Nesta sexta-feira, 7 de março, véspera do Dia Internacional da Mulher, dezenas de pessoas estiveram no evento Mulheres em AntecipAÇÃO: Conhecimento é Poder, realizado no Teatro Unimed, em São Paulo (SP). O evento foi organizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em parceria com os Grupos Brasileiros de Tumores de Mama (GBECAM), Ginecológicos (EVA), Torácicos (GBOT) e Gastrointestinais (GTG).
Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira demonstrou satisfação com a realização em conjunto de um evento multidisciplinar voltado não apenas a médicos, mas também à sociedade civil. “É a primeira vez que essas instituições deram a mão para realizar uma discussão dessa maneira. Que possamos aumentar nossa força juntos, levando também ao governo o nosso debate”, comentou.
Parte da necessidade de mais discussões sobre conscientização e prevenção do câncer foi apresentada pela oncologista clínica. Segundo números que apresentou, compilados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é esperado que o número de casos de câncer globais passe de 18,1 milhões (2018) para 29,5 milhões (2040) – um aumento de 63% em 22 anos.
O evento, voltado ao público feminino, focou nos tumores mais prevalentes nas mulheres. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), eles são: mama (30% do total de tumores), cólon e reto (9,7%), colo do útero (7%) e pulmão (6%).
Apesar da comunidade internacional estar cada vez mais discutindo a saúde feminina, a presidente da SBOC crê que ainda não se reconhece adequadamente o impacto desproporcional que um diagnóstico de câncer tem na vida das mulheres assim como as consequências que isto tem para a sociedade como um todo.
Números indicam que 4,4 milhões de mulheres morrem a cada ano, deixando mais de um milhão de órfãos, com impacto maior em países em desenvolvimento. Destes órfãos, 25% estão relacionados a mães com câncer de mama.
Também há uma associação entre moralidade materna e infantil. “Por exemplo, tem sido estimado que por cada 100 mulheres que morrem de câncer de mama ou colo de útero na África, entre 14 e 30 crianças devem morrer como consequência”, adicionou Dra. Angélica Nogueira.
Também há aspectos sociais e econômicos a serem discutidos. Apenas o câncer de mama metastático, em 2015, resultou em perda de produtividade de US$ 6,6 bilhões somente nos Estados Unidos devido a dias sem trabalhar e/ou mortalidade prematura. “Sociedades que cuidam das mulheres são mais saudáveis e produtivas por gerações no futuro”, disse a presidente da SBOC.
Câncer de colo do útero
Quem conduziu a sessão sobre tumores uterinos foi Dra. Andrea Gadêlha, presidente do Grupo EVA. Ela ressaltou que um evento como este tem a missão de levar informação de qualidade para mulheres. “Aqui, temos capacidade de transformação. Cada uma de nós podemos ser sementes para proliferar este conteúdo para pessoas próximas, amigos e família, mudando essa realidade.”
O câncer de colo do útero é o quarto mais comum entre mulheres, apresentando mais de 660 mil novos casos e 350 mil mortes em 2022 globalmente. Dos óbitos, 95% ocorreram em países de baixo e médio rendimento, com taxas mais elevadas na África Subsaariana, na América Central e no Sudeste Asiático. Assim como o câncer de mama, muitas crianças são prejudicadas pela mortalidade desse tumor. Cada um entre cinco órfãos de mães com tumores está relacionado ao câncer de colo uterino.
Particularidade desta doença é a sua possibilidade de erradicação. Por isso, a comunidade internacional assumiu compromisso de eliminá-lo. A OMS definiu como meta quatro ou menos casos por 100 mil mulheres.
A prevenção se dá, sobretudo, por meio da vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV). Estima-se que até 50% das pessoas sexualmente ativas terão infecções pelo vírus antes dos 50 anos. Enquanto isso, a infecção persistente não tratada causa 95% dos casos do câncer de colo do útero.
“Normalmente, são necessários de 15 a 20 anos para que as células anormais se transformem em câncer, mas em imunodeprimidos o processo pode ser mais rápido e demorar de 5 a 10 anos”, explicou a Presidente do Grupo EVA. Sobre rastreamento, Dra. Andrea Gadêlha também ressaltou a importância do teste molecular contra o HPV, disponível no SUS, e os exames de Papanicolau, que apesar de enfrentar alguns estigmas, ainda é um aliado importante para esse detecção.
Câncer de mama
Dra. Gisah Guilgen, diretora do GBECAM, iniciou dizendo que um dos grandes problemas do câncer de mama é que muitas mulheres demoram para buscar ajuda por vergonha, medo e insegurança. “Isso faz com muitas vezes a doença evolua ainda mais, trazendo piores diagnósticos. Por isso, temos que disseminar conhecimento, verdade e ciência”, disse.
Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama feminino é o mais incidente no país e em todas as regiões. Segundo a OMS, globalmente, nos próximos 25 anos as mortes mundiais devem crescer 68%. No Brasil, este número deve chegar a 73,4%, atingindo 38,5 mil vidas perdidas em 2050.
“Todas as mulheres podem ter câncer de mama, mas há fatores modificáveis e os não. Entre estes, estão mutações genéticas, história familiar em parentes de 1º grau, radiação prévia em tórax, alta densidade mamária, início da menstruação com menos de 12 anos ou menopausa tardia com mais de 55”, detalhou Dra. Gisah.
Entre os que podem ser controlados estão: manter atividade física, evitar obesidade (com índice de massa corporal menor do que 25), evitar consumo de álcool, ter feito reposição hormonal e não ter engravidado com menos de 30 anos ou não ter amamentado.
“O histórico reprodutivo é importante, pois é na gravidez que ocorre a última fase de amadurecimento da mama. Além disso, durante a amamentação a mulher não menstrua, ou seja, não está sob estímulo hormonal de estrogênio e progesterona”, explicou a diretora do GBECAM.
Sobre sintomas, a fase precoce não apresenta nenhum. Ainda assim, a especialista recomendou que as mulheres palpem suas mamas, com o intuito de conhece-las melhor e verificar variações naturais. No caso de alterações, é necessário procurar atendimento.
“Também se recomenda mamografia para mulheres a partir de 40 anos – em pacientes com alto risco, iniciar 10 anos antes. Ultrassonografias são reservadas para pacientes com mamas densas ou na presença de sintoma em mulheres de menos de 25 anos. Já a ressonância magnética, se recomenda, quando possível, para mulheres de alto risco”, resumiu Dra. Gisah.
Câncer de pulmão
Dr. Vladmir Cordeiro, presidente do GBOT, lembrou de apesar de o câncer de pulmão ser o mais comum e o com maior mortalidade global no Brasil, poucas vezes é discutido e ainda não faz parte das políticas de rastreamento do sistema público. “A ideia do nome do evento trazer a palavra antecipação tem relação com a necessidade de pacientes souberem dessas informações ao terem contato com os generalistas que comumente os atende”, explicou.
Globalmente, os tumores pulmonares têm 908 mil casos e 584 mil óbitos, sendo o segundo mais impactante entre as mulheres no mundo inteiro. “Estes casos estão crescendo entre as mulheres, que apresentaram tendência de começarem a fumar mais tarde na sociedade”, explicou Dr. Vladmir.
Este é um tumor essencialmente ligado ao tabagismo. Um a três de cada 10 fumantes irá desenvolver o câncer de pulmão até os 75 anos. Apesar da redução do hábito no país, ainda 9,3% dos brasileiros são tabagistas. Apesar disso, dados recentes que de 15% a 25% dos casos estão ocorrendo em não tabagistas.
“Parte disso se deve à poluição do ar e também ao fumo passivo. Entre as recomendações de prevenção, estão: parar de fumar o quanto antes possível. Não usar outras formas de tabaco, como ‘vapes’, narguilé, charutos, cachimbos etc. Fazer exercícios, comer frutas, verduras e legumes frescos, beber água e dormir”, listou o presidente do GBOT.
Câncer colorretal
Os tumores de cólon e reto, segundo o Instituto Nacional de Câncer, têm mais de 23 mil casos anuais entre mulheres brasileiras, o segundo maior índice. No mundo, segundo a OMS, são mais de 856 mil casos anuais – o terceiro mais recorrente entre mulheres.
Dra. Maria Ignez Braghiroli, conselheira fiscal do GTG, explicou que entre os fatores de risco principais estão os pólipos, que podem ser decorrentes de síndromes como a de Lynch, a Peutez-Jeghers, entre outras, bem como fibroses císticas. Histórico pessoal e familiar de doenças como síndrome de Chron, doença intestinal inflamatória e colite ulcerativa também afetam essas chances. Por fim, gênero e etnia também são fatores de risco: há maior incidência em homens negros.
Há fatores controláveis, como evitar a obesidade, o consumo a longo prazo de carne vermelha e processada, bem como o uso de tabaco e álcool. “Por isso, a dieta é um elemento protetor. É fácil recomendarmos, até pela dificuldade de valor de alimentos saudáveis, mas é realmente importante. Além disso, a atividade física pode reduzir o risco do câncer colorretal em 27%”, explicou Dra. Maria Ignez.
A especialista acredita que o rastreamento deve ser feito entre 45 a 75 anos, em pacientes com histórico familiar de condições que oferecem predisposição. Para isso, se recomenda, de maneira geral, colonoscopia a cada dez anos, exame fecal a cada um entre três anos, e tomografia a cada cinco anos.
“Como perspectiva final, deixo a mensagem que essa é uma doença frequente, mas se diagnosticada precocemente, apresenta chances de curas elevadas e tratamentos menos mórbidos. Existem hábitos de vida que podem reduzir o risco de desenvolver o câncer colorretal. E: o melhor rastreamento é o que é factível e praticado”, concluiu a representante do GTG.
Após as apresentações, houve debate entre os presentes com sessão de perguntas da plateia. O bate-papo foi conduzido por Lucia Helena de Oliveira, jornalista especializada em coberturas na área da Saúde. O encontro foi finalizado com um coquetel entre palestrantes e participantes.
Confira galeria do evento:
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https://sboc.org.br/noticias/item/3640-sboc-inova-em-parceria-com-grupos-colaborativos-e-reune-mulheres-para-debate-sobre-tumores-femininos#sigProId5fa6d0ce3c