As dificuldades de fazer Oncologia Clínica no sistema público de saúde, com oferta limitada de tratamentos aos pacientes com câncer, motivou duas jovens oncologistas a se inscreverem para o Programa de Capacitação de Pesquisa Clínica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). A Dra. Gilmara Anne da Silva Resende é de Manaus (AM) e a Dra. Patrícia Bottamedi Ratto, de São Carlos (SP). Ambas são graduadas há dez anos e pretendem utilizar os conhecimentos adquiridos no Programa para criar centros de pesquisa clínica em suas cidades. A experiência delas em Ijuí (RS) será de 13 a 17 de agosto.
Preocupada com a questão dos entraves para o acesso dos pacientes, a Dra. Patrícia diz enxergar na pesquisa clínica muita resposta ou, pelo menos, tentativa em ofertar o que há de melhor para os pacientes, independentemente de sua condição social. Como os pacientes são selecionados pelo perfil de desenvolvimento do câncer, a oncologista costuma dizer que, “neste contexto, quem manda é a neoplasia, tornando a pesquisa a forma de acesso mais democrática na oncologia”. “O paciente passa a ter acesso aos melhores tratamentos, com chance de sucesso até então inéditas, e o médico tem a possibilidade de acompanhar a evolução ou não desse tratamento, bem como seus efeitos e manejo”, completa.
A paulistana, selecionada para o Programa como jovem oncologista da Região Sul/Sudeste, classifica a pesquisa clínica como “algo extraordinário” e vê com muito otimismo o seu crescimento em nosso país. São Carlos, a cidade onde nasceu e onde exerce a especialidade, tem 300 mil habitantes e fica a 230 km da capital. Durante a residência em Oncologia Clínica, feita na Unesp, em Botucatu (SP), não teve treinamento específico em pesquisa clínica. “No meio de tantas diferenças, acesso díspare, judicialização, dificuldade técnica dos órgãos reguladores em autorizar as drogas no país, preço e indicações, a pesquisa clínica traz uma esperança de uma oncologia de ponta para mais pessoas”, afirma.
Amazonas
Criar um centro de pesquisa clínica para aumentar o acesso dos pacientes a novos tratamentos também é o objetivo da Dra. Gilmara Resende. A oncologista é natural de Manaus, onde se formou em medicina e fez a residência em Clínica Médica. Já a residência em Oncologia Clínica foi no Hospital de Câncer de Barretos, em São Paulo. Mas logo voltou para ser uma das oito oncologistas da Fundação Centro de Controle em Oncologia do Estado do Amazonas (FCECON), único serviço público que atende SUS no Estado inteiro, mais o Sul do Pará, parte do Acre e de Roraima.
“Somos uma região geográfica carente de centros de pesquisa e com um número de pacientes ainda não totalmente conhecido e prevalência de tumores que difere das outras regiões do país. Uma das formas para tentar mudar o cenário seria um centro de pesquisa clínica que atendesse uma parcela dessa população tão carente de recursos em saúde e de atenção do poder público”, descreve a Dra. Gilmara. “Com programas de imersão, é possível estar mais próximo da dinâmica de funcionamento de um centro”, destaca a jovem oncologista selecionada como representante da Região Norte no Programa da SBOC.
Além de proporcionar acesso aos medicamentos inovadores, a oncologista manauara acredita que um centro de pesquisa estimula a modernização de todo uma estrutura que passa a estar envolvida na tentativa de equiparação a padrões de assistência e atendimento internacionais, com mais conhecimento técnico-científico para a equipe multidisciplinar. “Todos, principalmente o paciente que aceita participar e se enquadra nos critérios de um estudo, saem ganhando”, conclui.