica está fazendo parte desses estudos e já oferecendo o que há de mais moderno a uma parcela dos pacientes; estão sempre um passo à frente”, colocou a residente ao grupo.
Na Unifesp, o Dr. Marcos conta que foi grande o interesse dos preceptores e dos colegas residentes pelo aprendizado em Ijuí. É possível que ele faça, inclusive, uma apresentação formal sobre o que viu, as boas práticas e as possibilidades.
Estão sendo selecionados agora quatro jovens oncologistas para o Programa de Capacitação em Pesquisa Clínica da SBOC. Um candidato do Norte e um do Sul ou Sudeste participarão no período de 13 a 17 de agosto. Um do Nordeste e outro do Centro-Oeste, por sua vez, estarão lá na semana de 10 a 14 de setembro.