Preencha o login e senha para cadastrar uma nova pesquisa clínica ou para editar os dados de uma nova pesquisa já inserida.
São permitidos apenas um login e senha por instituição.
Associado(a), por favor utilize seu CPF cadastrado na SBOC. Caso não se lembre ou não tenha cadastrado antes, entre em contato pelo e-mail [email protected].
Levantamento do A.C. Camargo Cancer Center mostra que os tipos de câncer mais incidentes na faixa de 19 a 40 anos em mulheres são mama, tireoide e colo de útero, somando 64% dos casos; e em homens testículo, tireoide e melanoma, que representam 50% da amostra.
Foram coletados dados dos pacientes atendidos na instituição entre 2000 e 2012. Do total de 17.871 pessoas avaliadas, 4.332 (24,2%) tinham entre 19 e 40 anos e 1.149 (6,4%) estavam com 18 anos ou menos. “Ao contrário do que muitos pensam, câncer não é doença somente de idoso”, ressalta o vice-presidente do A.C. Camargo, Dr. Ademar Lopes. “É preciso estar atento a fatores externos de risco e à possível predisposição hereditária para que o diagnóstico precoce seja alcançado entre os adultos jovens”, aponta.
Sabe-se que 10% dos tumores, em média, têm origem hereditária. Segundo o Dr. Lopes, um número significativo desses casos compreendem pacientes de até 40 anos. “Se duas ou mais pessoas da mesma família apresentam um certo tipo de câncer, com idade inferior a 40 anos, todos os demais devem passar por investigação, pois é alta a chance de a doença ser herdada. O tratamento precoce aumenta a probabilidade de cura”, recomenda o vice-presidente.
Fatores externos causadores de câncer
Os outros 90% dos casos de câncer são causados por agentes físicos, químicos e biológicos. O aumento da incidência de tumor mamário – o mais prevalente entre as pacientes desta casuística – ao longo dos anos é creditado pelo especialista a mudanças no comportamento das mulheres. “Hoje muitas se tornam mães mais maduras do que há décadas atrás, têm menos filhos e amamentam menos. Sabemos que a amamentação, por exemplo, diminui o risco do desenvolvimento do câncer de mama”, afirma.
Sobre o tumor na tireoide, o segundo mais prevalente em ambos os sexos, a maior acurácia das técnicas de diagnóstico nos últimos anos é, segundo o médico, que é cirurgião oncológico, a hipótese mais adequada para explicar o aumento do número de casos.
Já o câncer de colo de útero está ligado diretamente à contaminação pelo papilomavírus humano (HPV), transmitido sexualmente, enquanto o melanoma, que em geral se origina em um nevo (pinta preta), tem seu risco aumentado pela exposição excessiva ao sol.
O câncer de testículo, por sua vez, aparece com destaque no levantamento pelo fato de o A.C. Camargo ser uma referência neste tipo de tumor. “Esta é uma casuística própria da nossa instituição. O fato de sermos um hospital especializado certamente condiciona o perfil dos pacientes tratados aqui”, pondera o Dr. Lopes, ao lembrar que os dados da amostra não correspondem, necessariamente, aos da população como um todo.
A importância do diagnóstico precoce
As chances de sucesso no tratamento podem chegar a 90% quando o diagnóstico é precoce, em qualquer momento da vida. “As taxas de tratamento sem mutilação e com baixo custo não dependem da faixa etária e sim do estadiamento”, explica o médico. “Contudo, esta faixa dos 19 aos 40 anos não pode ser negligenciada. Jovens adultos obesos, fumantes, que se alimentam mal, são sedentários ou têm incidência de câncer na família precisam passar por oncocheck-up periódico”, defende.
Na opinião do especialista, os médicos generalistas que atuam na rede básica de saúde precisam estar atentos a esta necessidade. “O diagnóstico precoce depende desses profissionais, que precisam ser capacitados para pensar ‘oncologicamente’, solicitar os exames corretos, analisar os fatores de risco e o histórico familiar, mesmo entre pacientes jovens”, conclui.
Números divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que a judicialização na saúde é uma rápida bola de neve no Brasil, especialmente no que diz respeito ao tratamento de câncer. Quase 10% das verbas do Ministério da Saúde direcionadas a atender demandas judiciais em 2016 referiram-se à aquisição de medicamentos para tratamento da doença: R$ 10,2 milhões. Confira a lista (em ordem alfabética):
Abiraterona acetato, 250 mg
Alentuzumabe 10 mg/ml
Belimumabe 120 mg
Belimumabe 400 mg
Bevacizumabe, 25 mg/ml, solução injetável
Bortezomibe, 3,5 mg, injetável
Brentuximabe vedotina, 50 mg, pó liófilo p/ injetável
Cabazitaxel, 40 mg/ml, solução injetável
Carfilzomibe 60 mg
Cetuximabe, 2 mg/ml, solução injetável
Everolimo, 10 mg
Everolimo, 5 mg
Gefitinibe, 250 mg
Ibrutinibe, 140 mg
Imatinibe 100 mg
Ipilimumabe 5 mg/ml
Lapatinibe 250 mg
Lenalidomida 10 mg
Lenalidomida 25 mg
Letrozol, 2,5 mg
Metotrexato, 2,5 mg
Nilotinibe, 200 mg
Nivolumabe 10 mg/ml
Obinutuzumabe 25 mg/ml
Panitumomabe, 20 mg/ml, solução injetável
Pazopanibe, 200 mg
Pazopanibe, 400 mg
Pertuzumabe, 30 mg/ml, solução injetável
Ponatinibe 45 mg
Regorafenibe, 40 mg
Sorafenibe tosilato, 200 mg
Sunitinibe, malato, 12,5 mg
Sunitinibe, malato, 25 mg
Sunitinibe, malato, 50 mg
Temozolomida, 100 mg
Temozolomida, 140 mg
Temozolomida, 180 mg
Temozolomida, 20 mg
Temozolomida, 250 mg
Temozolomida, 5 mg
Trametinibe 2 mg
Trastuzumabe, entansina, 100 mg, pó liófilo injetável
Trastuzumabe, entansina, 160 mg, pó liófilo injetável
Vemurafenibe, 240 mg
De modo geral, entre 2010 e 2016, houve um aumento de 1.010% no volume de recursos da pasta destinados ao cumprimento das determinações judiciais sobre a compra de medicamentos diversos, equipamentos, dietas, suplementos alimentares, despesas com cirurgias, internações e depósitos judiciais, num total de R$ 4,44 bilhões em sete anos. A média de crescimento anual neste período foi de 147%. Em 2016, o valor ficou em R$ 1,2 bilhão.
Entre os medicamentos de mais alto custo requeridos judicialmente, segundo o Ministério da Saúde, todos são para tratamento oncológico, entre os quais:
Eculizumabe (Soliris®)
Elosulfase (Vimizim®)
Galsulfase (Naglazyme®)
Atalureno (Translarna®)
Lomitapida (Juxtapid®)
Alfagalsidase (Replagal®)
Idursulfase (Elaprase®)
Inibidor de C1 esterase (Cinryze®)
Metreleptina (Myalept®)
Alfaglicosidase (Myozyme®)
A pasta destaca que metade destas tecnologias com maior impacto no orçamento do Ministério não possuem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): eculizumabe, atalureno, lomitapida, inibidor de C1 esterase e metreleptina.
Perspectivas
Como exemplo de ação “para aumentar o acesso da população a medicamentos de alta tecnologia e otimizar os valores destinados à assistência farmacêutica”, o Ministério da Saúde cita a inclusão do eculizumabe na lista de produtos prioritários para transferência de tecnologia divulgada em janeiro. O objetivo é estabelecer parceria com a indústria farmacêutica para a produção nacional da droga. O contrato determinaria queda imediata de 30% no preço do medicamento. Esta era a medicação mais cara do mundo em 2010, conforme ranking da revista Forbes.
Contudo, entre as dez tecnologias mais requeridas judicialmente no período de 2014 a 2016, oito estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), mas nenhuma delas tem relação com o tratamento de câncer.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) defende a incorporação de diversos medicamentos ao SUS. ”A judicialização tem um impacto significativo na destinação das verbas da saúde. Entendemos que uma forma de reduzir isso é acelerar a incorporação dos medicamentos de valor comprovado, dentro de protocolos de tratamento claramente definidos, que poderiam ser adquiridos por preços mais baixos, em negociações com as indústrias", afirma o Dr. Gustavo Fernandes, presidente da SBOC. Leia mais.
Prezados associados,
Gostaríamos de esclarecer alguns pontos em relação às novas regras para as Representações Regionais, a saber:
- As Regionais ativas atualmente – SBOC-MG, SBOC-NE, SBOC-BA e SBOC-RJ – poderão continuar suas atividades no mesmo modelo em que já vêm operando. E serão as únicas representantes da SBOC Nacional em seus respectivos territórios. Será uma decisão da regional em questão migrar ou não para o novo modelo de funcionamento aprovado em Assembleia.
- Novas Representações Regionais deverão ser fundadas segundo o novo modelo de funcionamento e será mantida a escolha democrática do representante pelos associados de tal região. Caso uma nova Representação Regional ou uma Representação inativa não realize processo eleitoral, a diretoria nacional em exercício poderá indicar um representante, que terá seu turno até o período seguinte de eleição.
- A reunião convocada para o dia 18 de março de 2017 tem como pauta exclusiva a apresentação do novo modelo, assim como os direitos e deveres recíprocos entre a SBOC Nacional e as Regionais (as existentes e as que serão fundadas). Não será realizada, durante o encontro, a eleição/escolha de representantes. Como explicitado acima, o representante deverá ser escolhido democraticamente pelas regiões a serem representadas.
- A reunião é aberta a TODOS os associados da SBOC.
Estamos à disposição para esclarecer quaisquer outras dúvidas.
Abraço cordial,
Gustavo Fernandes
Presidente da SBOC
O medicamento olaparibe (Lynparza®) foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 16 de janeiro, como tratamento de manutenção do câncer de ovário seroso de alto grau recidivado para pacientes com mutação no gene BRCA1 ou BRCA2 e com doença sensível à platina. Devem, portanto, ter recebido quimioterapia baseada em platina e ter apresentado resposta completa ou parcial, com intervalo livre de platina de, no mínimo, seis meses. A indicação inclui carcinoma da trompa de Falópio e carcinoma peritoneal primário. O medicamento está em fase de precificação pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e deve estar disponível para compra nos próximos meses.
De acordo com a presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, Dra. Angélica Nogueira, 15% a 20% das pacientes com câncer de ovário têm o perfil adequado para esta indicação do olaparibe. “A disponibilização deste medicamento no mercado brasileiro representa aumento significativo das chances de controle da doença”, avalia a oncologista, que é membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Estudo randomizado, duplo-cego, fase 2, publicado no The Lancet Oncology, em 2014, mostrou que a terapia com olaparibe prolongou de forma significativa a sobrevida livre de progressão mediana, em comparação ao placebo, nas pacientes com câncer de ovário e mutação do gene BRCA: 11,2 meses vs 4,3 meses (HR 0,18). Os efeitos adversos grau 3 mais comuns foram fadiga (7% para o grupo olaparibe vs 3% para o grupo placebo) e anemia (5% para o grupo olaparibe vs <1% para o grupo placebo. A tolerabilidade do tratamento foi similar entre as pacientes com a mutação do BRCA e a população geral do estudo.
Em uma terceira análise deste estudo, publicada em setembro de 2016, foi observada uma vantagem na sobrevida global em todos os grupos que receberam olaparibe, mas sem atingir significância estatística. A SG mediana foi de 29,8 meses para o grupo olaparibe vs 27,8 meses para o grupo placebo e, nas pacientes com BRCA mutado, 34,9 meses para o grupo olaparibe vs 30,2 meses para o grupo placebo. Dentre as 74 pacientes com mutação de BRCA do grupo olaparibe, 11 (15%) receberam o tratamento de manutenção por cinco anos ou mais. Os resultados finais ainda são aguardados.
Com comportamento agressivo e inespecífico, o câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de maior mortalidade. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 75% dos casos são diagnosticados em fase avançada. Em 2016, a estimativa era de 6.150 novos casos no Brasil. No ano de 2013, a doença causou 3.283 mortes no país.
Segundo a Dra. Angélica Nogueira, como a maioria das pacientes apresenta-se com doença avançada ao diagnóstico, a taxa de recidiva é alta: 80% das pacientes com câncer epitelial de ovário que passam por cirurgia e quimioterapia tradicional têm recidiva da doença e poderiam ser submetidas ao teste genético para avaliar a possibilidade de receberem inibidor de PARP.
Atraso em relação a outros países
O olaparibe foi aprovado em 2014 pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para esta mesma indicação de segunda linha, isto é, quando há recidiva. O órgão regulador americano Food and Drug Administration (FDA) também liberou esta droga para uso isolado em pacientes politratadas. No próximo mês, serão apresentados no congresso da Society of Gynecologic Oncology (SGO) os resultados de um estudo randomizado que avaliou olaparibe para tratamento de tumores ovarianos em estágio inicial.
“Esta nova era de terapias alvo-direcionadas para tratamento do câncer está proporcionando avanços fantásticos e gera uma expectativa muito positiva na comunidade médica, mas não ter as medicações liberadas no Brasil com agilidade limita a atuação médica e as possibilidades para os pacientes”, avalia a Dra. Angélica Nogueira. “Esperamos que as aprovações pela Anvisa sejam aceleradas, inclusive porque essas medicações permitem tratamentos específicos, o que é vantajoso inclusive do ponto de vista do custo-efetividade”, defende a especialista.
A Dra. Angélica conta, ainda, que há outros estudos em curso de drogas inibidoras da enzima PARP, como é o caso do olaparibe, com resultados iniciais positivos e que podem vir a reforçar o arsenal de medicamentos para o câncer ovariano.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) terá representações regionais a partir deste ano. O grupo que se interessar em representar uma região ou Estado, na pessoa de um oncologista, precisa entrar em contato com a SBOC até 3 de março. Aqueles que formalizarem sua participação deverão comparecer à reunião no dia 18 de março, em São Paulo (SP), onde serão explicadas as condições para fundação da representação regional.
Outras informações estão disponíveis no comunicado a seguir:
Prezado Associado,
A partir de 2017 não teremos mais Regionais da SBOC, mas sim representações regionais, forma mais simplificada de funcionamento da SBOC em sua região.
O grupo que se interessar em ter a representação, na pessoa de um colega oncologista, deverá manifestar-se junto à SBOC, a fim de participar da reunião que acontecerá em 18 de março de 2017, na cidade de São Paulo, Hotel IBIS Aeroporto de Congonhas, às 10h.
A SBOC Nacional arcará com as despesas de um representante por região/Estado, representante este que deverá ser devidamente apresentado à Srta. Tatiane, funcionária da SBOC, até o dia 3 de março de 2017, pelo telefone (31) 3241-2920, para operacionalização da viagem.
Na reunião, serão explicadas as condições para fundação da representação, uma vez que não serão fundadas novas regionais, mas sim representações regionais, como já explicitado.
As regionais existentes e/ou inativas que quiserem se transformar em representações também poderão participar.
Contamos com vocês!
Um abraço,
Gustavo dos Santos Fernandes
Presidente SBOC
Até 10 de março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebe contribuições da sociedade sobre sua Agenda Regulatória para o quadriênio 2017-2020. Qualquer pessoa ou instituição pode se manifestar sobre problemas relacionados à área de atuação da Anvisa ou questões como inovações, novas doenças e outras situações de emergência em saúde pública.
Uma novidade da nova agenda é a definição de temas prioritários a partir da identificação de problemas. Os participantes podem descrever um determinado problema que enfrentam, quem são os sujeitos afetados e quais as consequências, e correlacioná-lo a temas já definidos pelo órgão regulador (serviços de saúde, medicamentos e insumos farmacêuticos, entre outros).
Para saber mais, acesse http://portal.anvisa.gov.br/saiba-mais2.
O Relatório 2017 da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), divulgado recentemente, destaca que, em apenas um ano (de novembro de 2015 até outubro de 2016), a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos aprovou oito novos tratamentos e 12 novos usos de terapias contra o câncer.
As novas aprovações incluem imunoterapias para câncer de bexiga e mieloma múltiplo e tratamentos direcionados para formas difíceis de tratar de câncer de pulmão e rim, leucemia linfocítica crônica (CLL) e mieloma múltiplo. As aprovações de uso novo ampliaram as opções de tratamento para pacientes com melanoma, sarcoma, CLL, linfoma, tumores neuroendócrinos e câncer de mama, pulmão, rim e cabeça e pescoço.
Imunoterapia 2.0
A chamada Imunoterapia 2.0 é considerada o grande avanço do ano de 2016 por melhorar significativamente a vida dos pacientes, muitos dos quais tinham poucas opções de tratamento eficaz. “Os inibidores de pontos de verificação imunológicos (‘checkpoints’) têm sido particularmente eficazes contra uma série de diferentes tipos de câncer”, destaca o relatório.
O FDA aprovou, no ano passado, imunoterápicos para formas avançadas de câncer de pulmão, rim, bexiga e cabeça e pescoço, como Linfoma de Hodgkin. “Muitos acreditam que esta primeira onda de sucesso é apenas o começo”, diz o texto.
Segundo o relatório, o próximo passo é entender por que menos da metade dos pacientes se beneficia do tratamento com esses novos imunoterápicos e por que, em alguns casos, o benefício pode ser de curta duração. Destacaram-se em 2016 estudos sobre biomarcadores que poderiam apontar se uma imunoterapia tem maiores chances de funcionar em um determinado paciente (terapia individual).
“Enquanto tentamos identificar quem pode se beneficiar, também estamos explorando se combinar tratamentos de imunoterapia entre si ou com outros tratamentos contra o câncer, como radioterapia e quimioterapia, pode estender o impacto desse novo grupo de terapias”, aponta o Relatório ASCO 2017.
Mutações genéticas
Compreender a biologia do câncer para identificar mutações genéticas que predispõem as pessoas para diferentes tipos da doença foi um dos grandes desafios de 2016, de acordo com a ASCO.
Também no ano passado, o FDA aprovou o primeiro teste de biópsia líquida, que pode ajudar a determinar mudanças tanto na quantidade de carga tumoral quanto no genótipo e fenótipo do câncer ao longo do tempo.
Câncer pelos números
A publicação enfatiza que a Organização Mundial da Saúde estima para as próximas duas décadas 22 milhões de novos casos ao ano, contra 14 milhões em 2012. No mesmo período, as mortes relacionadas ao câncer podem aumentar em até 70%. Sete das 10 mortes causadas por câncer ocorrem na África, Ásia e América Central e do Sul, regiões do mundo com acesso limitado ao rastreio e ao tratamento da doença.
A boa notícia é que, hoje, 68% dos adultos e 81% das crianças com câncer estarão vivos pelo menos 5 anos após o diagnóstico. Esta é uma grande melhoria da década de 1970, quando apenas 50% dos adultos e 62% das crianças sobreviviam por este tempo.
Estudo dinamarquês publicado este ano trouxe de volta a discussão sobre o sobrediagnóstico (“overdiagnosis”) em câncer de mama. O artigo de Jorgensen et al., publicado no Annals of Intern Medicine, concluiu, após 17 anos de seguimento, que o rastreamento em câncer de mama não se associou a uma redução de incidência de câncer avançado e que, provavelmente, 1 em cada 3 casos de tumores invasivos e in situ diagnosticados em mulheres submetidas ao rastreamento representam casos de sobrediagnóstico.
No Brasil e mesmo em outros países da Europa ou nos Estados Unidos, até o momento, a conduta-padrão é, uma vez detectado o tumor, tratá-lo adequadamente.
“Ao encontrar uma determinada lesão, ainda não temos condições de afirmar se a sua evolução será para um tumor maligno agressivo ou para um nódulo dormente que não representa risco”, explica o oncologista clínico Sergio Simon, médico há 36 anos no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).
Segundo o especialista, o aumento da capacidade dos exames radiológicos de identificar lesões cada vez menores leva à maior frequência do diagnóstico de câncer de mama. Em sua visão, milhares de mulheres com acesso aos programas de rastreamento, quando há um diagnóstico de câncer de mama, passam por cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia e, graças ao tratamento, têm suas vidas poupadas.
“Entre os tumores pequenos, de baixo grau, 5% a 10% são de crescimento lento e não incomodariam as pacientes ao longo do tempo. Mas, normalmente, surgem outras lesões que precisam ser tratadas”, afirma o Dr. Sergio Simon. “Ocorrem, sim, tratamentos desnecessários. No entanto, hoje não sabemos como diferenciá-los daqueles que são fundamentais para evitar a doença”, enfatiza.
Testes para inferir evolução dos tumores são a esperança
Esta diferenciação entre os tumores dormentes e os que se tornarão agressivos é o grande desafio dos pesquisadores em todo o mundo. Para evitar excessos, os médicos precisariam adaptar o tratamento das lesões às características histológicas e moleculares de cada caso. Dessa forma, a detecção inicial continuaria sendo indispensável para fornecer informações sobre como prevenir um eventual câncer de mama agressivo ou até mesmo letal.
Contudo, estes testes moleculares ou genômicos capazes de determinar com precisão de que maneira cada tumor deve se desenvolver ainda não são uma realidade no Brasil nem em outros países. “Representam uma esperança para o futuro”, avalia o Dr. Sergio Simon. “Por enquanto, mantemos a conduta de tratar todas as lesões potencialmente agressivas e também temos muito a evoluir, em nosso país, no acesso ao rastreamento e na qualidade dos exames de imagem”, completa.
Autonomia da paciente na decisão sobre o tratamento de câncer
Uma das estratégias indicadas para minimizar o risco de sobrediagnóstico e/ou sobretratamento, conforme editorial do Journal of the American Medical Association (JAMA) publicado há dois anos, é “reavaliar se as calcificações amorfas agrupadas devem ser alvo de rastreio, novos exames e biópsia, especialmente em mulheres mais velhas”.
O Dr. Sergio Simon conta que as pacientes são informadas sobre seu caso e a conduta indicada, participando da decisão ao assinar ou não o termo de consentimento informado. Na experiência dele, é raro uma paciente decidir não se tratar com base na possibilidade de sobrediagnóstico.
Conforme relata o oncologista, diagnosticar uma lesão com potencial evolução para câncer e não realizar o tratamento é mais comum realmente em pacientes idosas, quando a biópsia mostra um tumor de baixa agressividade naquele momento. “Há situações em que a paciente apresenta outras comorbidades, indicando pior cenário se ela for exposta a cirurgia ou a terapias com efeito colateral significativo”, lembra. “Cada caso merece uma avaliação criteriosa. A idade por si só não é um fator determinante para esta decisão, pois há mulheres mais velhas com tumores muito agressivos”, pondera o Dr. Sergio Simon.
Como o título sugere, a cartilha, escrita pelo oncologista clínico Claudio Ferrari, é um guia prático para prevenção do câncer. Com orientações para as diferentes fases da vida - crianças, pré-adolescentes e adolescentes, jovens e adultos e adultos e idosos – o material chama a atenção para que os cuidados com a prevenção do câncer se iniciem já na infância.
As dicas vão desde vacinação, alimentação e cuidados com o sol até a importância dos exercícios físicos para a prevenção do câncer e da realização de exames para a detecção precoce de tumores.
A Rede Brasileira de Câncer Hereditário (ReBraCH) e a revista Genetics and Molecular Biology publicaram, recentemente, um fascículo especial sobre oncogenética. Os artigos têm acesso livre e estão indexados no Pubmed.
Acesse os artigos sobre câncer hereditário aqui.
Pesquisas desenvolvidas no Brasil são objeto de alguns dos textos, como “Rearranjos de BRCA1 e BRCA2 em indivíduos brasileiros com Síndrome Hereditária do Câncer de Mama e Ovário”, “Prevalência de manchas ‘café com leite’ em crianças com tumores sólidos” e “Seleção de mutações germinativas BRCA1, BRCA2, TP53 e CHEK2 em famílias com risco de câncer de mama hereditário identificadas em um estudo populacional do Sul do Brasil”.
Outros estudos realizados em nosso país e publicados neste número especial são “Pacientes com câncer de mama de início precoce no Sul e Sudeste do Brasil devem ser testados para a mutação TP53 p.R337H” e “Comparação de múltiplos métodos de genotipagem para a identificação da mutação fundadora predisponente ao câncer p.R337H em TP53”.
Além disso, dois dos artigos discutem o sequenciamento de nova geração (NGS): um sobre perspectivas na avaliação hereditária do risco de câncer e o segundo a respeito de CDH1 em pacientes com câncer gástrico do norte do Brasil identificada a partir desta técnica.
História e perspectiva sobre a pesquisa em câncer hereditário
A publicação especial do periódico Genetics and Molecular Biology traz os aspectos históricos da ReBraCH e comenta os desafios para a oncogenética no Sistema Único de Saúde (SUS) e na saúde suplementar no Brasil. O desenvolvimento do estudo do câncer hereditário na América do Sul também é um dos destaques. Por fim, o leitor pode conhecer a experiência do Hospital de Câncer de Barretos e seu serviço de oncogenética no atendimento ao SUS.
Fundada em 2005, a Rede Brasileira de Câncer Hereditário tem como objetivos desenvolver estudos e promover boas práticas em oncogenética. Segundo a médica geneticista Patrícia Ashton-Prolla, coordenadora da Rede, desde 2013, e também integrante da equipe de genética e câncer do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, entre 10% e 20% dos casos de câncer têm origem hereditária. “Nosso empenho é descobrir quais, enfocando a prevenção”, explica. “Por isso, a ReBraCH faz um intenso trabalho de divulgação entre os colegas e de treinamento com os médicos residentes no sentido de reconhecer os casos suspeitos”, completa a pesquisadora.
Outra frente de atuação da Rede, segundo ela, é ampliar o acesso de pacientes em risco aos testes de DNA para investigar câncer hereditário nos sistemas de saúde público e privado.
Onze instituições integram a Rede Brasileira de Câncer Hereditário, todas elas ligadas integralmente ou em parte ao Sistema Único de Saúde:
Os oncologistas que quiserem saber mais sobre a ReBraCH ou precisarem tirar dúvidas sobre oncogenética podem escrever para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..