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Primeiro estudo brasileiro sobre cardiopatia carcinoide é apresentado no ESMO 2017

Pesquisadores do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) investigaram os fatores prognósticos associados à cardiopatia carcinoide, complicação incomum de tumores neuroendócrinos associada a síndrome carcinoide. De acordo com a Dra. Rachel Riechelmann, orientadora do trabalho, o tema é negligenciado na literatura. “Este é o primeiro estudo brasileiro e da América Latina”, ressalta. O tempo até o diagnóstico do câncer mostrou-se um fator de risco para a cardiopatia carcinoide. A complicação é muito mais frequente em pacientes da rede pública, onde o diagnóstico tardio é preponderante. Os achados foram apresentados no ESMO 2017 (pôster 447).

Conforme os resultados do estudo, a cardiopatia carcinoide é significativamente associada com maior volume (> 50% do parênquima) de metástases hepáticas, condição que caracteriza doença avançada. O tempo decorrido entre o aparecimento dos sintomas e o diagnóstico também é determinante. Pela primeira vez, observou-se que a presença de comorbidades cardiovasculares também aumentou o risco de desenvolver a complicação.

O trabalho será tema de apresentação oral no XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, no Rio de Janeiro. A primeira autora do estudo, Dra. Marcella Coelho Mesquita, comentará os achados na plenária. Será no dia 28 de outubro, sábado, a partir das 14h, na sala 9. O Simpósio de Cardio-Oncologia ocorrerá no mesmo dia, na sala 8.

A Dra. Rachel Riechelmann orientará um segundo estudo sobre o tema. Dessa vez, os pesquisadores pretendem avaliar no sangue dos pacientes com tumores neuroendócrinos biomarcadores associados ao tumor e susceptibilidades genéticas individuais que também possam estar relacionadas ao desenvolvimento da cardiopatia carcinoide. “A complicação é muito grave e, comumente, evolui para insuficiência cardíaca direita. A maior parte dos pacientes não vive mais do que cinco anos”, afirma a especialista. A Dra. Rachel é membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), professora da Pós-Graduação da Universidade de São Paulo, diretora científica do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrintestinais, foi chefe da Pesquisa Clínica no Icesp e hoje é diretora do Departamento de Oncologia Clínica do A.C. Camargo Cancer Center.

 

Quando a vacina contra o HPV entrou no calendário nacional de imunização, em 2014, era aplicada nas escolas. A cobertura foi a mais alta no país até hoje: 92% na primeira dose e 60,38% na segunda dose. A meta é de 80%. Mas o Ministério da Saúde decidiu, a partir do ano seguinte, oferecer a vacina nos postos de saúde. A queda da adesão foi expressiva desde então, com média no período de 70,5% para a primeira dose e 43% para a segunda. A medida é considerada essencial pela comunidade científica para prevenir câncer de colo de útero e outras doenças graves.

A inclusão dos meninos no público-alvo este ano também teve alcance muito aquém do potencial: 20,2% até junho. O governo federal tem feito tentativas de reintroduzir a vacinação contra o HPV nas escolas, mas alega dificuldades de articulação com os Estados e municípios. A Dra. Ana Goretti Kalume Maranhão, médica coordenadora substituta do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, conta que o programa Saúde na Escola ganhou neste ano um novo aporte, cujo carro-chefe é a imunização. “As escolas que fizerem a vacinação ou adotarem estratégias de levar os alunos aos postos mais próximos, por exemplo, terão os recursos necessários garantidos”, conta.

A representante do Ministério da Saúde participou de um workshop promovido pelo Instituto Oncoguia, no início de setembro, com o tema “Câncer de colo uterino: a doença que não deveria existir”. “Cada vez mais me convenço que a única forma de vacinar adolescente é no seu ambiente escolar, onde ele passa metade da vida”, diz a Dra. Ana Goretti. “Além de ser mais fácil de vacinar, é a oportunidade que temos de trabalhar com os professores para que eles informem as famílias sobre a doença e a prevenção”, afirma.

Dificuldades

Países que têm índices altos de cobertura contra o HPV adotam a estratégia de vacinar na escola: Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia. “Iniciamos a vacinação nas escolas aqui no Brasil e achávamos que isso estaria na consciência das pessoas, que poderíamos depois ir para a unidade de saúde, mas não foi o que aconteceu”, admite a coordenadora substituta.

Na visão do Ministério da Saúde, existe resistência por parte dos gestores municipais. “No nível nacional, o Ministério da Educação é parceiríssimo do Ministério da Saúde. Mas vacinação é uma atividade que acontece no nível municipal e aí temos dificuldades”, avalia a Dra. Ana Goretti. Segundo a especialista, é fundamental a articulação entre a escola e uma unidade de saúde para organizar de forma adequada a vacinação “extramuro”.

Outro desafio, conforme explica a coordenadora, é que somente 40% dos municípios têm um sistema online de informação que registre o nome, o endereço e as doses aplicadas. “Precisaríamos ter os dados da real cobertura para saber quem não tomou a segunda dose e fazer busca ativa, por exemplo”, destaca a médica.

A vacina contra o HPV está disponível nos postos de vacinação de forma permanente. Até 22 de setembro, ocorre uma campanha de multivacinação em todo o país, com reforço na mídia sobre a necessidade da prevenção.

O ESMO 2017 trouxe dados importantes nas áreas de cabeça e pescoço e câncer de mama. A seguir, estão destaques selecionados por membros da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Cabeça e pescoço

O ESMO 2017 foi uma complementação do último ASCO na área de cabeça e pescoço, conforme avalia a Dra. Aline Lauda, membro da diretoria da SBOC eleita para a gestão 2017/2019. O estudo de fase 3 de maior destaque foi o Checkmate 141 (1043O). A conclusão da apresentação foi que, em um seleto grupo de pacientes com carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço recorrente ou metastático submetidos a nivolumabe em segunda linha de tratamento e que progrediram a tal droga, o tratamento além da progressão pode ter algum benefício.

Após a progressão inicial, 15 (24%) pacientes apresentaram redução no tamanho da lesão-alvo e três deles uma redução maior que 30%. Dos 15 respondentes, oito eram positivos para o Papilomavírus Humano (HPV), cinco tinham expressão de PD-L1 ≥1% e cinco haviam mostrado aumento maior que 20% na lesão-alvo na primeira progressão.

Um estudo fase 1 (1044O) de atezolizumabe como monoterapia na doença metastática mostrou bom perfil de segurança e resultados promissores em termos de resposta e sobrevida. Durvalumabe, em estudo de fase 2 (1042O), apresentou atividade antitumoral promissora e boa tolerância no tratamento de pacientes com carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço recorrente ou metastático com alta expressão de PD-L1. Estudos de fase 3 de durvalumabe com ou sem tremelimumabe (anti-CTLA-4) estão atualmente em curso.

Além disso, o estudo Keynote-040 (LBA45_PR), fase 3, concluiu que pembrolizumabe pode ser uma opção para pacientes com câncer de cabeça e pescoço recidivado ou metastático resistente a quimioterapia de primeira linha. A Dra. Aline Lauda explica que houve uma redução de 19% do risco de morte e, apesar de não ter atingido significância estatística, a diferença clínica foi elogiada pelos debatedores.

“A conclusão deste congresso é que a imunoterapia para doença metastática em cabeça e pescoço veio para ficar; está consolidada na segunda linha após a cisplatina. Se virá para a primeira linha combinada com a quimioterapia ou na adjuvância, outros estudos ainda em andamento responderão”, afirma a oncologista clínica.

Câncer de mama

O grande impacto em termos de nova droga para câncer de mama no ESMO 2017 foi o abemaceclibe, inibidor de CDK4/6. O Dr. Gilberto Amorim, diretor da SBOC, explica que o medicamento é o terceiro de uma classe que, de fato, chegou para ficar na oncologia mamária. Para pacientes sem tratamento prévio ou que tiveram recidiva tratada havia mais de um ano, a taxa de resposta passou de 60%. Entre os que receberam a droga associada ao inibidor de aromatase, o benefício clínico é próximo de 80%.

Segundo o especialista, os novos dados sugerem também que pacientes com recidiva muito tardia ou doença óssea isolada talvez não precisem dos inibidores de CDK4/6 e possam ser tratados com os anti-hormonais de forma isolada. O estudo em questão é o Monarch-3, de fase 3 (236O_PR).

O Dr. Gilberto Amorim gravou dois vídeos com outros comentários sobre o melhor do ESMO 2017 em câncer de mama e questões mais gerais. Confira clicando abaixo:

Vídeo 1

Vídeo 2

O ESMO 2017 teve número recorde de trabalhos científicos (abstracts): crescimento de 13% em relação ao ano passado. Foram apresentados 1.736 trabalhos, incluindo 55 que mudam a prática clínica. Além disso, 482 ensaios clínicos ocuparam 192 sessões de debate, sendo 161 estudos de fase 3. De acordo com especialistas ouvidos pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), melanoma e câncer de pulmão foram as estrelas desta edição do congresso europeu.

A sessão plenária do último dia do ESMO 2017 trouxe novidades ao tratamento adjuvante de pacientes com melanoma com a apresentação de três trabalhos, dois deles com impacto muito significativo. Esta é a avaliação do Dr. Rodrigo Munhoz, vice-presidente eleito da SBOC para Ensino da Oncologia (gestão 2017/2019). A combinação de dabrafenibe e trametinibe (LBA6_PR) em pacientes com doença em estágio 3 e presença da mutação de BRAF V600E e V600K, tendo como braço comparador o placebo, mostrou um impacto favorável em sobrevida livre de recorrência e também tendência a benefício em sobrevida global nessa análise interina. “É um potencial novo padrão de tratamento para esses pacientes em uma duração de tratamento por até um ano nesse contexto adjuvante”, ressalta o oncologista clínico.

Outro estudo de impacto (NCT02388906) avaliou o nivolumabe por até um ano de duração em comparação ao ipilimumabe. Ainda não há dados de sobrevida global, mas o nivolumabe se associou a um ganho estatisticamente significativo em sobrevida livre de recorrência, sendo melhor tolerado. “Em intervalo muito curto, tivemos uma grande mudança no cenário de tratamento adjuvante, em que só havia o interferon e, mais recentemente, o ipilimumabe, que nunca foi incorporado à prática clínica no Brasil”, avalia o Dr. Munhoz.

O especialista ressalva que as casuísticas dos estudos são diferentes, o que limita a capacidade de comparação. “Mas são notícias muito bem-vindas e que prometem mudar de forma impactante o tratamento de pacientes com melanoma passíveis de cura cirúrgica, ampliando os benefícios tanto da terapia-alvo quanto da imunoterapia”, comenta.

O terceiro estudo, muito aguardado, foi o BRIM 8 (LBA7_PR) que randomizou pacientes com melanoma e presença de mutação do BRAF para o tratamento por um ano com o vemurafenibe versus placebo. Houve benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão para os grupos 2C, 3A e 3B, mas não para pacientes com doença estágio 3C. Segundo o Dr. Rodrigo Munhoz, o impacto desse estudo se reduz na prática em função dos dois anteriormente citados.

Câncer de pulmão

Na tentativa de identificar novos alvos moleculares para avaliação de resposta, estudo fase 2 (LBA51) apresentado no ESMO 2017 mostrou que três quartos dos pacientes com câncer de pulmão não pequenas células metastático e presença da mutação BRAF V600E, recebendo combinação do inibidor de BRAF dabrafenibe e do inibidor de MEK trametinibe em primeira linha, obtiveram resposta completa ou parcial ou doença estável.

Os investigadores concluíram que o dabrafenibe e o trametinibe combinados representam uma nova terapia-alvo com atividade antitumoral clinicamente significativa e um perfil de segurança gerenciável nesse subgrupo específico de pacientes, o que apoia as recentes aprovações das agências regulatórias europeia e americana. “Os dados são significativos para análise dessa mutação em estudos fase 3”, diz o Dr. Fábio Franke, vice-presidente eleito para Pesquisa Clínica e Estudos Corporativos da SBOC (gestão 2017/2019).

Um outro ensaio clínico apresentado no ESMO 2017 que muda a prática clínica é o Pacific, já publicado no New England Journal of Medicine. De acordo com o Dr. Fábio Franke, é o primeiro estudo que comprova a eficácia de uma imunoterapia de manutenção em pacientes com doença inicial não passíveis de cirurgia (câncer de pulmão não pequenas células estágio III não ressecável localmente avançado). Os pesquisadores investigaram o impacto do inibidor de PD-L1 durvalumabe em pacientes que não haviam progredido após a quimioterapia à base de platina concomitante à radioterapia. O estudo fase 3 mostrou mediana da sobrevida livre de progressão de 16,8 meses no braço de durvalumabe em comparação a 5,6 meses com placebo (HR 0,52). A incidência de toxicidades graves foi semelhante entre os grupos.

Este é o entendimento da coordenadora substituta do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, a médica Ana Goretti Kalume Maranhão, que participou de um workshop promovido pelo Instituto Oncoguia, no início de setembro. “Tenho ficado abismada com o baixo nível de conhecimento sobre a vacina contra o HPV [Papilomavírus Humano]”, revela. A especialista destacou uma pesquisa de 2015 segundo a qual somente 41,5% dos profissionais de saúde sabiam que a vacina protege contra o câncer de colo de útero.

“Se o profissional não está ciente dos riscos da infecção por HPV, que pode levar à morte, se ele não reconhece a importância dessa vacinação, como vai orientar as famílias?”, questiona a Dra. Ana Goretti. Perguntada sobre se houve alguma capacitação aos contratados pelo Programa Mais Médicos, por exemplo, ela responde que não e que deveria ter sido uma ação da área de Atenção Básica do Ministério. Segundo o relato da especialista, a articulação entre as diversas coordenações da pasta tem sido um desafio. Recentemente, diante da queda significativa nos índices de cobertura vacinal, ela conta que novas tentativas de diálogo e parceria têm acontecido.

Para a Dra. Ana Goretti, já foi comprovado que as famílias tendem a seguir a recomendação dos profissionais de saúde. Ela afirma que o Ministério investe em material educativo e na inserção do tema em congressos médicos. “Mas o Brasil é muito grande; tem muito profissional com dificuldade para se atualizar”, lamenta. “Esta questão da comunicação precisa ser resolvida”, insiste a coordenadora substituta.

Mensagens prioritárias

O principal alerta que deve ser feito para a população-alvo e suas famílias é que a vacina contra o HPV previne contra 70% dos casos de câncer de colo de útero, 44% de vulva, 56% da vagina, 87% de câncer anal e 90% das verrugas genitais. Estudo publicado este ano mostra que a vacina também reduz a taxa de infecção oral por HPV em adultos jovens em até 88%, evitando o câncer de orofaringe.

Outro estudo recente, realizado com homens de 18 a 70 anos, aponta que brasileiros (72%) têm mais infecção por HPV que os mexicanos (62%) e norte-americanos (61%). Além disso, a incidência de câncer de pênis é três vezes maior no Brasil em comparação com os Estados Unidos.

De acordo com a Dra. Ana Goretti, há pesquisas em andamento sobre a efetividade de uma dose única para facilitar a prevenção, mas ainda não existem conclusões a respeito. Sendo assim, o Ministério da Saúde preconiza atualmente duas doses da vacina para meninas de 9 a 15 anos e meninos de 11 a 14 anos.

Também é importante que os profissionais de saúde reforcem a segurança da vacina contra o HPV. De 15 milhões de doses administradas no Brasil desde 2014, houve somente um evento considerado grave com seis meninas do Rio Grande do Sul que tiveram anafilaxia.

Mais uma barreira cultural que a vacinação enfrenta é ser apontada como incentivo ao início da vida sexual. A Dra. Ana Goretti reforça que não há qualquer associação comprovada nesse sentido. “Pelo contrário, 45,5% das adolescentes contraem o HPV antes da primeira penetração vaginal”, revela. “Devemos enfatizar, sim, a vacina como medida fundamental para prevenir o câncer”, orienta.

A vacina contra o HPV está disponível como rotina durante o ano todo para o público-alvo nos 37 mil postos do país. Até 22 de setembro, uma campanha do Ministério da Saúde na mídia lembra a necessidade de se completar o esquema de duas doses.

A Food and Drug Administration (FDA), agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos, aprovou ontem (14) o bevacizumab-awwb (Mvasi®), biossimilar do Avastin®, para vários tipos de câncer. Veja as indicações divulgadas pela American Society of Clinical Oncology (ASCO):

- Câncer colorretal metastático em combinação com quimioterapia intravenosa à base de fluorouracil para tratamento de primeira ou segunda linha. Bevacizumab-awwb não é indicado para o tratamento adjuvante de câncer colorretal ressecado cirurgicamente;

- Câncer colorretal metastático em combinação com a quimioterapia à base de fluoropirimidina-irinotecano ou fluoropirmidina-oxaliplatina para o tratamento de segunda linha de pacientes que progrediram em um regime de primeira linha com bevacizumab;

- Câncer de pulmão não pequenas células não-cônicas em combinação com carboplatina e paclitaxel para tratamento de primeira linha de doença não ressecável, localmente avançada, recorrente ou metastática;

- Glioblastoma com doença progressiva após terapia prévia, com base na melhora na taxa de resposta objetiva. Não há dados disponíveis que demonstrem melhora nos sintomas relacionados à doença ou sobrevivência com bevacizumab;

- Carcinoma de células renais metastáticas, em combinação com interferon alfa;

- Câncer cervical persistente, recorrente ou metastático em combinação com paclitaxel e cisplatina ou paclitaxel e topotecano.

Resultados promissores com biossimilares foram um dos grandes destaques do Annual Congress of the European Society for Medical Oncology (ESMO 2017). Esses lançamentos têm potencial para aumentar o acesso dos pacientes a terapias já padronizadas, mas que ainda não são oferecidas no sistema público de saúde, por exemplo. De acordo com o Dr. Gilberto Amorim, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a expectativa é que consigam reduzir os custos de medicamentos na ordem de 30% a 40%.

Os dados mais impactantes apresentados em Madri referem-se a trastuzumabe, mas o Dr. Gilberto Amorim acredita que, em breve, haverá resultados envolvendo outros anticorpos monoclonais tradicionais como o próprio bevacizumabe, rituximabe e cituximabe. “Isso amplia o alcance dessa tendência, que já começa a se concretizar para câncer de mama, mas certamente abrange câncer colorretal, de pulmão, de ovário, linfomas e até câncer de colo do útero”, explica o diretor da SBOC.

Outro fato que chamou a atenção do oncologista clínico é que, por trás desses estudos com biossimilares, estão laboratórios farmacêuticos com vasta experiência em moléculas inovadoras, como a Amgen e a Pfizer, mas também novas empresas nesse mercado, a exemplo da Samsung, Celltrion e Mylan. “Em tempos de custos cada vez mais estratosféricos com as novas drogas imunoterápicas, é uma boa notícia”, avalia.

O especialista ficou impressionado com os resultados apresentados no ESMO 2017. “São drogas absolutamente equivalentes. Os estudos avaliaram a parte farmacológica e também a segurança, inclusive cardiotoxicidade, com resultados bastante robustos”, descreve. Assista ao vídeo em que o médico comenta esses dados.

As agências reguladoras da Europa e dos Estados Unidos já estão avaliando algumas dessas drogas, em especial o trastuzumabe. “São esperadas outras aprovações nos próximos meses”, afirma o Dr. Gilberto Amorim. “E no Brasil não será diferente até 2018, o que facilitará o acesso”, prevê.

O Dr. Fábio Franke, vice-presidente eleito para Pesquisa Clínica e Estudos Corporativos da SBOC (gestão 2017/2019), concorda com essa avaliação. “Existe um enorme interesse estratégico no desenvolvimento desses biossimilares, pois 80% dos medicamentos oncológicos são anticorpos monoclonais”, diz. Ele lembra também que o mercado é crescente, tendo em vista a expiração de patentes muito próxima para várias drogas em países como o Brasil.

Segundo o Dr. Gilberto Amorim, ainda existe preocupação com extrapolação de indicações, farmacovigilância, qualidade de manufatura e processo contínuo de distribuição, mas as agências reguladoras estão atentas. “É um caminho sem volta; o acesso será ampliado e os pacientes agradecem”, finaliza.

O Brasil tem números desafiadores na cobertura vacinal contra o Papilomavírus Humano (HPV), uma das principais causas do câncer de colo uterino. Dados do Ministério da Saúde mostram que a vacinação nas meninas está em 46,2% para a segunda dose neste ano. Para os meninos, a vacina foi introduzida em 2017 e o índice é ainda mais baixo: 20,2% até junho. Em ambos os casos, a realidade está muito aquém da meta de 80%.

Nenhuma unidade federativa atingiu a meta em relação às meninas. Dois dos dez Estados mais populosos do país têm os piores índices: Pará (33,1%) e Bahia (33,7%), seguidos de Rio Grande do Norte (36,1%) e Piauí (37,9%). Outros que concentram boa parte da população e estão abaixo da média nacional são Rio de Janeiro (42,4%), Rio Grande do Sul (42,6%), Paraná (42,9%) e Maranhão (46,1%). Na outra ponta, com os maiores percentuais estão Espírito Santo (57,6%), Amazonas (59,6%), Roraima (67,6%) e Distrito Federal (68,3%).

Esses números foram apresentados pela Dra. Ana Goretti Kalume Maranhão, médica coordenadora substituta do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, durante workshop promovido pelo Instituto Oncoguia, no início de setembro. O mês é dedicado à conscientização sobre o câncer ginecológico. A especialista alerta que, entre os municípios, a situação é ainda mais grave. Em praticamente a metade deles, ou 2.802, a cobertura é inferior a 50%. Apenas 4% (226) chegaram à meta de 80%.

Campanha na mídia

Goretti lembra que a vacina contra o HPV é de rotina e está disponível nos 37 mil postos distribuídos pelo país durante o ano inteiro para a população-alvo (veja descrição abaixo). Em março e em setembro, são feitas campanhas na mídia para lembrar as famílias e os adolescentes sobre a importância dessa medida de prevenção. Até o dia 22 deste mês, a mensagem está sendo reforçada nas propagandas do Ministério da Saúde. Sábado, 16, será o dia D da vacinação. Os postos estarão abertos de manhã e à tarde. Além do HPV, todas as outras vacinas do calendário nacional de imunização estarão disponíveis para quem tiver a carteirinha incompleta.

Em meados de agosto, a baixa procura pela vacina contra o HPV fez com que o Ministério da Saúde tomasse uma medida emergencial para não perder 233 mil doses com prazo de validade até setembro. O custo para a União é de R$ 42 a dose. Nas cidades onde há estoque, a vacinação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) passou a incluir mulheres e homens entre 15 e 26 anos.

PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO HPV NO BRASIL: GRUPO-ALVO E ANO

2014

Meninas de 11 a 13 anos

2015

Meninas de 9 a 11 anos e de 15 a 26 anos vivendo com HIV-Aids

2016

Meninas de 9 a 13 anos

2017

Meninas de 9 a 15 anos; meninos de 11 a 14 anos; pessoas de 9 a 26 anos imunodeprimidas

INDICAÇÕES DAS VACINAS CONTRA HPV

 

 

 

 

slide HPV ana kalume

Fonte: Slide da apresentação da Dra. Ana Goretti Kalume Maranhão no evento do Instituto Oncoguia realizado em 04/09/17

Um dos pôsteres de destaque do ESMO 2017 foi sobre resposta de longo prazo ao afatinibe na segunda linha em carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço recorrente ou metastático. O trabalho (1079P) tem como segundo autor Gilberto de Castro Junior, chefe do grupo de Oncologia Torácica e de Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Outros dois brasileiros assinam o estudo: os oncologistas clínicos Ulisses Ribaldo Nicolau, do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo (SP), e Luciano de Souza Viana, do Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga (MG). Na época da participação na pesquisa, este último estava no Hospital de Câncer de Barretos, interior paulista. O trabalho teve como pesquisadores também especialistas da Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Estados Unidos, França, Japão, Itália, Reino Unido e Rússia.

O Dr. Gilberto conta que, quando a cirurgia não é possível, os pacientes com carcinomas epidermoides de boca, laringe e faringe passam por quimio e radioterapia, com 30% de chance de eliminar o tumor. Os outros 70% progridem e precisam ser tratados de novo. Resultados de 2015 mostraram os benefícios do afatinibe na segunda linha para esses pacientes com recidiva ou doença metastática já tratados com cisplatina. Houve um aumento de sobrevida livre de progressão nos pacientes tratados com afatinibe.

O estudo deste ano levantou que, após este período, 11 pacientes entre os 322 do grupo afatinibe estavam vivos (3,4%) ante 3 de 160 do outro grupo (1,9%). A mediana de sobrevida global dos 11 citados foi de 1,5 ano, enquanto sem o afatinibe era de três a seis meses. Os pesquisadores, então, decidiram investigar quais eram as características desses 11 respondedores de longo prazo.

A maioria tinha respondido ao medicamento (oito tiveram alguma diminuição do tumor), 45% receberam linhas posteriores de tratamento, 77% tinham amplificação do EGRF, entre outras características biológicas comuns, como baixa expressão de HER3.

“Foi uma análise exploratória com o objetivo de entender qual o perfil desses pacientes de melhor resposta, o que poderá guiar outras investigações nesta linha”, afirma o Dr. Gilberto de Castro Junior. O resumo foi apresentado na última segunda-feira (11), em Madri.

Tumor desmoide e em reto baixo

A Dra. Juliana Ominelli, oncologista clínica do Hospital do Câncer IV, unidade do Instituto Nacional de Câncer (Inca) dedicada a cuidados paliativos, foi ao ESMO 2017 para a apresentação de dois resumos. O primeiro é sobre tumor desmoide (1495P), cujo tratamento continua sendo controverso. Os pesquisadores descreveram a experiência de tratar 23 pacientes com quimioterapia de baixa dose (vinblastina e metotrexato). Os resultados foram sobrevida livre de progressão de 29 meses, doença estável em 60,8% deles, resposta parcial em 17,3% e progressão de doença durante o tratamento em 21,7%.

Segundo a oncologista clínica, a quimioterapia de baixa dose pode ser uma estratégia para esses pacientes, sendo bem tolerada e com benefício clínico. “Geralmente, deixamos a quimioterapia para aqueles pacientes que têm lesão extensa e sintomática, que progrediram com tratamento hormonal (tamoxifeno)”, explica a Dra. Juliana. “A quimioterapia mais usada nesses tumores pode afetar o coração (doxorrubicina). Assim, esta quimioterapia de baixa dose, com poucos efeitos colaterais, pode ser uma excelente opção”, completa.

Outro resumo apresentado pela Dr. Juliana Ominelli no congresso europeu foi sobre a experiência do Inca em relação ao “watch and wait” (WW) versus cirurgia com resposta patológica completa. O tratamento não cirúrgico, segundo a médica, é especialmente interessante para pacientes com tumor em reto baixo, em que a cirurgia tende a ser mais agressiva e com maior morbidade.

O trabalho (603P) compara pacientes tratados com a abordagem mais conservadora e aqueles que, à cirurgia, não tinham evidência da doença. A recidiva local foi três vezes maior nos pacientes em WW, mas a recidiva sistêmica foi semelhante. Os pesquisadores observaram sobrevida livre de progressão pior no grupo do WW, mas sem diferença na sobrevida global. A maior parte (62,5%) dos pacientes manteve a resposta clínica completa, sem necessidade de cirurgia. Dos que apresentaram recidiva, mais de 60% foram submetidos a cirurgia de resgate.

A conclusão é que “watch and wait” tem maior risco de recidiva; contudo, pode evitar uma cirurgia agressiva e com muitas morbidades em pacientes selecionados. “Os pacientes devem ser acompanhados de forma estrita para diagnóstico precoce de recidiva”, finaliza a Dra. Juliana Ominelli.

O estande da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) marcou presença pela primeira vez no Annual Congress of the European Society for Medical Oncology (ESMO 2017) valorizando ainda mais o acordo educacional e científico entre as duas instituições. O evento aconteceu em Madri, Espanha, de 8 a 12 de setembro. Dezenas de associados aproveitaram as condições especiais para se filiar à ESMO. A Dra. Rachel Riechelmann, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do AC Camargo Cancer Center, inscreveu-se ali mesmo. “Levou menos de cinco minutos”, descreve. “No mesmo momento, me identificaram como associada SBOC e só precisei atualizar o cadastro que eu já tinha”, explica a médica.

A associada teve a opção de pagar 50 dólares por um ano de membership ou 100 dólares por três anos. Entre as vantagens descritas por ela, estão o acesso direto à revista científica (Annals of Oncology), o desconto significativo para inscrição no congresso anual da ESMO e em outras atividades educacionais da sociedade europeia. “Outro benefício superconveniente para quem vai ao evento é o ESMO Lounge, espaço onde há alimentação gratuita durante o dia todo; você acaba economizando muito”, destaca a Dra. Rachel Riechelmann.

Os estandes da SBOC e da ESMO eram bem próximos fisicamente (veja fotos), o que facilitou ainda mais o acesso. “Era um fast track mesmo, fácil, rápido e sem burocracia”, descreve o gerente educacional da SBOC, Dr. Renan Clara.

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O espaço oficial da ESMO visto a partir do estande da SBOC

Divulgação e liderança

O estande da SBOC na Society Village atraiu visitantes do Brasil e também estrangeiros. Oncologistas da Europa, da Índia, da América Latina e dos Estados Unidos interessaram-se pelo XX Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica e por informações sobre os benefícios de ser associado. Segundo o Dr. Renan Clara, tanto eles como muitos brasileiros elogiaram a iniciativa da I Semana Brasileira da Oncologia. Num mesmo período e local no Rio de Janeiro, ocorrerão o evento da SBOC, o XIII Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica e o XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia.

O gerente educacional destaca, ainda, que o estande foi utilizado por membros da SBOC para reuniões de trabalho e também como ponto de encontro. “O balanço da participação da SBOC foi bem positivo, tanto em termos de visitação como de facilidades para os nossos associados e contatos durante o Congresso”, avalia a diretora executiva da SBOC, Dra. Cinthya Sternberg.

Esse foi o primeiro congresso da ESMO depois da assinatura do acordo de reciprocidade com a SBOC. “A presença física com o estande foi excelente para valorizar o acordo”, diz a Dra. Rachel Riechelmann. Para a médica, essa participação traz a SBOC para um nível mundial nos eventos e a parceria com a ESMO consolida a liderança da oncologia brasileira na América Latina. “Colegas do Chile e da Argentina me perguntaram sobre os benefícios; estamos sendo exemplo para nossos vizinhos”, constata.

A ganhadora do sorteio promovido pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) é a Dra. Bruna Migliavacca Zucchetti, de 31 anos, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês (HSL), em São Paulo. Ela ganhou um iPad 32 GB (The new Apple iPad 2017 Model A1822). A promoção SBOC na ESMO teve como participantes associados que estiveram no Annual Congress of the European Society for Medical Oncology (ESMO 2017), em Madri, Espanha. O requisito era postar uma foto em frente ao estande da SBOC com a hashtag #SBOCnaESMO numa de suas redes sociais.

De acordo com o gerente educacional da SBOC, Dr. Renan Clara, a promoção teve 40 participantes. “A iniciativa gerou muita curiosidade por parte dos congressistas e movimentou nosso estande, inclusive na hora do sorteio”, ressalta.

A Dra. Bruna conta que é membro da SBOC desde a residência em Oncologia Clínica, realizada no HSL. “É a minha primeira vinda ao ESMO e fiquei feliz por ser a primeira vez também que a SBOC tem um estande no congresso europeu”, afirma a ganhadora. A oncologista conta que ficou sabendo da promoção pelo e-mail da SBOC enviado na semana passada. “Sempre acompanho as novidades da SBOC pelos e-mails e Facebook”, diz. “Os colegas que vinham para o congresso também comentaram bastante sobre o estande e fiz questão de prestigiar”, destaca.

Segundo a sorteada, o prêmio será muito útil para sua atualização como oncologista. O equipamento é mais adequado para a leitura de estudos e outros textos mais longos em comparação ao celular e tem a mobilidade que falta a um desktop. “O iPad é muito prático, dá para levar na bolsa e usar a qualquer momento do dia”, comenta.

Presença da SBOC

Esse foi o primeiro congresso da ESMO depois da assinatura do acordo de reciprocidade com a SBOC. Durante o evento, os diretores da sociedade brasileira puderam interagir com os líderes da instituição europeia e de outras sociedades nacionais e áreas correlatas para trocar informações e dialogar sobre possíveis parcerias. O estande foi importante como ponto de encontro e para que os visitantes pudessem conhecer melhor o trabalho da SBOC e as vantagens de ser associado.

Assinado em 2016, o acordo SBOC-ESMO prevê benefícios como acesso online direto e assinatura impressa da revista Annals of Oncology com desconto, vagas para preceptorship, simplificação do processo de candidatura para se tornar membro da sociedade europeia e realização de eventos internacionais no Brasil. A SBOC foi a primeira sociedade latino-americana a assinar um acordo como este com a ESMO.

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