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Posicionamento SBOC: Duração do Tratamento Adjuvante do Câncer de Mama HER2 Positivo

Notícias Terça, 19 Junho 2018 14:51

O tratamento adjuvante de pacientes com câncer de mama HER2 positivo, que constitui cerca de 20% dos casos de câncer de mama, é baseado atualmente no uso de quimioterapia em esquemas variados e do anticorpo monoclonal trastuzumabe por um prazo de 12 meses. O trastuzumabe trouxe uma melhora significativa da chance de cura para as pacientes com este tipo de câncer de mama, sendo considerado um dos maiores avanços da oncologia clínica nas últimas décadas. Metanálise do grupo Cochrane em 2012 calculou que o tratamento com trastuzumabe adjuvante reduziu em 40% o número de recidivas e em 34% o número de mortes nesta população. O custo do tratamento, entretanto, é muito alto, constituindo-se em um problema significativo no financiamento da saúde, tanto no sistema público como na saúde suplementar.

O estudo Persephone, apresentado no Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO 2018), em 3 de junho último, traz importantes novidades a respeito. Patrocinado pelo governo inglês por meio do National Institute for Health Research e apresentado pela Professora Helena Earl, da Universidade de Cambridge, o estudo partiu da premissa de que o tempo de 6 meses não seria inferior a 12 meses de tratamento com trastuzumabe. O ensaio clínico, realizado em 152 centros do Reino Unido entre 2007 e 2015, randomizou de maneira aleatória 4089 pacientes para receberem 6 ou 12 meses de tratamento, com quimioterapia administrada de maneira concomitante ou sequencial. O tratamento conseguiu ser completado em 86% das pacientes. Com um seguimento mediano de 5,4 anos, 13% das pacientes haviam recidivado ou morrido. A sobrevida livre de doença foi igual em ambos os grupos, ao redor de 89% aos 4 anos de seguimento, com sobrevida global em ambos os grupos ao redor de 94%. A toxicidade cardíaca foi de 8% no grupo tratado por 12 meses e 4% no grupo tratado por 6 meses. De acordo com as premissas estatísticas do estudo, os autores demonstraram que o tempo de 6 meses com trastuzumabe não é inferior a 12 meses de tratamento, com redução importante dos custos e da toxicidade cardíaca.

A SBOC considera esse um estudo importante e especialmente significativo para nosso país, pela possibilidade de diminuir significativamente os gastos de saúde de forma segura para as pacientes. Entretanto, nem todas as pacientes são iguais e é muito importante individualizar a conduta. Por exemplo, as pacientes com baixo risco de recorrência (tumores menores que 2 cm e com axila negativa) são atualmente tratadas com esquema reduzido de quimioterapia e com 12 meses de trastuzumabe e essa conduta, a nosso ver, deve ser mantida. Além disso, as pacientes de alto risco (tumor localmente avançado, axila com mais de 4 linfonodos) também, a nosso ver, devem continuar recebendo tratamento com trastuzumabe por 12 meses. Essas decisões devem ser tomadas de forma individualizada, levando-se em conta, inclusive, as preferências pessoais das pacientes. Para todas as outras pacientes, entretanto, consideramos que o tratamento com quimioterapia de 6 meses de trastuzumabe não é inferior a 12 meses. Os recursos financeiros economizados com esse novo esquema podem ser transferidos para ampliar o acesso a outros tratamentos de câncer, em especial nos serviços públicos. Isso representa uma excelente oportunidade de atender pacientes que, hoje, não contam com nenhum tratamento eficaz oferecido pelo SUS.

Ressaltamos que a totalidade dos dados do estudo não foi apresentada e que aguardamos a publicação completa dos dados para um posicionamento final da SBOC.

A SBOC considera louvável o esforço do governo britânico em financiar pesquisa clínica de alta qualidade, visando esclarecer dúvidas importantes para a economia do país. A SBOC e a comunidade médica esperam que esse exemplo seja seguido pelas autoridades responsáveis pelas políticas públicas de saúde no Brasil. No que diz respeito à oncologia clínica, reiteramos nossa disponibilidade em ajudar a construir e viabilizar tecnicamente tais iniciativas.

Dr. Sergio D. Simon
Presidente da SBOC
Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo

Dr. José Bines
Clinica São Vicente, Rio de Janeiro

Dr. Gilberto Amorim
Oncologia D’Or, Rio de Janeiro

Dr. Rafael Kaliks
Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo

Dr. Max Mano
Hospital Sírio-Libanês, São Paulo

Dr. Carlos Henrique E. Barrios
Hospital Mãe de Deus, Porto Alegre

Referência:
http://abstracts.asco.org/214/AbstView_214_217191.html

Última modificação em Terça, 19 Junho 2018 15:00

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