Aproximadamente 50% das recorrências dos tumores de mama receptor hormonal positivo acontecem após cinco anos de seguimento. Enquanto o tempo de terapia com tamoxifeno ou tamoxifeno seguido de inibidor de aromatase já parece bem definido, ainda restam dúvidas quanto a duração ideal de hormonioterapia adjuvante com inibidor de aromatase (IA). Três grandes estudos fase III randomizados, DATA, IDEAL E NASPB B-42, apresentados no último San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS), tentaram responder essa questão.
“Desde o congresso da ASCO, em junho, quando uma pesquisa sugeriu dez anos de uso desses medicamentos, em vez de cinco, para que houvesse menos chances de recidiva, estávamos nos perguntando se a indicação era para todas as pacientes”, explica o oncologista clínico Gilberto Amorim, membro da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). “Os estudos apresentados em San Antonio trouxeram informações relevantes sobre o tema, mostrando que o benefício de estender o uso dos inibidores de aromatase por dez anos é pequeno em vista de todo o acompanhamento necessário e gastos que isso exige”, diz.
DATA
No estudo DATA, 1912 mulheres pós-menopáusicas, que haviam completado de dois a três anos de tratamento adjuvante com tamoxifeno, foram randomizadas para receber três ou seis anos de anastrozol. A sobrevida livre de progressão (SLP) para as pacientes que receberam seis anos foi 83,1%, enquanto 79,4% das pacientes que receberam três anos permaneceram sem doença, uma diferença sem significância estatística. No entanto, a análise de subgrupos mostrou um benefício ao redor de 5% a 6% na sobrevida livre da doença adaptada para as pacientes com tumores grandes (pT2 ou >), linfonodos positivos, com receptores de estrógeno e progesterona positivos, HER2 negativo e com quimioterapia prévia (neo ou adjuvante).
Na opinião dos pesquisadores, os primeiros resultados do estudo DATA não suportam o adjuvância estendida com IA para todas as pacientes. Os dados preliminares sugerem benefício apenas para um grupo selecionado de pacientes.
IDEAL
Já o estudo IDEAL randomizou 1824 pacientes de 74 hospitais da Holanda entre 2007 e 2011. O objetivo do estudo foi investigar a duração da adjuvância estendida com letrozol por dois anos e meio ou cinco anos, após cinco anos de adjuvância com um dos três esquemas de tratamento: tamoxifeno, IA ou tamoxifeno seguido de IA. O objetivo primário do estudo era SLP. A sobrevida global (SG) listava entre os objetivos secundários. O seguimento médio foi de seis anos e meio.
As análises preliminares não mostraram diferença entre os dois grupos em termos de SLP, nem de SG. Os autores concluíram não haver benefício em estender a adjuvância com IA por mais de dois anos e meio. Foi observada diferença com significância estatística apenas na prevenção de segundo tumor primário de mama
NSABP B-42
O terceiro estudo apresentado foi o do National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project B-42 (NSABP B-42). O objetivo foi avaliar se cinco anos de letrozol aumentava a SLP em pacientes que haviam completado hormonioterapia adjuvante com cinco anos de IA ou tamoxifeno seguido de IA. O objetivo primário do estudo era a SLP, estando a SG entre os objetivos secundários.
De setembro de 2006 a janeiro de 2010, 3.966 pacientes foram randomizadas para 2,5 mg de letrozol ou placebo diariamente durante cinco anos. O tempo médio de seguimento foi de 6,9 anos. A SLP foi de 84,7% para letrozol e 81,3% para o placebo, HR= 0,85, sem significância estatística (15% de redução). Também não houve diferença em SG com letrozol x placebo. Entretanto, foi observada redução com significância estatística no índice de recorrência a distância (28%) e no intervalo livre de câncer de mama (29%).
A análise de subgrupos sugere que pacientes mais jovens, com linfonodos positivos e que receberam previamente tamoxifeno (sem exposição prévia a IA) podem se beneficiar do tratamento estendido.
Benefício questionável
“A mensagem desses estudos, se os observamos de forma combinada, é que nem todas as pacientes pós-menopáusicas em tratamento anti-hormonal e que tiveram câncer de mama receptor positivo devem tomar dez anos de inibidores de aromatase”, afirma o Dr. Amorim. “O oncologista precisa levar em consideração o risco residual de recidiva em face do laudo original da paciente, os efeitos colaterais durante o uso, a idade da paciente, sua saúde geral e, em especial, sua saúde óssea, pois o benefício de prolongar a medicação por mais de cinco anos, de forma indiscriminada, é questionável”, conclui.