Durante todo o ano, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) alertou sobre a demora da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) em incluir novos medicamentos no sistema público. Em novembro, foi dado um passo mais incisivo nesse sentido com a primeira submissão ao órgão para a incorporação de dois medicamentos, trastuzumabe e pertuzmabe.
Para elaborar a submissão feita à Conitec, a SBOC fez um parecer técnico, envolvendo uma revisão sistemática da literatura, uma avaliação de custo-efetividade e uma análise de impacto orçamentário. “Revisamos todos os dados da literatura mundial sobre a eficácia do trastuzumabe e da combinação dele com pertuzumabe para o tratamento de câncer de mama metastático HER2-positivo”, explica o oncologista clínico André Sasse, membro da SBOC. “Fizemos também a avaliação de custo-efetividade, que levou em conta um modelo econômico baseado na realidade brasileira do SUS, seguida de uma estimativa do impacto orçamentário para o Ministério da Saúde de uma eventual incorporação dos dois anticorpos monoclonais. O trabalho envolveu discussão dos preços praticados e eventuais descontos possíveis de serem negociados com a indústria farmacêutica. Esse tipo de abordagem é inédita no país”, afirma.
Um outro estudo realizado por um grupo de médicos oncologistas brasileiros corroborou a importância das duas drogas para o tratamento da doença. Segundo o trabalho, estima-se que, do total de 58 mil mulheres que devem receber diagnóstico de câncer de mama durante o ano de 2016 no Brasil, 2 mil terão o subtipo HER2 positivo da doença em estágio avançado e, após 2 anos, apenas 808 estarão vivas se forem tratadas somente com quimioterapia, que é o cenário atual do que ocorre no SUS.
A submissão ainda aguarda avaliação da Conitec. “Nos próximos meses, a SBOC também entrará com pedido de incorporação de outros medicamentos, como o ipilimumabe para melanoma e uma terapia para câncer renal”, explica o oncologista Gustavo Fernandes, presidente da SBOC”. “A SBOC espera contribuir com a sociedade, indicando o real valor dos novos medicamentos e o impacto de sua incorporação na sobrevida dos pacientes em tratamento de câncer””, afirma o Dr. Fernandes.